A população do Uruguai, país famoso pela qualidade do seu churrasco, está comendo menos carne bovina. Em 2019, o consumo uruguaio da proteína vermelha foi de 47,9 kg por habitante, o que representou forte queda de quase 5 kg/hab/ano em relação à quantidade registrada no ano anterior, de 52,7 kg/hab/ano, segundo levantamento do Instituto Nacional de Carnes (INAC).
Em comparação ao consumo registrado em 2015, de 53,5 kg/hab, a queda no ano passado foi de 5,6 kg/cabeça. A maior surpresa é que, em 2019, os patamares de consumo per capita de carne suína e de frango permaneceram praticamente os mesmos em relação aos verificados em 2018. Ou seja, não houve migração de proteínas no Uruguai – os consumidores simplesmente reduziram a busca pela carne bovina.
Segundo reportagem publicada pelo jornal uruguaio El Observador, a queda no consumo de carne vermelha no país vizinho é explicada principalmente pelo aumento de preços do produto ao longo do segundo semestre de 2019, aliada ao enfraquecimento de renda da população. Este encarecimento da proteína foi puxado principalmente pelo forte avanço das exportações uruguaias ao mercado da China. No segundo semestre do ano passado, o valor do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da carne bovina aumentou 25%, destaca o El Observador.
Embora o preço da proteína vermelha tenha se estabilizado durante os primeiros cinco meses de 2020, os valores continuaram em patamares altos. Além disso, este ano, o setor sofreu o impacto da pandemia Covid-19, que quase paralisou a atividade gastronômica no país. O avanço do dólar frente a moeda local também contribuiu para a valorização do preço interno da carne bovina.
Considerando todas as carnes, em 2019, o consumo total alcançou 87 Kg/hab/ ano, uma redução de 4,8 kg em relação à quantidade registradas no ano anterior, de 91,7 kg/cab/ano, de acordo com o INAC. Como já mencionado acima, essa queda deve-se quase que exclusivamente à redução de consumo anual da carne bovina. Em comparação com 2015, o consumo total de carne no Uruguai diminuiu aproximadamente 6 quilos, sendo a carne de porco a única que aumentou seu consumo no período (2 kg/pessoa).
Jorge López, presidente da Associação de Distribuidores e Importadores de Carne do Uruguai, disse ao El Observador que a queda no consumo per capita de carne bovina é uma das questões que mais preocupam atualmente a cadeia pecuária do país.
Redução nos abates e nas exportações
Um outro levantamento divulgado recentemente pelo INAC mostrou que Uruguai reduziu consideravelmente os abates e, consequentemente, os embarques da proteína nos primeiros quatro meses do ano. Além disso, houve forte aumento das importações uruguaias de carne bovina no quadrimestre e considerável redução nos preços pagos aos pecuaristas locais em igual intervalo de tempo.
No acumulado de janeiro a abril de 2020, o abate de bovinos sofreu retração de 28% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto os preços nas fazendas dos novilhos e vacas caíram 22% e 24%, respectivamente, informou o presidente do INAC, Fernando Mattos.
Por sua vez, o volume acumulado das exportações de carne bovina caiu 25% no quadrimestre, para 143 mil toneladas, quase 50 mil toneladas a menos em relação à quantidade de 190 mil toneladas registrada em igual período 2019. Em receita, os embarques registraram uma queda de US$ 114 milhões em comparação com o faturamento dos primeiros quatro meses de 2019.
Em relação ao mercado interno, houve um significativo aumento de importações de carne bovina, que atingiram quase 11 mil toneladas no quadrimestre, representando 25% do total comercializado em seu mercado interno no quadrimestre, ante a participação de 11,5% registrada em igual intervalo de 2019 e de 6,7% verificada no mesmo período de 2018, de acordo com o INAC. (DBO)