Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
A semana se encerra em leve queda para o preço do boi gordo em São Paulo. Esta foi a sexta semana consecutiva em que a cotação do animal registrou recuo na média semanal, finalizando a terceira semana de maio/21 cotado em média à R$ 307,39/@, desvalorizando 0,85% no comparativo semanal. Apesar dos recuos consecutivos, já há sinais mais fortes de sustentação no horizonte, a redução da oferta de animais de pasto nas principais regiões do país e as medidas adotadas pelo governo argentino, com intuito de barrar as exportações de carne bovina, podem auxiliar na sustentação dos preços por aqui.
Assim como o boi gordo, o mercado da reposição vem observando desvalorização durante o mês de maio/21, o preço médio do bezerro em São Paulo já recuou 1,06% no comparativo mensal, interrompendo a valorização consecutiva que já acontecia há três meses. O boi magro também registra movimento parecido, recuando 1,26% no comparativo mensal, e chegando ao patamar dos R$ 4.132/cabeça. Cabe a ressalva que esses ativos já ultrapassaram uma valorização de mais de 49% no comparativo anual, destacando que o momento é de arrefecimento, mas o acumulado de longo prazo é positivo.
Com o indicativo de melhores condições climáticas nos EUA, as cotações da soja nas bolsas americanas registraram recuo durante a última semana, impactando todo o mercado da oleaginosa mundial. Em Chicago, a cotação da soja para setembro/21 apresentou desvalorização de 3,53% no comparativo semanal, atingindo o valor de US$ 13,97/bu, o menor patamar desde o início do mês de maio/21. No Brasil, o preço da oleaginosa no mercado físico continua sua trajetória de queda, visto que o dólar continuou a vagar na casa dos R$ 5,30, e com a pressão da CBOT, a cotação da soja em Paranaguá/PR atingiu os R$ 173,00/sc, caindo 3,87% no comparativo semanal e chegando ao menor nível desde 08/04/2021.
Após três semanas consecutivas de valorização, o etanol voltou a apresentar recuo no comparativo semanal. Em um processo de acomodação após uma alta de 14% em 15 dias, o mercado do combustível começa a digerir melhor a quebra produtiva da produção de cana-de-açúcar, e volta ao patamar dos R$ 2,91/l, caindo 4,53% no comparativo semanal. Cabe a ressalva que a queda do petróleo na semana também auxiliou para que o etanol registrasse desvalorização no comparativo semanal.
- Na tela da B3
A semana foi de rompimento de máximas para o boi gordo na B3. Alheio ao que é visto no mercado físico, os operadores de boi gordo na B3 voltam a acreditar em dias melhores para o animal e fizeram os vencimentos futuros baterem as máximas históricas.
O contrato para outubro/21 chegou a bater os R$ 345,90/@ durante a última sexta-feira. No entanto, em um movimento de correção acabou encerrando o dia à R$ 342,55/@, ainda assim, registrando uma valorização de 1,95% no comparativo semanal. Considerando o preço médio de R$ 309,31/@ no maio/21, o ágio proposto pela B3 já chega aos 11%, bem próximo do que foi visto nos melhores anos da história.
E com máximas rompidas, a cada semana que passa o mercado vai ganhando novos integrantes e observando sua liquidez melhorar. Já são mais de 77,74 mil contratos de boi gordo em aberto (futuros + opções), o maior volume desde 29/10/2020. E o posicionamento dos players volta a se desenhar realmente como um indicador de “aposta” de direcionamento dos operadores.
*Considerou-se o preço de R$ 336,00/@ como preço em outubro/21;
Fonte: Agrifatto.
Com um leve incremento no comparativo semanal, as Pessoas Físicas seguiram a aumentar suas apostas de que o boi gordo vai continuar rompendo máximas, e já tem uma posição comprada em 6,20 mil contratos (futuros + opções), a maior dos últimos seis meses. Do outro lado, os Investidores Institucionais aumentaram sua posição vendida em 20% na última semana, chegando a um total de 6,00 mil contratos (futuros + opções), também o maior dos últimos seis meses. Essa disputa já acontece há algumas semanas, em um entorno bem parecido com o que aconteceu em novembro/21, quando a arroba sofreu uma forte correção. Será que veremos um caminho diferente desta vez?
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
A instabilidade do mercado físico nos causa preocupações de até onde o mercado pode ir no curto prazo, desta forma estabelecemos algumas métricas para a proteção de parte dos animais que serão entregues nos próximos meses.
Para aqueles que não realizaram nenhuma trava ou comercialização futura, o momento é oportuno para o travamento de no mínimo 40% do total a ser abatido nos meses de junho/21, julho/21 e agosto/21. Desenhamos três perfis possíveis, listados a seguir:
Conservadora: Uma das estratégias mais conservadoras para este momento é a compra de opções de venda (PUTs), servindo como proteção do ativo e surfando no bom momento que os preços do boi gordo tem demonstrado na B3. A compra de PUTs para junho/21, julho/21 e agosto/21 apontam para um custo de R$ 3,33/@ para proteger o valor de R$ 305,00/@, um dispêndio de 1,11% sobre o valor protegido. Como a volatilidade continua elevada, a precificação de PUT simples continuam “caras”, e, neste caso, a compra nesses strikes estabelecidos se mostram apenas como seguros contra um derretimento do mercado, possibilidade que acreditamos ser reduzida neste momento.
Mista: Para este perfil, uma estratégia que se mostra interessante é a PUT Spread, que irá consistir basicamente na compra de uma PUT de maior valor de strike financiada pela venda de uma PUT de menor valor de strike. Exemplificando: é possível adquirir uma PUT que proteja os R$ 320,00/@ para os próximos três meses pelo valor de R$ 4,25/@, combinando-a com a venda de uma PUT com strike de R$ 305,00/@. Neste caso, o proprietário desta operação estruturada está protegido contra a queda do boi gordo dos R$ 320,00/@ até os R$ 305,00/@ nos próximos três meses, no entanto, abaixo de R$ 305,00/@ os ganhos se interrompem pois a PUT vendida começa a ser exercida. Essa operação se mostra interessante pois é feita uma proteção contra queda moderada e reduz-se os gatos, mas ao mesmo tempo se o ativo (boi gordo) subir, o pecuarista participa da alta na hora de vender seu boi gordo no mercado físico.
Arrojada: Duas operações se mostram interessantes ao se trabalhar com um perfil mais arrojado para travamento. Como observamos os preços atuais para os próximos meses como atrativos para a realização de vendas (visto o cenário pontuado no texto abaixo), a venda de futuros de boi gordo para junho/21, julho/21 e agosto/21 na casa dos R$ 325 aos 337/@ se mostra como uma boa oportunidade para garantir a margem de animais que serão abatidos neste período.
Além disso, pensando em opções, outra operação que pode se mostrar interessante em um perfil mais arrojado, é a operação de COLLAR, que consiste na compra de PUTs para se proteger contra a desvalorização do boi gordo em conjunto com a venda de CALLs para financiar essa operação. Exemplificando, seria a compra de PUTs para os próximos três meses com um strike nos R$ 320,00/@ pelo valor de R$ 0,04/@, combinando-a com a venda de uma CALL de R$ 346,00/@. Neste caso, o ativo (boi gordo) fica protegido contra quedas a partir dos R$ 320,00/@ nos próximos três meses, a um custo de R$ 0,04/@, no entanto, caso a arroba valorize acima dos R$ 346,00/@, o pecuarista irá sofrer ajustes negativos por conta da CALL vendida neste valor.
Cabe a ressalva que para as duas operações listadas para o perfil arrojado será necessário disponibilizar um fluxo de caixa para operar na B3, visto a necessidade de depósito de margem.
2. Enquanto isso, no atacado…
O início da segunda quinzena de maio/21 apresentou baixo volume de vendas de carnes em geral, mesmo para proteínas mais acessíveis como frango, suínos, ovos, miúdos e processados, que seriam alternativas no dia a dia do consumidor que está com baixo poder de compra. O fato é que as vendas do varejo que já vinham lentas nas semanas inicias do mês, agora de fato vão apresentando sinais de travamento e formação de estoques acima do previsto.
Novamente o que vemos esta semana, é desvalorização da carcaça casada bovina, que recuou -1,51% no comparativo semanal, chegando ao valor de R$ 19,26/kg, o menor valor desde a segunda semana de março/21. Destacando assim a problemática vivida pelos frigoríficos e distribuidores que veem o boi gordo voltar a ganhar firmeza, enquanto que a carcaça bovina não consegue manter-se firme nas vendas.
A desvalorização também foi observada nas proteínas animais concorrentes à carne bovina. O frango resfriado, após cinco semanas consecutivas com valorizações, sofreu um reajuste negativo de -0,56% em relação à semana anterior, fechando cotado em média de R$ 6,66/kg. A estratégia dos compradores de reduzir os volumes de compras e consequentemente aplicar um freio sobre a alta do frango parece finalmente ter surtido o efeito esperado.
Enquanto isso, a carcaça suína fechou a semana com uma queda de -9,33% no comparativo semanal, ficando cotado em média a R$ 9,49/kg. O processo de desvalorização pela terceira semana consecutiva na carcaça suína é fruto da melhora da oferta da proteína, não é à toa, o suíno vivo fechou a semana com desvalorização de 11,49%, cotado a R$ 6,16/kg.
Neste contexto, as negociações para abastecimento dos próximos dias seguem em clima de volatilidade, especulação e preços sustentados de forma desafiadora. As previsões do setor indicam a tendência do mercado mais fraco, com preços variando entre estabilidade e queda e com os frigoríficos mantendo a programação prevista.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina brasileira in natura ganharam forças durante a terceira semana de maio, atingindo o maior volume semanal do mês. Foram enviadas aos portos 33,56 mil toneladas, 31,97% a mais que na semana retrasada, o que levou a média diária do mês estabelecer-se em 5,92 mil toneladas. Com isso, os 15 dias úteis de maio/21 totalizam 88,79 mil toneladas de proteína que foram embarcadas pelo Brasil.
O mercado externo está pagando em média US$ 4,91 mil/t pela carne bovina brasileira, valorização em 0,31% ante a segunda semana de maio/21. Foram arrecadados US$ 165,48 milhões nos últimos 5 dias úteis e com isso a receita referente ao mês bateu a casa dos US$ 435 milhões. Apesar do preço 11,64% maior que em relação ao mesmo período do ano passado, a receita obtida com a venda de proteína bovina está 14,71% menor que em maio/20.
As exportações de soja registraram novo recuo no ritmo de embarque na terceira semana de maio, diariamente foram carregadas 768 mil toneladas de soja na última semana contra uma média de 880 mil na semana anterior, tal recuo fez a média diária do mês cair para 843 mil toneladas, ainda assim, este volume é 19,49% superior ao mesmo período do ano passado. O volume total embarcado até o atual momento é de 12,6 milhões de toneladas, restando menos de 1,5 milhão de toneladas para superar o volume total embarcado em maio/20.
Mesmo com a queda das cotações na CBOT, o valor mais alto da soja brasileira tem colaborado para essa redução do apetite do comprador. O preço atual da tonelada embarcada está em US$ 448/t contra US$ 333/t no mesmo período de maio/20, diferença de 34%. Com a soja mais valorizada, a receita obtida até a terceira semana de maio/21 é 20% superior a todo o montante obtido em maio/20, no mês atual o faturamento com a soja já chega aos US$ 5,66 bilhões contra US$ 4,70 bilhões em maio/20.
Mesmo com a baixa competitividade na exportação, os embarques do cereal somaram 11,41 mil toneladas na semana passada, fazendo com que a média diária embarcada atingisse 839,9 toneladas. Ainda assim, este número é 32,63% menor que no mesmo período do ano passado. O preço da tonelada exportada em dólares entre maio/21 e maio/20 são próximos, no mês atual o valor da tonelada embarcada está em US$ 264/t contra US$ 269/t há 1 ano atrás.
O destaque do milho é para as importações. Até a 3ª semana de maio 45,72 mil toneladas entraram no país, o volume é 5,2 vezes superior ao importado em todo o mês de maio/20. A tonelada de milho chega ao Brasil no valor médio de US$ 279/ton, cerca de 48% maior ao preço de US$ 189/ton observado no mesmo período do ano passado.
4. A compra do pecuarista
O clima continuou favorecendo as lavouras nos EUA, e isto tem influenciado no comportamento dos preços do cereal no Brasil, impondo forte movimento de baixa no as cotações futuras do milho na B3 essa semana. Além disso, as previsões de chuvas de até 50 mm nos estados do PR, MS, SP e MG também colaborou para este cenário de queda na bolsa brasileira, cujo contratos encerraram a semana entre R$ 94,00/sc e R$ 95,00/sc nos vencimentos de 2021.
Cabe a ressalva de que os operadores do mercado futuros ignoraram as revisões das casas de análises, que apontaram para uma quebra da produção de milho 2ª safra no Brasil e também a baixa disponibilidade do produto no mercado interno. No físico o preço médio do mês atual é o maior historicamente, considerando a referência de Campinas/SP a saca está R$ 101,40. Esse descasamento entre preço físico e futuro deve-se alinhar no curto prazo com a tendência de que a saca do milho na B3 retome valores próximos de R$ 100,00.
Os preços da arroba do boi gordo registraram recuo durante o mês de maio com indicação média de R$ 309,00 em São Paulo pelo indicador do Cepea. No mercado futuro houve forte valorização impulsionada principalmente após o anúncio da Argentina na proibição das exportações de carne bovina.
A combinação dos movimentos futuros para a saca do milho e arroba do boi trouxeram melhora significativa para as relações de troca e reforçam a necessidade de o produtor aproveitar o bom momento para sua estratégia de operação com futuros e opções em busca da trava para o milho que será usado em 2021.
Fonte: Agrifatto;
Apesar do preço da soja ter atingido patamares recordes, as fortes desvalorizações da oleaginosa no mercado internacional estão gerando reflexos sobre os preços internos do farelo de soja. O proteinado comumente utilizado nas rações animais, está apresentando uma desvalorização de 0,49% no comparativo mensal, e atingindo o menor patamar dos últimos oito meses, R$ 2.239/t. Com o boi gordo operando em relativa estabilidade, a relação de troca com o insumo tem se mantido alinhado a média histórica.
*Considerou-se um boi gordo de 20 arrobas;
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
A notícia que se destacou esta semana veio diretamente das terras ao sul do Brasil. O governo argentino determinou a suspensão das exportações de carne bovina do país durante 30 dias, utilizando como justificativa a forte valorização que a proteína bovina registrou nas últimas semanas.
Esta medida teria como intuito aumentar a disponibilidade interna de carne bovina no país, com a expectativa de que os preços internos da proteína apresentem redução. Como era de esperar, a medida não foi bem recebida pelos pecuaristas argentinos, que logo declararam a interrupção da comercialização de gado bovino por uma semana, como forma de protesto contra a medida governamental.
Assim como o Brasil, estima-se que a Argentina destine algo em torno de 20 a 30% da sua produção para as exportações, e sendo um dos maiores produtores mundiais de proteína bovina, estima-se então que cerca de 7,50% das exportações globais de carne bovina seja impactada com essa determinação do governo argentino.
Fonte: USDA; Agrifatto;
Para o Brasil, isso representa uma ótima oportunidade para navegar no “vazio” deixado pela carne argentina no mercado. Grandes compradores vão migrar seu consumo para outros países, ao mesmo tempo em que as multinacionais que antes enviavam sua proteína bovina da Argentina devem começar a priorizar os embarques de outros países. Não à toa, os números de embarques semanais de carne bovina divulgados pelos EUA nesta semana já apontam para o maior volume semanal exportado para a China da história.
O vácuo de 64 mil toneladas que será deixado com a ausência argentina por um mês do mercado, representa em torno de 54% das exportações brasileira de um mês. Sendo assim, o mercado já reage de maneira positiva, aguardando preços cada vez mais firmes para os próximos meses na B3.
6. E o que está no radar?
A força do boi gordo no mercado futuro continua a esbarrar na inanição dos preços no físico. A semana passada trouxe consigo a sexta desvalorização consecutiva do animal no mercado físico e o menor valor das últimas 11 semanas, ainda assim, as negociações na B3 se sustentaram na notícia vinda da Argentina, sugestionando que as cotações devem voltar ao patamar de R$ 320,00/@ já em junho/21.
Ainda que o horizonte de 30 a 60 dias esteja dando otimismo para os operadores de boi gordo na B3, a situação não é vista da mesma maneira no mercado físico. As vendas de carne bovina se arrastam no varejo, demonstrando que há grande dificuldade em escoar os volumes atuais de proteína bovina disponibilizados pelos atacadistas. A última semana do mês não traz grande animosidade para os atacadistas, visto que este é um período característico de menor consumo.
Apesar da dificuldade nas vendas de carne bovina no mercado interno, o radar de curto prazo aparenta dar sinais de melhora para a arroba do boi gordo. A pressão baixista imposta pelos frigoríficos aparentemente começa a perder força, vide a redução das escalas de abate em todo o país.
E com a saída argentina do mercado externo, aqueles frigoríficos que detêm qualificação para exportar devem incrementar os prêmios pagos pelos animais tipo “exportação, resultando assim, em uma volta do movimento de valorização do boi gordo.