O Brasil importou 6,224 milhões de toneladas de trigo em 2021, com desembolso de US$ 1,668 bilhão, de acordo com dados do Agrostat – sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro – disponibilizados nesta sexta-feira (14). Na comparação com o volume adquirido pelo País no ano anterior, de 6,159 milhões de toneladas, o volume foi 1,05% maior, refletindo a maior produção interna do cereal. O valor desembolsado com as compras do cereal foi 24,2% superior em relação ao US$ 1,343 bilhão gasto em 2020. O preço médio do trigo importado avançou 23%, passando de US$ 218,01 a tonelada em 2020 para US$ 268,05 a tonelada no último ano – números que refletem a valorização do dólar ante o real na comparação com igual mês do ano passado e a alta da cotação do trigo na moeda norte-americana.
Do volume total importado no ano passado, 5,433 milhões de toneladas foram de cereal argentino. Na sequência, consta o cereal paraguaio (333,526 mil toneladas) e uruguaio (307,586 mil toneladas) como as três principais origens. O Brasil importa anualmente cerca de 50% a 60% do volume consumido internamente de trigo, de aproximadamente 12 milhões de toneladas.
Em dezembro, moinhos brasileiros compraram 443,525 mil toneladas de cereal do exterior, 56,4% a mais que em igual período do ano passado. O valor desembolsado com a importação do produto, contudo, foi 89% superior, no total de US$ 126,409 milhões. O preço médio do cereal importado ficou em US$ 285,01 por tonelada em dezembro. Em ambos os anos, o cereal argentino predominou entre as origens, com 410,630 mil toneladas adquiridas do país em dezembro do ano passado.
Outro destaque do ano foi o recorde de exportações, com as vendas externas superando 1 milhão de toneladas pela primeira vez desde 2015, quando foram comercializadas 1,779 milhão de toneladas. Em 2021, 1,130 milhão de toneladas de trigo brasileiro foram exportadas com geração de receita de US$ 283,834 milhões. O volume foi 101,5% maior ao exportado no ano anterior (561 mil toneladas) e a receita avançou 154% na mesma comparação ante US$ 111,714 gerados em 2020. O preço médio do cereal exportado no ano passado foi de US$ 255,34 por tonelada ante US$ 199,18 por tonelada em 2020, alta de 28%. No ano, os três principais destinos foram: Arábia Saudita (318,483 mil toneladas), Indonésia (290,765 mil toneladas) e o Vietnã (233,533 mil toneladas).
Em dezembro do ano passado, as vendas externas de trigo brasileiro somaram 540,516 mil toneladas – maior volume embarcado em 10 anos -, gerando receita de US$ 157,393 milhões. Para os próximos meses, são esperadas novas vendas expressivas do cereal local ao mercado internacional, impulsionados pelo dólar forte ante o real. A janela favorável à exportação do trigo nacional vai até março.
O Itaú BBA aponta, em relatório mensal sobre as commodities, que o comprador externo mantém a oferta do trigo brasileiro no radar para futuras aquisições. “Ainda que haja uma desvalorização do preço do trigo internacionalmente, o câmbio ainda incentiva as exportações do trigo nacional e o mês de janeiro sazonalmente é o período em que as vendas são mais intensas. Se o volume for semelhante ao mês de dezembro, o montante pode enxugar o balanço doméstico do trigo, mesmo com a safra recorde”, observam os analistas do banco.
Demanda firme – A competição do cereal nacional com o mercado externo e a indústria de ração preocupa a indústria moageira. Em 2021, estas foram as tônicas no uso nacional do cereal, passando de ser destinado unicamente à alimentação humana e ao consumo interno, e a tendência é que persistam neste ano. Neste contexto, o dólar que tende a se manter apreciado ante o real, em ano eleitoral, deve manter as vendas externas atrativas para os produtores. “Hoje, o trigo brasileiro é o mais barato do mundo para exportação. Com dólar em alta, a conta final fica interessante para o importador e os preços atrativos para os vendedores”, avalia o gerente sênior de Risco de Grãos e Algodão da consultoria Hedge Point, Roberto Sandoli, ao Broadcast Agro. “A expectativa é que sejam exportados bons volumes neste ano, especialmente de cereal gaúcho, a depender do câmbio e do tamanho da safra”, acrescenta. Para suprir o abastecimento doméstico, a indústria moageira nacional deve importar de 6 milhões a 7 milhões de toneladas neste ano, projeta Sandoli. Ele destaca que o cereal exportado tem sido o tipo pão, diferentemente de anos anteriores em que apenas o trigo ração era vendido ao mercado externo.
No Rio Grande do Sul, moinhos estimam ter de importar cerca de 500 mil a 600 mil toneladas adicionais do cereal, mesmo após uma safra recorde de 3,41 milhões de toneladas, em virtude das exportações recordes, segundo o Sindicato da Indústria do Trigo do Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS). “A preocupação da indústria moageira é enorme neste ano por não haver segurança de trigo disponível. Vai faltar trigo até a próxima safra e teremos de recorrer à importação até mesmo de origens como os Estados Unidos, além da Argentina”, observa o presidente do Sinditrigo-RS, Rogério Tondo. O Sinditrigo/RS calcula que, do total da safra, 2 milhões de toneladas tendem a ser destinados à exportação no acumulado da temporada e outras 550 mil toneladas seriam usadas para sementes e vendas para outros Estados. Contudo, moinhos gaúchos consomem cerca de 1,5 milhão de toneladas por safra, o que resultaria em defasagem de 600 mil toneladas. “Geralmente importamos 300 mil toneladas e devemos importar pelo menos 900 mil toneladas em meio ao câmbio elevado e instável, que desorganiza a precificação”, diz Tondo.
Já o uso do trigo na alimentação animal, que cresceu expressivamente no ano passado, vai depender ainda da safra brasileira de milho e dos preços deste no mercado físico. A quebra na safra de verão e as incertezas quanto ao tamanho da área a ser cultivada com o milho safrinha por problemas nas lavouras de soja, que podem diminuir a disponibilidade do cereal e impulsionar as cotações, são fatores monitorados pelo setor. “A indústria retomou o apetite por compras de trigo na mescla para ração e a parceria comercial com produtores de trigo. Não tem volta e deve se estender ao longo do ano e na próxima safra”, avalia um executivo de suprimento de granja. Essa competição deve ficar ainda mais acirrada em ano de oferta limitada. Isso porque, até o momento, a conjuntura aponta para estabilidade na área cultivada com trigo nas principais praças produtoras. Levantamentos de intenção de plantio nos países vizinhos e fornecedores de cereal à indústria moageira brasileira ainda não são conhecidos.
(AE)