Em relatório divulgado hoje, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu sua estimativa para os estoques finais americanos de milho na safra 2019/20, de 63,1 milhões para 42,6 milhões de toneladas, conforme esperado pelo mercado. Em relação ao ciclo 2018/19, o volume previsto é 23,7% menor.

Na semana passada, analistas ouvidos pelo “The Wall Street Journal” afirmaram contar com um corte expressivo, para cerca de 44 milhões de toneladas.

Os números do USDA refletem os problemas climáticos que prejudicam a produção no país. Chuvas acima de média desde o início da semeadura do ciclo 2019/20 afetam as lvaouras. Com isso, a produção nos EUA na temporada foi revisada de 381,78 milhões de toneladas para 347,5 milhões, recuo de quase 10% e volume 5,1% inferior ao de 2018/19.

Assim, pelas estimativas do USDA, as exportações de milho dos EUA na safra 2019/20 devem totalizar 54,6 milhões de toneladas, ante as 57,79 milhões projetadas no mês passado e as 55,88 milhões de 2018/19.

Com os correçoes efetuadas no quadro americano, a produção mundial do cereal passou a ser estimada pelo USDA em 1,1 bilhão de toneladas, ante as 1,33 bilhão de toneladas previstas em maio e as 1,2 bilhão de toneladas da temporada anterior. A estimativa para a safra 2019/20 do Brasil foi mantida em 101 milhões de toneladas.

Os estoques finais da China foram mantidos em 191,2 milhões de toneladas para 2019/20, enquanto a demanda doméstica total do país continuou em 279 milhões de toneladas. A China segue respondendo pela maior parte dos estoques globais de milho, com 62% do total.

Ao fim da temporada 2019/20, o USDA estima que os estoques mundiais totalizarão 290,5 milhões de toneladas, o equivalente a 25,6% da demanda global.

Com ajustes apenas marginais no tabuleiro da soja, que sofre menos a influência do clima nos EUA, o USDA confirmou um quadro confortável para o grão na temporada 2019/20, o que tende a manter as cotações internacionais sob pressão. Os estoques finais da temporada deverão representar 31,7% da demanda mundial, ante 32,5% em 2018/19.

Segundo o órgão, nos EUA a colheita deverá alcançar 112,95 milhões de toneladas em 2019/20, 8,7% menos que em 2018/19. Mesmo que no Brasil, que passará a liderar a produção, o volume previsto de 123 milhões de toneladas (5,1% maior que neste ciclo 2018/19) se confirme, o total mundial, nas contas do USDA , cairá 1,8%, para 355,39 milhões de toneladas.

A queda da produção americana está ligada às disputas comerciais entre Washington e Pequim, que desde o ano passado limita as vendas de soja dos EUA à China, que taxou a soja americana em 25% e tem dado preferência à matéria-prima de outras origens, sobretudo o Brasil.

Mas também tem relação com a própria desaceleração do crescimento da economia chinesa e ao surto de peste suína africana que assombra o país asiático e vai reduzir a demanda para a produção de ração.

Conforme o USDA, as importações chinesas de soja deverão se manter no patamar mais baixo em que se encontram. Para 2018/19, a previsão agora é que alcancem 86 milhões de toneladas (1 milhão a menos que o previsto em maio), ante 94,1 milhões em 2017/18, e para 2019/20 a estimativa foi mantida em 87 milhões de toneladas — 57,7% das importações mundiais.

Mesmo nesse contexto, as exportações americanas, conforme o USDA, vão aumentar de 46,27 milhões de toneladas, em 2018/19, para 53,07 milhões em 2019/20 — em parte graças ao incremento das vendas para outros destinos, mas também para a China. Já os embarques do Brasil continuam projetados pelo órgão em 75 milhões de toneladas na próxima temporada, ante 78,5 milhões em 2018/19.

Dessa forma, portanto, o Brasil, que já lidera as exportações globais de soja em grãos há algumas safras, tende a encabeçar também a produção em 2019/20.

No caso do trigo, os problemas climáticos nos EUA também têm prejudicado a semeadura do cereal de primavera e reduzido a qualidade da safra de inverno. Nesse contexto, o USDA reduziu sua estimativa para os estoques finais no país em 2018/19 para 29,16 milhões de toneladas, um pouco mais do que previam analistas.

Mas as previsões do órgão para 2019/20 confirmaram que não faltará trigo no mercado mundial. A estimativa para a produção global foi elevada em quase 3 milhões de toneladas, para 780,8 milhões de toneladas, 6,7% mais que em 2018/19.

Esse incremento vem da melhor estimativa de produção em todos os players globais. A colheita da Rússia passou a ser calculada em 78 milhões de toneladas, com alta de 1 milhão na comparação com o relatório de maio. A produção da Ucrânia também subiu 1 milhão de toneladas entre os meses, para 30 milhões. A da Índia passou de 100 milhões para 101,2 milhões de toneladas.

E mesmo a produção americana, apesar das intempéries climáticas, foi elevada, já que o USDA projeta que a próxima safra de inverno (a ser plantada em outubro) recuperará os problemas atuais. A previsão é de 51,78 milhões de toneladas de trigo em 2019/20.

O comércio mundial deverá movimentar 185,4 milhões de toneladas. E os estoques finais globais, então, devem ficar em 294,34 milhões de toneladas. Esses volumes garantem uma relação entre estoque e demanda muito confortável de 38,6%.

No que diz respeito ao mercado americano em 2019/20, essa relação também é extremamente confortável e supera os 90%. O USDA elevou um pouco as projeções de uso para o mercado doméstico dos EUA de 30,56 milhões para 31,92 milhões de toneladas, mas manteve as perspectivas de exportação em 24,49 milhões de toneladas. Os cálculos de estoques finais, então, passaram a 29,16 milhões de toneladas, 2 milhões de toneladas abaixo do mês passado.