O governo intensificou os diálogos com as autoridades chinesas para tentar reverter a suspensão das exportações de carnes de frigoríficos brasileiros devido ao registro de casos de covid-19.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, conversou nesta quarta-feira com o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, por videoconferência. Ela reforçou que as medidas sanitárias adotadas pelas indústrias garantem a segurança dos alimentos vendidos para a Ásia e que não há nenhuma evidência científica que indique a carne como possível vetor do novo coronavírus.
Os chineses bloquearam temporariamente os embarques de três estabelecimentos do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul com receio de um novo surto da pandemia em Pequim.
Na conversa, a ministra afirmou que os trabalhadores diagnosticados com o novo coronavírus são afastados dos estabelecimentos e não mantêm contato com os produtos exportados para a China.
Como as autoridades chinesas souberam dos casos de funcionários de frigoríficos infectados por notícias da imprensa e não de forma oficial, o governo avalia que há falha no entendimento sobre a realidade atual nas indústrias de carnes do país.
Uma fonte graduada do governo afirmou ao Valor que as principais demandas apresentadas ao embaixador foram conhecer os critérios técnicos que motivaram a suspensão e quais serão as diretrizes para a retomada das exportações.
“Manifestamos o interesse de que eles reabilitem as plantas tão logo as indústrias cheguem em um nível satisfatório, mas que digam quais são os critérios para isso”, disse a fonte.
Os pedidos também já foram manifestados junto à Pequim. Uma cópia em mandarim do protocolo obrigatório para mitigação da covi-19 nos frigoríficos brasileiros foi enviada ao diplomata chinês.
A conversa entre a ministra e o embaixador foi avaliada como um exercício de transparência entre os países e que pode ajudar na busca por uma solução mais rápida devido ao peso político e pessoal de Tereza Cristina.
Mesmo assim, quem acompanha de perto as discussões no governo diz que é cedo para prever uma volta à normalidade nas relações. “Vamos ter que esperar. Temos uma situação epidemiológica complicada no país e temos que aguardar para as coisas fluírem melhor novamente”.
O Valor apurou ainda que o Ministério da Agricultura criou um chat online para se comunicar com as autoridades do Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) de forma mais ágil e transparente e para “evitar erros” nas informações sobre a situação das unidades, conta um auxiliar do governo. “Abrimos um canal de esclarecimento”, disse.
O diálogo é em inglês entre técnicos chineses e brasileiros das secretarias de Defesa Agropecuária e Relações Internacionais, das embaixadas e os adidos agrícolas no país asiático. Também integram o grupo as representantes do Núcleo China – departamento ligado diretamente ao gabinete da ministra e que contratou recentemente uma funcionária chinesa.
A preocupação do Ministério da Agricultura é porque a GACC tem um núcleo específico para acompanhar o noticiário internacional, de onde partiu a decisão sobre as suspensões das plantas daqui. (Valor Econômico/BeefPoint)