Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
A primeira semana de 2020 foi marcada sobretudo pela falta de liquidez no mercado de boi gordo. Tanto nas negociações físicas quanto na B3, o volume de negócios realizados foi pequeno, e, como a oferta se apresenta reduzida para atender a demanda que se põe a mesa, a cotação do animal continuou subindo. O valor médio chegou aos R$ 277,25/@ na última semana, valorizando-se 2,69% frente a semana retrasada. Cabe a ressalva de que este foi o maior valor médio semanal para o boi gordo desde a última semana de novembro/20, consolidando o otimismo que a B3 havia apontado desde o fim do mês passado.
Se apenas com os fatores externos o milho brasileiro já estava bombando, nesta semana o dólar se juntou a “festa”, e fez o preço do cereal em São Paulo romper novamente uma máxima histórica, estabelecendo-se em R$ 82,09/sc na média da semana. A pressão que o mercado global de milho vem sofrendo pelos problemas enfrentados na Argentina está fazendo não só o cereal brasileiro buscar máximas, mas nos EUA também, o rally de alta continuou. No entanto, o tempero brasileiro que explodiu as cotações do milho em 2020 voltou a atuar, e o dólar ronda novamente a casa dos R$ 5,40.
Mesmo com o avanço de lockdowns em grandes países europeus, o preço do petróleo WTI registrou forte variação positiva na última semana, chegando a ser cotado a US$ 51,65/barril, o maior valor desde fevereiro/20. O otimismo do mercado com o petróleo se deve a “onda azul” que fez com que os democratas agora confirmassem a conquista dos três poderes nos EUA (presidência, câmara e senado), sendo esperado desses agora maiores estímulos fiscais. Além disso, o corte surpreendente de 1 milhão de barris/dia anunciando pela Arábia Saudita animou os operadores do mercado de petróleo do mundo.
Aquele que se manteve relativamente estabilizado e sem dar grandes sustos durante o mês de dezembro/20, voltou a causar pesadelos. O dólar voltou a se valorizar fortemente frente ao real na última semana, chegando a ser cotado à R$ 5,42, alta de 4,23% na semana. A confirmação de que a nova cepa do coronavírus já circula pelo Brasil e o avanço das mortes no país causou a apreensão e o aumento da volatilidade. Vale ressaltar que este movimento de forte alta da moeda norte-americana não se estende a outros países, isso por que o índice DXY demonstrou aumento de apenas 0,28% na última semana.
1. Na tela da B3
Com as cotações no mercado físico voltando a romper os R$ 280,00/@, o preço do boi gordo na B3 manteve-se firme e registrou valorizações pela terceira semana consecutiva. O contrato com mais liquidez atualmente (janeiro/21) fechou a semana cotado a R$ 282,45/@, valorizando-se 1,42% em relação a sexta-feira passada, esse é o maior valor para tal contrato desde o dia 10/11/2020. O contrato que é costumeiramente representando como a “safra” brasileira de boi gordo, maio/21, embarcou em uma valorização ainda mais intensa, sendo negociado à R$ 276,10/@ nesta sexta-feira, com alta de 3,60 % na semana.
Apesar desta valorização, a liquidez do mercado futuro de boi gordo na B3 está em um dos piores níveis dos últimos anos. A alta volatilidade observada nos últimos meses tem custado caro e afastados os participantes do mercado.
O número de contratos em aberto (futuros + opções) recuou 44,41% na última semana, puxado principalmente pelo encerramento dos contratos de opções que venceram e não foram renovadas devido ao alto custo. O total de futuros em aberto ficou em 7,78 mil contratos (+ 0,50% em relação a semana retrasada), já o total de opções em aberto saiu de 34,01 mil contratos para 15,43 mil contratos na última semana (-54,63% no comparativo semanal).
A pouquíssima liquidez do mercado se une a uma falta de “apostas” por parte dos operadores, isso por que na última semana praticamente todos os participantes operaram com um saldo líquido de menos de 1.000 contratos. Ainda assim, o encerramento de contratos de opções movimentou os posicionamentos dos players, as PJs não financeiras que assumiam uma posição comprada até o fim do ano, se desfizeram de 7,12 mil PUTs que haviam vendido no mercado, e, com a opção de não repetir a operação, agora sustentam uma posição vendida de 959 contratos. Em um movimento inverso, as PFs, aumentaram a exposição comprada em 40%, através da diminuição de PUTs que haviam sido compradas. Apesar de toda essa movimentação, ainda não pode ser observado um “caminho” por nenhum dos participantes do mercado atualmente.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
As cotações voltando aos patamares de novembro/20 voltaram a atrair os produtores, no entanto, a volatilidade observada atualmente ainda pesa sobre aqueles que buscam fazer opções (CALL ou PUT).
Com a referência para o vencimento dos próximos dois meses rompendo o patamar de R$ 280,00/@, as PUTs com strike nos R$ 265,00/@ voltaram a se tornar boas opções para aqueles que buscam negociar e não detêm grande caixa para operar futuros. O custo de compra de PUTs “secas” no patamar de R$ 265,00/@ para os meses de fevereiro/21 e março/21 está em média avaliada à R$ 2,95/@, ou seja, um custo de cerca de 1,11% do valor que irá ser protegido.
As PUTs sintética continuaram no radar nesta semana, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção mais plausível devido ao menor custo de operação em comparação as opções. No entanto, é sempre necessário avaliar a demanda financeira para operar futuros, que a depender do nível de alavancagem podem exigir um grande aporte para os ajustes. Com o contrato futuro para maio/21 chegando ao patamar de R$ 276,10/@ na última sexta-feira, rompemos o valor recorde para tal vencimento, e, para aqueles que ainda não negociaram nenhuma parte do seu rebanho que irá ser abatido dentro desse período, tais preços se mostram atrativos. Desta forma, visualizamos que a venda de cerca de 20% dos animais que irão ser comercializados em maio/21 se mostra como uma boa opção.
Visualizamos que a janela para essas vendas deve durar no máximo até o fim desta semana, pois a partir da terceira semana de janeiro/21 o enfraquecimento da demanda interna deve começar a pesar sobre os frigoríficos. Não à toa, as cotações da carcaça casada nesta primeira semana ignoraram o recebimento de salários e manteve-se estável nos R$ 18,00/kg.
Com a alta do boi gordo na B3, o mercado a termo voltou a se aquecer, no entanto, o volume de negócios continua pequeno, com os pecuaristas se mantendo fora das vendas.
2. Enquanto isso, no atacado…
Semana de estabilidade para o mercado atacadista de carne bovina. Os últimos dias foram marcados pela baixa disponibilidade de mercadoria e pequena procura por parte da ponta compradora, o que acarretou estabilidade na precificação dos produtos. A carcaça casada bovina, apesar das tentativas de reajustes positivos no meio da semana, encerrou a sexta-feira cotada a R$ 18,00/kg.
Produtos de segunda, como dianteiros e pontas, tem demonstrado bom fluxo de saída durante este período, e orbitam a faixa dos R$ 15,50/kg. Do outro lado da moeda, o varejo, que ainda tem gôndolas carregadas, tem maior saída de produtos nobres, como picanha, maminha e etc. A movimentação nos próximos dias dependerá da necessidade de reposição dos varejistas que, consequentemente, dependem do ímpeto de compra do consumidor final.
Enquanto a carne bovina segue o caminho da estabilidade, o frango resfriado recuou 0,77% na comparação semanal, com os preços ficam ao redor de R$ 5,50/kg. Na comparação mensal, a recuou ultrapassa os 10,30%.
Caminho parecido com o que tem seguido a carcaça especial suína, que deslanchou no final de dezembro, mas entrou o novo ano andando de lado. O preço do produto encerrou a semana em R$ 11,61/kg, retornando aos preços vistos em novembro/20, desacelerando 1,15% na comparação semanal.
O mercado de ovos, apesar da maior procura pelo produto, ainda tem preços menores do que os observados em dezembro/20. O preço da caixa com 30 dúzias vem sendo negociada na casa dos R$ 98,00. Enquanto as vendas não atingem o patamar necessário, os produtores, em decorrência das altas dos insumos, seguem fazendo ajustes produtivos para reduzir os prejuízos.
3. No mercado externo
Com mais de 1,22 milhão de toneladas enviadas para fora do país na terceira semana de novembro/20, as exportações de milho chegaram ao total de 3,49 milhões de toneladas nos 14 primeiros dias úteis de novembro/20. A média diária estabeleceu-se em 249,70 mil toneladas, 21,50% a mais do que fora registrado em novembro/19. Desta forma, a tendência é que o mês de novembro/20 seja o melhor da história para um mês de novembro em volume embarcado, com mais de 4,8 milhões de toneladas exportadas.
A evolução dos preços internacionais tem proporcionado uma melhora nos negócios para as empresas exportadoras. Isso por que o preço médio do milho exportado já subiu 7,29% no comparativo anual, chegando ao valor de US$ 182,2/t. Diante disso, a receita obtida com a venda de cereal brasileiro chegou aos US$ 636 milhões, com uma média diária de US$ 45,49 milhões, 30% a mais do que foi registrado em novembro/19.
Após duas semanas inicias frenéticas, os embarques de carne bovina brasileira apresentaram uma desaceleração forte na terceira semana de novembro/20. Foram 32,10 mil toneladas enviadas para fora do país na última semana, 29% a menos do que fora registrado na segunda semana de novembro/20. Com tal desempenho, a média diária embarcada do mês de novembro/20 reduziu 12% em relação a semana retrasada, se posicionando em 8,50 mil toneladas/dia. Ainda assim, se mantido esse desempenho até o fim do mês, romperíamos um recorde nos embarques diários de proteína bovina.
Com a manutenção do preço médio de venda na casa dos US$ 4,39 mil/t, a receita diária obtida também reduziu 12%, ficando em US$ 37,32 milhões/dia. Apesar do recuo, tal resultado ainda é 8% superior ao de outubro/20, quando a receita diária obtida rondava a casa dos US$ 34,52 milhões/dia.
Com um volume ínfimo de soja disponível, as exportações da oleaginosa continuam a recuar semana após semana. Desta vez, foram apenas 307,36 mil toneladas enviadas para o exterior durante toda a última semana, com isso, a média diária exportada de soja recuou para 88,75 mil toneladas, 14% menor que a média da semana anterior. A manutenção deste desempenho deve levar as exportações de soja a menos de 2,00 milhões de toneladas embarcadas em novembro/20, pior desempenho para um mês de novembro desde 2016.
A receita obtida com as vendas da oleaginosa atingiu os US$ 456,27 milhões no acumulado até a terceira semana de 2020, com os preços de exportações estabilizado próximo dos US$ 365/t, a receita média diária também recuou 14% no comparativo semanal, chegando a um valor de US$ 32,59 milhões/dia, 64% menor do que foi em novembro/19.
4. A compra do pecuarista
Se o ano iniciou negativo para os pecuaristas que ainda buscavam janela de compras de insumos (milho e farelo de soja), a situação se mostra mais branda para a reposição de animais.
Enquanto o boi gordo tem experimentado valorizações a três semanas consecutivas sobre o seu preço, chegando a fechar essa semana no maior valor desde a última semana de novembro/20 (cotado a R$ 278/@), o bezerro não está é capaz de demonstrar a mesma força de alta e está estabilizado nos R$ 2.425,00/cabeça desde a penúltima semana de dezembro/20.
Com isso, o ágio do bezerro sobre o boi gordo inicia o ano no menor valor dos últimos onze meses, a 34,56%. Tal redução do indicador vai em linha com o movimento natural do ciclo pecuário, com a forte retenção de fêmeas iniciada em meados de 2019, aos poucos a oferta de bezerros vai aparecendo com maior força no mercado já em 2021, além disso, a forte elevação dos insumos (milho e farelo de soja) está afastando os compradores do mercado, visto que esses estão com receio quanto à margem da atividade estar ficando cada vez menor.
A tendência natural do movimento do ciclo pecuário é apontar para uma estabilização dos preços da reposição, e, como ainda a oferta de boi gordo se mostra escassa, o ágio deve se encaminhar para uma forte redução, se “colocando” dentro da média histórica de 31%. Por isso, a atenção dos pecuaristas com a reposição em 2021 deve ser grande, a compra de animais em 2021 a preços elevados pode levar a uma margem espremida em 2022, e, o acompanhamento do mercado nos próximos meses deve ser feito de perto para evitar levar um custo de aquisição muito grande para o próximo ano.
5. O destaque da semana
O destaque desta semana fica para a divulgação do Indea-MT sobre dados de abate de bovinos em Mato Grosso no mês de dezembro/20. Foram aproximadamente de 398 mil animais enviados para a linha de abate no durante o período, avanço de 1,17% do que fora registrado em novembro/20. Tal aumento foi causado sobretudo pelo incremento das fêmeas no abate total, já que essas chegaram a um total de 131,47 mil animais, o maior volume desde setembro/20.
Com a divulgação destes, foi possível analisar o acumulado de 2020. Durante 2020 foram abatidas 5,25 milhões de cabeças em Mato Grosso, 7,51% a menos que em 2019, sendo este o menor volume desde 2017. A redução no número de animais levados a linha de abates, está relacionado a menor participação das fêmeas, que registraram um recuo de 17% no abate total, com pouco mais de 2,03 milhões de cabeças. Vale a ressalva de que apesar do volume de fêmeas abatidas em 2020 ser maior que em 2016, ainda assim, a participação dessas nos abates total encerrou o ano com o menor valor desde 2010, representando apenas 38,85% do total abatido em 2020.
6. E o que está no radar?