(Reuters) – O Banco Central chegou a discutir reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada em função da inflação baixa e recuperação econômica mais fraca, mas acabou optando pela manutenção da taxa em 6,50 por cento, que defendeu como “melhor decisão possível” diante do choque externo e dólar mais alto.

Em ata do Copom divulgada nesta terça-feira, o BC deixa claro que sabia que pegaria os agentes econômicos de surpresa, que apostavam amplamente em nova redução da Selic, mas descartou que o peso dado ao fator cambial em sua decisão fosse uma reação mecânica à disparada da moeda norte-americana e que os choques externos devem ser combatidos apenas diante impacto secundário que podem ter na inflação.

“Avaliou-se o fato de que a comunicação recente de membros do Copom parecia ter sido interpretada por parte do público como indicativa de decisão na direção de uma redução adicional da taxa de juros”, apontou o BC no documento.

“Ao final, prevaleceu o entendimento de que focar na melhor decisão possível dado o conjunto de informações disponíveis no momento resulta, ao longo do tempo, em maior credibilidade para a política monetária”, acrescentou o BC, apontando que a mudança no balanço de riscos para a inflação em função do choque externo reduziu as chances de o IPCA permanecer abaixo da meta por meio de possíveis impactos secundários na inflação.

Na semana passada, o BC surpreendeu ao manter a taxa básica de juros, justificando que o cenário externo tornou-se mais desafiador e apresentou volatilidade em meio à recente escalada do dólar, que chegou próximo a 3,80 reais.

A expectativa majoritária do mercado era de que o BC faria novo e último corte de 0,25 ponto na Selic, diante da perda de força da atividade econômica e o comportamento favorável da inflação no país, fatores que, até então, o BC vinha sinalizando estar de olho para sua decisão sobre os juros.

Na ata, o BC destacou que estará atento à propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque externo. Mas lembrou que, dado o quadro de expectativas de inflação ancoradas, “esses efeitos tendem a ser mitigados pelo elevado grau de ociosidade na economia”.

O BC trouxe ainda que “a ausência de relação mecânica entre o cenário externo e a política monetária e sua forma de atuação serão evidentes ao longo do tempo, mas que já deveriam ser explicitadas pelo Copom nas suas comunicações oficiais”.

O BC também lembrou no documento que a atuação pautada nos impactos secundários dos choques já era sua diretriz quando, por exemplo, houve choque favorável nos preços de alimentos, com forte efeito desinflacionário no ano passado.

A disparada do dólar em relação a divisas de países emergentes tem sido alimentada pela expectativa que os juros nos Estados Unidos podem subir mais do que o esperado, tornando o país mais atraente para o fluxo global de recursos. No caso brasileiro, a volatilidade também tem sido embalada pelos temores dos mercados com as eleições presidenciais.

O BC voltou a repetir na ata que vê como adequada a manutenção da Selic no mesmo patamar para as reuniões que ocorrerão daqui para frente. O próximo encontro do Copom ocorre em 19 e 20 de junho.