Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
O mercado do boi gordo seguiu sustentado nesta semana, com preços firmes, mas com pouca liquidez. A referência em São Paulo continuou por volta dos R$ 220,00/@, no entanto, a média semanal subiu 0,55%, estabelecendo-se em R$ 220,50/@. A maior dificuldade segue no atacado, onde as vendas da carne bovina não conseguem “deslanchar”, o que possibilitaria uma maior margem para que os frigoríficos acelerassem a compra de bovinos. Com o inicio da segunda quinzena do mês, a demanda interna deve se depreciar ainda mais, dificultando um maior andamento nas cotações da cadeia como um todo.
Enquanto a carne bovina derrapa, a carne suína e de frango no atacado seguem evoluindo. A união de exportação forte, ajuste produtivo começando a surtir efeitos e substituição de proteínas tem impulsionado a cotação das outras proteínas, a carcaça suína especial bateu os R$ 8,51/kg e o frango resfriado R$ 4,83/kg na última sexta-feira. Estes são os maiores preços desde o dia 30/03/2020 para o suíno e 21/01/2020 para o frango. A crise econômica que fez o preço dessas proteínas cair mais de 20% em maio/20 já se dissipou sobre as cotações.
Aos poucos, a pressão da colheita vai surtindo efeito sobre as cotações do milho no mercado interno. A cotação do cereal em São Paulo voltou a ficar próximo dos R$ 49,00/sc, caindo pouco mais de 2% no comparativo semanal. Com a colheita ganhando corpo nos estados vizinhos (MS, GO e PR), a sustentação que o dólar vinha dando não foi o suficiente para manter o milho cotado acima dos R$ 50,00/sc no estado paulista. Como ainda resta grande parte do cereal ser colhido nesses estados, a tendência é que a pressão de queda se fortaleça nas próximas semanas.
Apesar de não ser destacado pela variação observada esta semana, o dólar vem mostrando uma relatividade estabilidade desde o inicio do mês de julho/20. A volatidade que já tinha se tornado corriqueira para a divisa norte-americana diminuiu nas últimas semanas, e a variação da moeda tem ficado entre os R$ 5,25 e R$ 5,40. Tal patamar ainda imprime uma boa competitividade as proteínas animais brasileiras com destinação a exportação.
1. Na tela da B3
Com o mercado físico dando sustentação, as cotações do contrato futuro do boi gordo seguiram em valorização durante esta semana. O vencimento para outubro/20 encerrou a sexta-feira cotado à R$ 217,50/@, subindo 1,92% frente a semana retrasada. Ainda assim, a curva para o futuro segue descendente em todos os contratos, fruto das incertezas que o mercado precifica negativamente.
O volume de negócios na B3 segue aumentando, nesta semana, o total de contratos negociados (futuros + opções) chegou a 89,47 mil, subindo 6,83% em comparação a semana retrasada. O mercado de opções segue mais demandado, já são 70,90 mil contratos em aberto, o dobro do que era visto no mesmo período do mês passado.
A movimentação do mercado financeiro ganhou contornos de participação um pouco diferente nesta semana. Isso porque as PJ não-financeiras desmontaram toda a posição vendida e agora detêm uma posição de 3,18 mil contratos “apostando” na alta. A posição comprada foi montada através do mercado de opções, já que no mercado futuro as PJs não-financeiras aumentaram a posição vendida para 10,52 mil contratos. Foram compradas 3,98 mil CALLs e vendidas 5,22 mil PUTs. Esta é a primeira vez desde o dia 04/06/2020, em que PJs não financeiras e PFs estão comprados.
Diante dessa inversão de posição das PJs não-financeiras, a balança se equilibra com as PJs financeiras assumindo uma posição vendida de 3,44 mil contratos e os Investidores Institucionais com 1,18 mil contratos vendidos. O posicionamento vendido das PJs financeiras veio em um movimento inverso as PJs não-financeiras, comprando 2,4 mil PUTs e vendendo 2,4 mil CALLs.
O posicionamento de PFs e PJs não-financeiras do lado comprado da balança pode indicar um mercado do boi gordo com mais espaço para evoluir no mercado futuro.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
A evolução das cotações abriu mais espaço para o hedge a valores melhores, no entanto, a incerteza continua a precificar uma volatilidade ainda acima da média histórica.
O mercado de opções segue em voga, com mais de 45 mil CALLs em aberto. Os indicadores de oferta restrita ainda estimulam a proteção contra alta que pode vir até o fim de 2020. Do outro lado da ponta, o cenário é mais positivo, com forte evolução do preço futuro, PUTs com vencimento para out/20 com strike a R$ 205,00/@ já podem ser encontradas com prêmio a serem pagos abaixo dos R$ 2,00/@.
Com ares de incerteza ainda pairando pelo mercado, a operação de Collar, continua interessante para aqueles que com os preços atuais do boi gordo detêm uma margem de lucro boa. A operação consiste basicamente na compra de uma PUT, garantindo assim um preço mínimo, aliado a venda de um CALL, para reduzir o custo do preço pago pela PUT. Se tornando uma opção mais barata para aqueles que buscam proteção em tempos de incerteza.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva que a demanda financeira para este tipo de operação é elevada. A compra de futuros com vencimento para outubro/20 indicada para a ponta compradora na semana passada à R$ 214,00/@ já estaria dentro de um cenário positivo de R$ 3,50/@.
O mercado a termo continuou aquecido, a pressão sobre o mercado físico e a entrada de animais nos confinamentos, tornou os pecuaristas mais propensos a realizar maiores contratos de venda a termo.
2. Enquanto isso, no atacado…
A terceira semana de julho foi caracterizada pela desaceleração das indicações da carne bovina no atacado paulista. Após duas semanas em um verdadeiro impasse entre quem compra e quem vende, os ajustes negativos chegaram. A carcaça casada bovina encerrou a sexta-feira cotada a R$ 14,00/kg, queda semana de 1,41%.
A carne bovina começa a ganhar espaço para aumentar a rotatividade no mercado interno. O produto está se tornando mais atrativo ao consumidor, visto que as indicações das suas principais concorrentes, carne suína e de frango, aceleraram nas últimas semanas, o que aumenta a competitividade da proteína bovina ante as outras. Este fenômeno está atrelado ao ajuste produtos dos granjeiros com o início da pandemia de coronavírus e fortes quedas nos preços entre abril e maio.
A carcaça especial suína avançou 10,18% na última semana, sendo cotada a R$ 8,60/kg, se aproximando aos mesmos patamares de março, quando era negociada na faixa dos R$ 8,80/kg. Na comparação mensal, o aumento foi de 19,93%.
O cenário para o frango congelado continua de estabilidade, encerrou a semana com indicações em R$ 4,72/kg – alta semanal de 1,07%. Se comparado ao mês anterior, o aumento foi de 4,89%.
Apesar da pressão, para o mercado de ovos o ambiente também é de estabilidade. A oferta ainda é de controlada de pequenos e médios produtores, que fizeram descarte de poedeiras, mas os de maior porte ainda sofrem com um maior número de produtos, o que tem balançado as cotações. A caixa com 30 dúzias encerrou a semana negociada a R$ 97,00.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura seguiram avançando, com uma média diária de 8,51 mil toneladas durante a terceira semana do mês de julho/20, a média diária no mês embarcada aumentou 11%, chegando a 7,33 mil toneladas. Tal avanço fez com que o montante enviado para fora do país chegasse a 95,37 mil toneladas, 72% do total embarcado no mesmo período do ano passado. O total exportado no mês deve ficar entre 140 e 160 mil.
A receita obtida com as vendas de proteína bovina já supera os US$ 390 milhões durante as três primeiras semanas de julho/20, com um preço médio de US$ 4,09 mil por toneladas. Apesar do recuo no preço de venda em comparação a junho/20, a valorização do dólar durante este mês, compensou esta desvalorização.
Com mais milho chegando aos portos brasileiros, os embarques do cereal continuam a acelerar. A média diária avançou 32% em relação a semana passada, com 133,15 mil toneladas embarcadas por dia nestas três semanas de julho/20. O total exportado pelo país já está em 1,73 milhão de toneladas. A previsão é que até o fim do mês esse número supere as 4 milhões de toneladas.
A receita obtida com a venda de milho para fora do país também seguiu crescendo, com um total de US$ 289,87 milhões no acumulado das três semanas de julho/20. Ainda assim, a média diária está 50% menor no comparativo anual, com US$ 22,30 milhões. Com a oferta de soja diminuindo e a disputa com o mercado interno aumentando, o embarque de soja para fora do país seguiu em redução durante a terceira semana de julho/20. A média diária caiu 3%, estabelecendo-se em 475,90 mil toneladas. O total embarcado durante as três semanas do mês já chega a 6,18 milhões de toneladas, a expectativa é de que ultrapassemos a barreira dos 9,5 milhões de toneladas no mês de julho/20.
A receita obtida com as vendas da oleaginosa superam os US$ 2,14 bilhões, com uma média diária de US$164,95 milhões. Com a menor oferta no mercado interno e a evolução dos preços em Chicago, a tonelada exportada pelo país está avançando 3,5% em comparação a junho/20. Com uma tonelada exportada à US$ 349,1/t.
4. A compra do pecuarista
Com o dólar relativamente mais “calmo” e a colheita dando ganhando força no PR, MS e SP, o milho iniciou uma curva de desvalorização na última semana no estado paulista, voltando a ser negociado abaixo dos R$ 50,00/sc. A pressão da oferta ainda não ganhou sua real dimensão nestes estados, e as próximas semanas devem revelar um cenário de oferta com mais pressão sobres os preços.
No caso do farelo de soja, que, apesar do preço alto do grão dificultando a desvalorização do subproduto, tem encontrado resistência dos compradores no centro-oeste do país, já que o DDG está ganhando espaço e preferência, com um custo por kg de proteína bruta menor. Desta forma, nesta semana, o farelo de soja viu seu preço reduzir 2,60% em Rio Verde/GO, ficando em R$ 1.563,68/t. A competição com o DDG deve dificultar o escoamento a preços elevados do farelo de soja esmagado no centro-oeste do país.
O alivio na conta dos insumos é positivo ao pecuarista, no entanto, a conta da reposição continua muito elevada. O bezerro em São Paulo já ultrapassa os R$ 2.175/cabeça, impondo um ágio de 52% sobre a arroba do boi gordo, e, complicando a conta para aqueles que necessitarão recompor seu rebanho. O ágio que na média dos últimos cinco anos ronda a casa dos 32%, em 2020 já está com uma média de 45%.
5. O destaque da semana:
Na última semana, sete frigoríficos argentinos suspenderam de forma voluntária os envios à China. As plantas processam bovinos e frangos, e tomaram a decisão independente de ordens do GAAC (Departamento de Alfândegas da China). Além disso, uma outra planta australiana, de bovinos, também interrompeu suas exportações para o país.
No Brasil, segundo fontes apontam, o governo chinês solicitou a suspensão das exportações de dois frigoríficos, sendo um deles de aves e o outro de bovinos. Entretanto, a suspensão dessas unidades ainda não foi confirmada pelas autoridades brasileiras.
A atitude vem em linha com os cuidados de possíveis embargos provindos do gigante asiático, que vem pressionando os países exportadores em relação à segurança dos produtos em decorrência do Covid-19. Vale a pena ressaltar, que ainda não existem comprovações científicas que atestem a contaminação via alimentos.
6. E o que está no radar?
As vendas no atacado desaceleraram com a chegada da segunda quinzena de julho. O mercado atacadista, que já vinha demonstrando negociações lentas, agora caminha com mais dificuldade. Neste ambiente, os ajustes negativos dos preços foram aplicados na última sexta-feira (17).
E, com um consumo interno patinando, a arroba continua sofrendo pressão negativa dos frigoríficos que tentam segurar novas altas, porém, negociações só são realizadas quando há um pontual aumento dos valores que atraí os vendedores.
Com isso, dada a oferta restrita e a dificuldade em adquirir matéria-prima, o cenário ainda é de estabilidade das cotações da arroba, com pequenos reajustes pontuais em algumas regiões onde existe maior dificuldade em conseguir boiada pronta para abate.
Com relação ao mercado externo, apesar das exportações continuarem fluindo, fica no radar o alerta dos próximos passos que o nosso principal cliente, a China, irá tomar em relação as suspensões de unidades frigoríficas. Ainda não é um problema generalizado, está concentrado nas regiões que já tiveram suspensões, mas deixa os players atentos aos próximos passos.