Bacon de soja, hambúrguer vegetal, carne de laboratório. As chamadas proteínas alternativas ganham espaço na mesa de um número crescente de consumidores mundo afora, como substitutas aos produtos de origem animal. Deixando conceitos, gostos e opções de lado, o avanço deste segmento tem colocado em alerta muita gente do setor produtivo. Não pela expansão em si, mas por rotular como “carne” algo que tecnicamente não é carne e, em tese, se tirar proveito disso.

No estado que detém o maior rebanho bovino do país, com mais de 30 milhões de cabeças, o assunto já entrou na pauta de discussões. A Acrimat, associação que representa os criadores de Mato Grosso, levou o tema à Frente Parlamentar da Agropecuária e conseguiu apoio. Há 3 semanas, o deputado federal Nelson Barbudo (PSL-MT), apresentou um projeto de lei que normatiza o uso da palavra “carne” e seus sinônimos, em rótulos e publicidade de alimentos.

PL 2876/2019 foi protocolado no dia 14 de maio e ainda não foi encaminhado para análise de nenhuma comissão. Barbudo, aliás, informou ao Blog que pretende se reunir na próxima semana com o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para pedir “urgência” no tramitação do texto. O parlamentar mato-grossense destacou ainda que acredita na viabilidade da proposta, já que a mesma garantiria “transparência ao consumidor e respeito ao produtor”.

O projeto propõe a proibição do uso das palavras “carne”, “bife”, “hambúrguer”, “filé” e “bacon” em quaisquer produtos que não sejam “tecidos comestíveis de espécies de açougue, englobando massa musculares, com ou sem base óssea, gorduras, miúdos, sangue e vísceras, podendo os mesmos ser in natura ou processados”.

Nesta semana, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro à região do Araguaia – entre Mato Grosso e Goiás, um pedido de apoio ao PL 2876/2019 foi entregue pela Acrimat ao chefe do executivo. O documento destaca que “sucessivas campanhas tentam colocar a carne em descrédito junto aos consumidores brasileiros e internacionais (…) colocando-a como provocadora de doenças ou produzida sem a necessária sustentabilidade social, econômica e ambiental”. Quanto ao projeto encaminhado à Câmara, o texto diz que ele “evita prejuízos aos produtores e aos consumidores”, que estariam “sendo induzidos a ingerir um produto imaginando se tratar de carne de bovinos e outros animais, mas que se trata de produto de origem animal”.

O assunto também fez parte dos debates realizados durante conferência da International Beef Alliance, realizada na última semana em Mato Grosso. Esta aliança reúne as principais entidades que representam criadores do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Paraguai, Canadá e México, que juntos são responsáveis por mais da metade da carne bovina produzida no mundo e por 62% das exportações do produto. Segundo Daniella Bueno, que é diretora-executiva da Acrimat, a discussão acerca do tema também recebeu apoio dos pecuaristas destes países que, assim como os brasileiros, também discordam da utilização do nome “carne” em produto que não tenham origem animal.