02/03/2018 – Uma safra de grãos que não alcançará o recorde do ano passado, mas será volumosa, além de preços mais remuneradores para algumas commodities, recuperação do consumo interno de proteína animal e da produtividade em setores como café e laranja, além de câmbio favorável às exportações, podem fazer com que o Produto Interno Bruto da Agropecuária (PIB Agro) seja novamente positivo em 2018.

Embora analistas e representantes do setor ouvidos pelo Broadcast Agro não acreditem em um salto tão expressivo no indicador quanto em 2017, que foi de 13%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apostam em novo avanço ou, no mínimo, estabilidade.

Um empolgado ministro da Agricultura, Blairo Maggi, cravou, num vídeo distribuído nas redes sociais, que praticamente todo o crescimento do País veio do agronegócio no ano passado. “E estamos nos preparando para que em 2018 o setor tenha também uma participação muito forte”, disse. Ele acrescentou que o País veio de um ano de safra recorde e que espera outra grande oferta este ano. A colheita referente ao ciclo 2016/2017 foi de 237,7 milhões de toneladas de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A previsão para 2017/2018, embora 5,1% menor, continua expressiva, de 225,6 milhões de toneladas.

O ex-ministro da Agricultura e atual coordenador do GV Agro, Roberto Rodrigues, diz que não necessariamente o PIB agropecuário será maior este ano, mas sim a renda agrícola do produtor de grãos, o que impede ao menos uma queda do indicador. “Se houver estabilidade já significa um bom resultado.” Ele lembra, ainda, que se o PIB do setor não crescer, também não deve influenciar negativamente o PIB geral, “que pode avançar de 2,5% a 3,5% em 2018”, projeta.

O bom desempenho esperado para a atual safra, 2017/2018, faz com que a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) projete o avanço do PIB Agro em 2018 para 0,5%. Além disso, possíveis recuperações, como no setor de carnes (principalmente a retomada do consumo interno com a melhora geral da economia), laranja e cana reforçarão o desempenho positivo. “Um aumento de 0,5% seria muito bom, pois as bases comparativas entre 2016 e 2017 e as do ano passado para 2018 são distintas”, comenta o diretor executivo da Abag, Luiz Cornacchioni.

Os preços remuneradores da soja e milho contribuirão para a perspectiva de alta no PIB agropecuário em 2018, acrescenta o sócio-diretor da consultoria Agrosecurity, Fernando Pimentel. “No contexto do agronegócio, há mais aspectos pró elevação do PIB do que contra. Os preços (futuros e no mercado interno) da soja e do milho estão melhorando em virtude da quebra de safra da Argentina, o que provocará impacto positivo também sobre o Valor Bruto da Produção (VBP)”, diz. No ano passado, mesmo com safra recorde, os preços da soja e milho não foram tão remuneradores quanto os atuais, comenta. “E, em 2018, teremos novamente uma grande safra de soja e com preços superiores aos de 2017”, afirmou.

Ele lembra, além disso, que o desempenho do PIB agropecuário em 2018 dependerá do câmbio. “Dependendo de quem encabeçar a corrida presidencial, o dólar poderá se valorizar ante o real e favorecer ainda mais a alta do PIB do setor. Em contrapartida, se entrar um candidato que o mercado financeiro aprova, o efeito para o câmbio seria reverso”, explicou, referindo-se à possibilidade de maior ou menor receita com exportações dependendo da variação do dólar.

A deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), recém-empossada presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), também acredita que a perspectiva de melhores preços para os grãos devem manter o PIB agropecuário positivo este ano. Para Tereza, a seca na Argentina deve sustentar as cotações, principalmente do milho. “Ainda estamos no início da colheita (no Brasil), mas tudo indica que será tão boa quanto a do ano passado”, disse. Ela não acredita, porém, em franca recuperação do setor de proteína animal este ano, que deve sofrer ainda o efeito da Operação Carne Fraca, deflagrada há um ano pela Polícia Federal. “Ainda estamos sentindo alguns efeitos”, disse, com referência aos obstáculos mais recentes impostos por importadores como Rússia e União Europeia.

Para o setor de carnes, o diretor técnico da IEG FNP (antiga Informa Economics FNP), José Vicente Ferraz, projeta que a recuperação virá principalmente no consumo interno, com a alta do PIB geral do País. Isso deve favorecer o consumo das famílias, com influência direta sobre o segmento de proteína animal. “A perspectiva é otimista para as três proteínas principais (bovinos, aves e suínos)”, concluiu o especialista.

Em relação ao crescimento do PIB agropecuário este ano, Ferraz é cauteloso: “As perspectivas ainda dependem dos efeitos climáticos sobre a safra agrícola”. O especialista afirmou que as atenções do mercado estarão voltadas para o plantio da safrinha (de inverno) que já está em andamento e cuja projeção atual para o clima é de normalidade, embora haja perspectiva de redução de área plantada.

O sócio consultor da MB Agro, José Carlos Hausknecht, concorda com Ferraz. Diz que, de fato, o que vai determinar o tamanho da contribuição no agro é o milho safrinha, “que nós não sabemos ainda como vai ser”, ressalta. “Na contramão, temos outras culturas que virão bem, como café e laranja.” O consultor projeta avanço do PIB agropecuário em 2018 de 1% ante 2017.

O diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Wellington Andrade, confirma a perspectiva de redução da safrinha de milho no Estado e manutenção da colheita de soja.

“A produção de milho em Mato Grosso foi de 30 milhões de toneladas no ano passado e neste ano estamos projetando 25 milhões de toneladas. Como atrasou a colheita de soja, boa parte desse milho vai ser plantada fora da janela ideal. Vai depender das condições climáticas praticamente perfeitas para ter boa produção”, confirma Andrade.

De todo modo, o representante da Aprosoja acredita que a agropecuária deve continuar tendo forte contribuição para o desempenho da economia em 2018. “Como a gente está caminhando para uma safra boa, essa contribuição continuará sendo de suma importância. Embora a expectativa seja de colheita menor, não deixa de ser uma safra grande”, disse Andrade.

A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta pelo menos estabilidade no PIB agro em 2018 em relação a 2017. Para a entidade, a expectativa de remuneração positiva para os setores de grãos e cana-de-açúcar, aliada a um aumento na safra de café, tendem a compensar uma eventual redução na colheita de grãos de 2017/18 e trazer estabilidade ao setor este ano. A avaliação é do coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon. “Países como a Argentina têm efeitos climáticos negativos e que mexem com o balanço de oferta e demanda global de grãos, desencadeando elevação nos preços. No caso do café, além da bianualidade positiva, o setor se recupera de problemas climáticos vistos no último ciclo. Para a cana, o destaque vai para a renovação do canavial, que já está em curso”, explica o especialista.

A CNA trabalha com uma margem que vai de 232 milhões a 238 milhões de toneladas para a safra de grãos desta temporada. “Caso essa expectativa se consolide e tenha uma colheita semelhante à do ano passado, o resultado do PIB Agropecuário pode até apresentar um modesto crescimento”, acrescenta.

O analista da Tendências Consultoria Integrada Felipe Novaes avalia que os produtores brasileiros estão avançando em uso de tecnologia, o que deve manter o crescimento da produtividade das lavouras. “O produtor agrícola tem um arsenal tecnológico que tem permitido uma gestão melhor”, diz. Ele lembra também que a demanda asiática deve se manter forte em 2018. As carnes também devem se destacar com a projeção de melhora do consumo doméstico, embora as exportações ainda sejam difíceis de prever.

O café, embora com uma participação menos expressiva, pode ter um avanço mais dinâmico no ano, enquanto o setor sucroenergético segue pressionado com o movimento de renovação de canaviais. Lygia Pimentel, consultora da Agrifatto, diz a pecuária deve se favorecer do aumento do consumo, com o crescimento da renda e queda do desemprego.

*Texto extraído da coluna Broadcast do Agro.