Jornal do Brasil

O jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou nesta quarta-feira (20) uma matéria onde conta que a JBS, o maior fabricante de carnes do mundo, provocou críticas ferozes ao colocar seu fundador de 84 anos de volta à presidência da empresa familiar depois que seus dois filhos foram presos.

Segundo a reportagem José Batista Sobrinho assumirá o cargo de chefe executivo até maio de 2019, dirigindo a JBS que atravessa um gigantesco escândalo de corrupção e contará com a ajuda de seu neto de 26 anos como conselheiro. As ações da empresa, que possui marcas como a Swift e Pilgrim’s Pride nos EUA, encerraram com baixa de 4% na segunda-feira (18).

Journal destaca que o anúncio da JBS contrasta com a estratégia de outros gigantes brasileiros, como o grupo de construção Odebrecht e a Gerdau, que estão retirando suas famílias fundadoras da administração das empresas para recuperar a confiança dos investidores.

“As famílias dessas empresas terão que ser completamente removidas ou as empresas terão que ser vendidas – caso contrário, elas não têm muita chance de sobrevivência”, disse Marcelo Godke, professor de direito na escola de negócios Insper em São Paulo, referindo-se a empresas envolvidas nas investigações de corrupção no Brasil.

O modelo de negócios de gerência familiar prosperou no Brasil ao longo do século passado, como tem em toda a América Latina, e geralmente é elogiado por tornar as empresas mais estáveis ​​e capazes de resistir à turbulência econômica da região, aponta o noticiário.

A JBS foi empurrada para o centro da investigação Lava Jato no início deste ano, quando os acionistas controladores da JBS, por meio de sua holding, admitiram que subornaram cerca de 2.000 políticos, incluindo o presidente Michel Temer, afirma o texto.

O Sr. Batista Sobrinho, pai de Joesley e Wesley, que fundou a JBS em 1953 quando ainda era um matadouro de pequenas cidades, declarou em um comunicado domingo que ficou orgulhoso de se tornar o chefe novamente e tem “muita confiança no desempenho de sua liderança”.

A JBS também promoveu seu neto, Wesley Batista Filho, a uma “equipe de liderança global” encarregada de ajudar o fundador a tomar decisões, disse a empresa.

A mitigação da administração foi encontrada com ceticismo por analistas e oposição do BNDES, banco estadual de desenvolvimento do país, cujo braço de investimento detém uma participação de 21,3% na JBS.

“Foi uma situação desesperada”, disse Shin Lai, estrategista de investimentos da empresa de pesquisa independente, baseada em São Paulo, Upside Investor. “A melhor solução teria sido alguém do mercado alinhado aos interesses dos acionistas minoritários”, afirmou.

O BNDES, que empurrou a família Batista a deixar seu controle sobre a empresa desde que admitiram o pagamento de propina, ainda espera anular a nomeação do Sr. Batista Sobrinho, disse uma pessoa próxima ao banco.

No Brasil, cerca de 43% das empresas não financeiras listadas na bolsa de valores da Bovespa do país são de propriedade familiar, dos quais 63% têm um membro da família como CEO, de acordo com Luiz Ricardo Kabbach de Castro, professor de economia da Universidade de São Paulo.

Embora as empresas familiares não sejam necessariamente menos profissionais, as empresas que são controladas por apenas alguns investidores podem ser menos ágeis quando respondem a crises como a que enfrenta a JBS, disse ele.

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