A persistência dos altos índices de subutilização e desalento no mercado de trabalho devem produzir um consumo fraco e um baixo desempenho econômico até 2020. A expectativa é que a taxa de desemprego continue acima de 10% pelo menos até 2022.
Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) divulgada na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE) aponta que a taxa de desocupação ficou em 12,7% no primeiro trimestre deste ano, alta de 1,1 ponto percentual (p.p.) em relação aos três meses imediatamente anteriores e queda de 0,4 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, apesar do aumento do desemprego em relação ao trimestre anterior estar relacionado à sazonalidade dos empregos temporários de final de ano, o índice ainda é “muito ruim”.
“A economia não está deslanchando e ainda é impossível absorver a oferta de mão de obra. A subutilização e o desalento estão muito altos e, mesmo que haja alguma produção de vagas, a maioria é em trabalhos não qualificados e que não geram valor agregado para a economia. São alicerces frágeis demais para sustentar um crescimento”, avalia.
Ainda segundo o IBGE, a taxa de subutilização atingiu 25% no primeiro trimestre deste ano, o recorde da série histórica do PNAD e o correspondente a 28,3 milhões de pessoas (3% a mais do que o observado em igual período de 2018). A população desalentada, por sua vez, ficou em 4,8 milhões, alta de 5,6% na mesma base de comparação.
“A projeção é de que temos condições de finalizar o ano em uma taxa de desocupação de 11,3%. Mas o desemprego ainda afeta a base principal da nossa economia, que é o consumo. É um ano difícil, onde a confiança que vem é calcada apenas no futuro. O presente continua receoso, incerto e à espera do ambiente político”, comenta o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Jaime Vasconcellos.
Esses índices também não devem mudar no curto prazo. Segundo as projeções de Pasianotto, a estimativa é que a taxa de desocupação fique entre 11,5% e 12% em 2020. “Essa estabilidade em dois dígitos continuará no mínimo por mais três anos e até 2025, quando alcançará uma média de 10%”, acrescenta a economista.
SubempregosAinda segundo os especialistas consultados pelo DCI, a dificuldade na criação de vagas que gerem valor agregado para a economia continuará impulsionando trabalhos subqualificados. Um exemplo disso, são as últimas informações do Instituto Locomotiva, que apontam que cerca de 17 milhões de pessoas usam algum aplicativo – como Uber ou iFood – como fonte de renda.
“O que tem de criação de vagas até agora são de trabalhadores sem registro ou com subemprego e, no curto prazo, apesar de a tendência ser de melhora, esses números devem continuar significativos”, afirma a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause. “Nada leva a crer em uma retomada mais forte”.
Para Vasconcellos, a frustração com a economia continuará a pressionar subutilizados e desalentados. “Os indicadores não deixarão de ser positivos, mas serão bem mais fracos. É um ambiente de completo descompasso que demora a reaquecer tanto pela complexidade da nossa economia como pela incapacidade de um orçamento equilibrado por parte do governo central de forma a incentivar os investimentos necessários”, conclui. (DCI)