Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

O mercado subiu forte nos últimos três meses, passando de valores próximos a R$ 153,50/@ em meados de agosto, para um novo patamar, em R$ 230,00/@ na segunda metade de novembro – alta próxima a 50%.

No mesmo período, as escalas de abate ficaram cada vez menores, caindo 42%, com a média nacional passando de 6,0 dias úteis em agosto/setembro para intervalo próximo a 3,5 dias na primeira metade de novembro.

Indústrias elevaram suas indicações em meio a oferta restrita, e a disputa entre mercado interno e externo ficou mais acirrada.

 

As altas para a arroba foram repassadas para o atacado, permitindo que a operação preservasse seu spread positivo (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), com a média parcial em novembro cravando a maior proporção do 2º semestre, em 2,9%.

Entretanto, as valorizações da arroba levantavam dúvidas sobre a capacidade de repasses ao varejo, já que a demanda interna tinha potencial de colocar um teto para as altas. Já falamos em mais detalhes sobre o tema nesta análise especial, acessada por este link.

É fato que a oferta continua curta, imprimindo preços fortalecidos no mercado físico e diferenciais de base menores, mas o consumidor brasileiro mais cauteloso, frente as revisões dos preços das carnes, pode impedir que as indicações pela arroba renovem suas máximas no curto prazo. 

Os repasses ao varejo foram comedidos até outubro, mas os dados a serem atualizados pelo Instituto de Economia Aplicada podem mostrar repasses mais agressivos em novembro (gráfico 2).

 

A variação histórica da carne bovina no varejo também é outro ponto importante para se acreditar em novos repasses no curtíssimo prazo, já que os meses entre setembro e dezembro marcam as maiores valorizações da carne bovina no varejo.

O setembro deste ano, reajustou em +0,70%, com nova alta de 1,10% em outubro (segundo uma ponderação entre os cortes comercializados). Os dados para novembro a serem divulgados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) devem comprovar nova alta em novembro, possivelmente, em um intervalo entre +4% e +10% (janela já registrada em 2010 e 2014).

Para dezembro, nova alta possível ao redor de 5% (proporção observada em 2011 e 2014). Em janeiro costumam acontecer correções para baixo, entre -0,5% e -2%.

As projeções são conservadoras, já que, se confirmadas, acumularão alta de 18% no ano – proporção abaixo do acumulado de 26% em 2010, e dos 20% em 2014.

Vale lembrar ainda, que a forte vinculação na mídia a respeito das valorizações das proteínas animais, adiciona imprevisibilidade as revisões dos preços, além de gerar um ambiente oportuno as valorizações, cenário que combinado com a relação bastante ajustada entre a oferta e a demanda, pode favorecer altas ainda mais robustas.

Mas não foi apenas no mercado interno que os preços mais altos das carnes impactaram o equilíbrio do mercado, o viés altista da arroba também contagiou os valores da carne bovina in natura para exportação, diminuindo a diferença entre o valor da carne comercializada na China e o preço da carne brasileira exportada para o país asiático (gráfico 3). Esse tema também já foi discutido em maior profundidade nesta análise especial: link.

Ou seja, a valorização da carne brasileira pode começar a impactar sua competitividade também no ambiente externo, acendendo um alerta se as propostas pela carne brasileira também podem ser corrigidas no mercado internacional (a forte volatilidade do dólar mantém este cenário ainda mais nebuloso).

Logo, a ponta demandante assume a direção dos preços neste momento, especialmente no ambiente doméstico, e neste sentido, o enfraquecimento do consumo brasileiro tem potencial de colocar o equilíbrio de preços em níveis menores.

O mercado vem passando por correções nos últimos dias, com negociações em preços ligeiramente menores no mercado físico, e correções para baixo dos contratos futuros. E assim como a intensidade das altas, os recuos rápidos assustaram os operadores do mercado.

Portanto, a única certeza é que a volatilidade aumentou muito, mas as expectativas continuam para mercado mais fortalecido em 2020 (a conjuntura permeada pelo ciclo pecuário, importações chinesas e consumo interno gradualmente mais fortalecido corroboram para esse cenário).

Um abraço, e até a próxima!