Marco Guimarães é administrador pela ESALQ/USP e trainee pela Agrifatto

Resumo da semana:

Sobre as notícias de hoje relativas aos embarques de carne bovina brasileira para a China, parágrafo do tratado sanitário entre Brasil e China atesta que, em caso de BSE, todas as plantas ficam automaticamente desabilitadas.

Houve questionamento do país asiático nesse sentido. Entretanto, como o caso é atípico, o que não altera o status do país na OIE, a expectativa é que a situação se normalize em breve.

No ano passado, foi registrado um caso atípico de BSE nos Estados Unidos. Nada se alterou.

Hoje, a China representa 37% das exportações totais de carne bovina brasileira.

No mercado interno, a arroba do boi gordo variou em diferentes direções na última semana, a depender da facilidade da indústria em originar animais.

Entre as praças levantadas pela Agrifatto, no comparativo semanal, as cotações recuaram em 4 (quatro) praças, avançaram em 3 (três) e ficou estável em São Paulo.

As escalas de abate encurtaram levemente, mas ainda dão tranquilidade para as indústrias na aquisição de matéria-prima. A média semanal ficou em 7,4 dias.

O pagamento de salários no início deste mês pode impulsionar o consumo interno de carne bovina, dando sustentação aos preços da arroba no curto prazo.

No mercado externo, em maio, as exportações de carne bovina in natura seguiram em ritmo acelerado e ajudaram a evitar quedas maiores para a arroba.

A liquidação do contrato futuro de maio, calculada pela média dos 5 (cinco) últimos fechamentos do indicador do boi gordo (Esalq/B3), se deu em R$ 152,84/@.

  1. Na tela da B3

O contrato futuro para junho/19, após recuar 1,05% na última semana, encerrou a sexta-feira (31) em R$ 150,90/@, menor valor desde que este contratou começou a ser negociado.

Já o vencimento outubro/19, contrato do segundo semestre com maior liquidez na B3, recuou 4,13% em 7 dias e encerrou a última semana em R$ 156,85/@, a menor cotação desde 11/março.

O spread entre os contratos para junho e outubro/19, que estava em 7,28% (ou R$ 11,10/@) na sexta-feira (24/mai), recuou e encerrou a semana passada em 3,94% (ou R$ 5,95/@).

Por mais que no curtíssimo prazo a diferença entre estes dois contratos possa diminuir ainda mais, a tendência é que nas próximas semanas ela aumente e volte a trabalhar acima de 4%.

Nesta segunda-feira (3/6), notícias de que a China pediu esclarecimentos sobre o caso atípico de BSE trouxe fraqueza às cotações. O contrato futuro de outubro atingiu mínima parcial de R$ 154,55/@.

  1. Enquanto isso, no atacado…

Das proteínas no atacado, apenas a carne suína apresentou valorização ao longo da última semana.

A carcaça casada bovina recuou 0,67% no comparativo semanal e fechou a sexta-feira (31) em R$ 10,33/kg, menor valor desde a primeira semana de abril. Em maio, registrou queda de 2,18%.

O frango resfriado caiu 0,72% na semana, cotado em R$ 4,81/kg. No consolidado de maio, o preço subiu 0,31%.

Já a carcaça especial suína avançou 3,62% no comparativo semanal, fechando em R$ 7,16/kg na sexta-feira (31). Apenas no último mês, a alta foi de 13,74%.

Com o pagamento de salários na 1ª semana de junho, o consumo interno pode acelerar e permitir avanços das proteínas do atacado no curto prazo.

O spread (diferença de preços entre a carne bovina no atacado e a arroba do boi gordo) segue trabalhando em campo positivo e, na média da semana passada, ficou em 1,46%.

Possíveis avanços das cotações do atacado podem permitir melhores margens para as indústrias no início deste mês.

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos embarques de maio/19 contabilizaram um volume total de 120,96 mil toneladas e uma receita de US$ 470,05 milhões.

A média diária registrada foi de 5,50 mil toneladas, alta de 5,2% em relação à média do mês anterior e avanço de 27,5% frente ao desempenho do mesmo período de 2018.

O preço médio registrado por tonelada foi de US$ 3.885,83, alta de 2,6% em relação a abril/19 e recuo de 7,3% quando comparado com o valor médio de maio/18.

Se as exportações de junho/18 foram prejudicadas pela greve dos caminhoneiros, que aconteceu no final de maio/18, os deste ano podem ser prejudicados pela suspenção das exportações de carne bovina para a China.

Ainda é cedo para mensurar os possíveis danos, posto que o caso de “vaca loca” é atípico e a situação deve se normalizar nos próximos dias.

Para mais detalhes sobre as exportações de carne bovina no primeiro bimestre de 2019 e perspectivas para este ano basta clicar aqui.

  1. O destaque:

No mercado futuro, a arroba do boi gordo, que já havia recuado na semana retrasada, intensificou o movimento e fechou a semana em queda.

O vencimento outubro/19, que chegou a trabalhar acima de R$ 164,00/@ em meados de maio, recuou e encerrou a última semana em R$ 156,85/@, o mesmo patamar do início de março/19.

A queda dos preços no mercado físico pelo aumento da oferta de animais terminados iniciou este movimento, que foi intensificado após notícias que o Ministério da Agricultura (MAPA) investiga um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) no Mato Grosso.

Em comunicado oficial, o MAPA comunicou o seguinte:

“A Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirma a ocorrência, no Mato Grosso, de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). Essa doença ocorre de maneira espontânea e esporádica, e não está relacionada à ingestão de alimentos contaminados.

Trata-se de uma vaca de corte, com idade de 17 anos. Todo o material de risco específico para EEB foi removido do animal durante o abate de emergência e incinerado no próprio matadouro. Outros produtos derivados do animal foram identificados, localizados e apreendidos preventivamente, não havendo ingresso de nenhum produto na cadeia alimentar humana ou de ruminantes. Não há, portanto, risco para a população.

Cabe ressaltar que o Mapa e o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (INDEA/MT) iniciaram imediatamente as investigações de campo, com interdição da propriedade de origem. Todas as ações sanitárias de mitigação de risco foram concluídas antes mesmo da emissão do resultado final por laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Após a confirmação, nesta sexta-feira (31), o Brasil notificou oficialmente à OIE e os países importadores, conforme preveem as normas internacionais.

Segundo as normas da OIE, não haverá alteração da classificação de risco do Brasil para a doença, que continuará como país de risco insignificante, a melhor possível para a EEB. Em mais de 20 anos de vigilância para a doença, o Brasil registrou somente três casos de EEB atípica e nenhum caso de EEB clássica.”

  1. E o que está no radar?

O caso de BSE, na noite da sexta-feira (31), foi confirmado como atípico pelo MAPA, portanto não apresenta riscos à saúde humana e diminui a probabilidade de possíveis embargos à carne bovina. A China abriu esta semana pedindo esclarecimentos, o que é natural. O MAPA já enviou as devidas explicações técnicas àquele mercado.

Mesmo assim, o mercado futuro recuou em um movimento de aversão ao risco. No mercado físico não foram notadas alterações representativas.

Nesse cenário, a queda do mercado futuro gera oportunidades aos pecuaristas, especialmente para aqueles que precisam comprar animais de reposição no final do ano. O mercado futuro deve reajustar positivamente os contratos mais longos, possibilitando o hedge via futuros ou opções.

Um abraço e até a próxima semana!