(Reuters) – As vendas varejistas no Brasil tiveram em abril o primeiro resultado negativo para o mês em quatro anos e iniciaram o primeiro trimestre sob pressão de supermercados, em meio às dificuldades da economia e do mercado de trabalho do país em deslanchar.

As vendas no varejo tiveram em abril queda de 0,6% na comparação com o mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.

Essa é a primeira contração para o mês desde 2015, quando houve queda de 1%, e também o dado mais fraco desde dezembro (-2,5%).

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o setor apresentou avanço de 1,7% nas vendas, dado mais baixo para abril desde 2017, quanto houve ganho pela mesma taxa.

Os resultados foram mais fracos do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de estabilidade na comparação mensal e de alta de 2,85% na base anual.

 

“A queda do comércio reflete o ambiente econômico em geral, a perda da confiança que afeta o poder de compra e o apetite por consumo, e faz com que as pessoas foquem na compra do que é essencial”, explicou a gerente da pesquisa, Isabella Nunes.

O IBGE explicou que, entre as oito atividades pesquisadas, cinco tiveram resultados negativos, sendo os destaques a queda de 1,8% nas vendas de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e a de 5,5% de Tecidos, vestuário e calçados (-5,5%).

“Em abril, nem a Páscoa salvou o comércio. Nossas informações mostram que os pequenos negócios, como padarias, mercearias e hortifrutis, que têm menos poder de barganahs com fornecedores e menor margem de lucro, foram os mais afetados”, completou Isabella.

Também apresentaram perdas Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,7%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,4%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-8,0%).

No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, houve estabilidade das vendas em abril, sendo que as compras de Material de construção aumentaram 1,4% sobre o mês anterior e as de Veículos, motos, partes e peças subiram 0,2%.

 

Apesar de a inflação e os juros permanecerem em patamares baixos, a aguardada do consumo e da indústria não se concretizou da maneira esperada, em meio a um desemprego ainda elevado.

Ainda assim, no primeiro trimestre as despesas das famílias aumentaram 0,3%, de acordo com os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo IBGE, o que impediu uma contração maior da economia no período —o PIB terminou os três primeiros meses do ano com recuo de 0,2% na comparação com o período imediatamente anterior.

A última pesquisa Focus do Banco Central aponta que o mercado projeta crescimento econômico este ano de 1,0%, em estimativa que vem sofrendo sucessivas reduções.