Com o crescimento das preocupações do mercado para a reta final da safra de soja na América do Sul, o preço do grão atingiu seu maior patamar desde o início de junho nesta sexta-feira na bolsa de Chicago.
O contrato para março, o mais negociado atualmente, subiu 1,5% (21,75 centavos de dólar), para US$ 14,700 o bushel. A posição seguinte, para maio, subiu 1,46% (21,25 centavos de dólar), a US$ 14,7525 o bushel, maior cotação desde 11 de junho do ano passado, segundo cálculos do Valor Data.
O suporte para os atuais níveis, como já era esperado, vem da quebra na safra da América do Sul, em especial na Argentina e no Sul brasileiro. O analista Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado, lembra que a previsão para fevereiro não é das mais otimistas para essas áreas, o que deve manter o quadro de baixa produtividade nas lavouras.
“Os mapas para fevereiro não apontam melhora na Argentina, e indicam um cenário apenas um pouquinho melhor no Sul do Brasil”, disse ele. Com isso, Roque observa que não será surpresa a oleaginosa retomar o patamar de US$ 15 por bushel, que já foi atingido na metade do ano passado.
“Os carregamentos do Brasil estão agora mais caros do que os dos EUA. Isso sugere que a China precisará voltar aos Estados Unidos para suprimentos até julho”, reforçou o analista Arlan Suderman, da StoneX, à Dow Jones Newsiwres.
Ainda no Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reportou nesta sexta melhora nas condições da safra de soja do Matopiba (fronteira agrícola que envolve os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia). No Centro-Oeste, principal área produtora do país, as perspectivas também são positivas, enquanto a estatal manteve tom pessimista quanto à safra do Sul.
Além do clima sul-americano, o reporte de boas vendas dos EUA ao exterior ofereceu apoio extra à alta. Segundo o Departamento de Agricultura americano (USDA), exportadores do país relataram a venda de 657 mil toneladas de soja.
Foram acertadas vendas de 264 mil toneladas de soja americana para a China para entrega na próxima safra (2022/23), 141,514 mil toneladas de soja para o México para entrega na safra atual (2021/22) e 251,5 mil toneladas de soja para “destinos desconhecidos” para entrega também na safra atual.
Com apoio da oleaginosa, o milho voltou a fechar em alta na bolsa de Chicago. O contrato para março, o mais ativo, subiu 1,72% (10,75 centavos de dólar), a US$ 6,360 o bushel. A posição seguinte, maio, avançou 1,65% (10,25 centavos de dólar), a US$ 6,3325 o bushel.
O cereal tem sido direcionado por dois fundamentos importantes para o mercado americano, que é a referência para Chicago. O primeiro são as preocupações dos traders quanto à área que será destinada ao milho na safra 2022/23 no país — existe risco de a área de soja ultrapassar o cereal pela segunda vez na história, o que deixaria o quadro de oferta e demanda dos EUA mais apertado.
Outro apoio vem da demanda do setor de biocombustíveis — vale lembrar que o etanol americano é feito a partir do milho.
Além disso, o cereal tem suporte de outros fatores, como uma possível os problemas na América do Sul e a possibilidade de conflito entre Rússia e Ucrânia, uma vez que os ucranianos disputam o mercado da China com os Estados Unidos.
Esses fatores ajudam explicar a forte posição comprada dos fundos de investimentos no milho, com mais de 325 mil posições líquidas apostando em sua alta no mercado futuro.
Por fim, o trigo apresentou leve recuperação depois de duas fortes quedas. O vencimento para março, o mais negociado atualmente, teve alta de 1,19% (9,25 centavos de dólar), a US$ 7,8625 o bushel. A posição seguinte, maio, avançou 1,12% (8,75 centavos de dólar), a US$ 7,8625 o bushel.
O mercado do trigo segue se posicionando de olho na possibilidade de um conflito entre Rússia e Ucrânia, dois dos principais exportadores globais do cereal.
Cálculos do Commerzbank apontam que o embate poderia comprometer a negociação de cerca de 16 milhões de toneladas de trigo, sendo muito difícil encontrar fornecedores capazes de cobrir o buraco deixados pelos países da antiga União Soviética.
“Tendo em vista as tensões em curso entre a Ucrânia e a Rússia, existe o risco de que as entregas de trigo de dois dos mais importantes exportadores de trigo sejam interrompidas”, reforçou, em relatório distribuído na quinta-feira.
(Beef Point/Valor Econômico)