Quando o cinegrafista Mark Xia voltou ao trabalho este mês após os feriados, a produtora de vídeo de Xangai onde trabalhava disse a ele para tirar três meses de licença sem remuneração, num momento em que a epidemia de coronavírus prejudica as empresas da China.

Agora, Xia está procurando um emprego de meio período depois que a empresa, com cerca de 100 funcionários, rejeitou seu pedido de que pagasse pelo menos a metade de seu salário mensal durante a suspensão, deixando ele sem outra opção a não ser pedir demissão.

“Entendo que o fluxo de caixa da empresa é apertado”, disse Xia, 25 anos, à Reuters. “Adiamos algumas filmagens devido ao surto de coronavírus, e isso teve um enorme impacto em nossas receitas, essa é a realidade”.

Xia é um dos muitos que perderam o emprego durante a epidemia, que matou quase 1.870 e infectou mais de 72 mil, provocando restrições rígidas de viagens e movimentos que mantiveram muitas empresas fechadas, interrompendo a demanda e o fornecimento de bens e serviços.

Muitas pequenas empresas, como a ex-empregadora de Xia, enfrentam dificuldades financeiras por falta de pedidos, forçando-as a demitir trabalhadores ou segurar salários para manter-se à tona.

Mas o surto ainda não mostrou sinais de um pico.

Qualquer aumento rápido do desemprego pode representar um grande desafio para os líderes obcecados pela estabilidade da China, com o crescimento da segunda maior economia do mundo já tendo caído para mínimas em quase três décadas.

Apenas 34% de quase mil pequenas e médias empresas disseram que poderiam sobreviver por um mês com o fluxo de caixa atual, mostrou uma pesquisa recente da Universidade de Tsinghua e da Universidade de Pequim.

Um terço disse que poderia durar dois meses, enquanto 18% disseram que poderiam durar três meses.

“Pode haver grandes demissões”, disse Wang Jun, economista-chefe do Zhongyuan Bank em Pequim.

Durante a crise financeira global de 2008 e 2009, cerca de 20 milhões de trabalhadores migrantes chineses perderam seus empregos quando as exportações caíram. Isso gerou um enorme pacote de estímulos de Pequim que rapidamente impulsionou o crescimento, mas sobrecarregou a economia com dívidas.

Mas em 2002 e 2003 a economia chinesa permaneceu sólida apesar da Sars.

Na semana passada, o gabinete prometeu evitar demissões em larga escala, pedindo aos governos locais para ajudar a estabilizar os empregos recorrendo a seguros-desemprego e fundos semelhantes. (Reuters)