Victor Novaes é graduando de Eng. Agronômica pela UNESP e estagiário pela Agrifatto

Na média do primeiro semestre deste ano, a relação entre o equivalente físico (média ponderada do valor do traseiro, dianteiro mais ponta de agulha) no atacado ficou 4,6% superior ao preço da arroba boi gordo, número superior quando comparado à média dos últimos dois anos, que foi de 3,7%.

Média essa que, por sinal, ficou positiva e bem acima da média histórica, que é de -4,8% para a relação.

O spread se baseia na diferença entre a carne bovina do atacado e arroba do boi gordo no mercado físico, sendo um indicador sobre o rumo das margens da indústria processadora. A relação se mostrou alta até a metade deste ano, sob uma média de 4,9%, um terço maior que a média dos dois anos antecedidos.

O equivalente físico e o boi gordo fecharam o semestre sob a média de R$ 159,74 e R$ 152,64/@, registrando avanços nominais de 8,5% e 6,7% na comparação ano a ano, respectivamente. O equivalente físico da carcaça casada atingiu no mês de abril deste primeiro semestre o valor mais alto nos últimos 7 anos, de R$ 163,65/@.

No início do mês de junho deste ano, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) confirmou um caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), mais conhecida como mal da ‘’vaca louca’’, no Mato Grosso, e após alguns dias, as consequências atingiram o mercado brasileiro.

No dia de 03 de junho, o MAPA suspendeu as exportações de carne brasileira para China, país o qual foi responsável por 19% dos embarques brasileiros de carne bovina em 2019. O impacto negativo no cenário nacional foi imediato, e o preço da arroba do boi gordo, que estava em R$ 154,45 no dia anterior (03), chegou em R$ 144,85, (-6,22%) no meio da semana (07), de acordo com o CEPEA.

Com a desvalorização do preço da arroba e o equivalente físico no atacado se mantendo praticamente estável, o spread alongou-se consideravelmente, atingindo 10,7% no dia 07 de junho.

Entretanto, é importante considerar que a liquidez dos negócios caiu abruptamente, inclusive pelo fato de o pecuarista não se animar a vender naqueles preços mais baixos, o que inflou a volatilidade do indicador.

Uma questão: seria possível considerar esse nível um recorde?

No dia 21 de maio de 2018, durante a Greve dos Caminhoneiros, houve um movimento parecido no mercado. Essa greve paralisou toda malha rodoviária durante 10 dias, principal meio de escoamento da produção bovina para os frigoríficos e mercados.

Com o impedimento do transporte de animais até o abate, frigoríficos em todo o país interromperam seus trabalhos, e o volume de animais terminados acumulou nas principais praças pecuárias. Segundo Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as atividades foram retomadas apenas no dia 1 de junho.

No retorno da atividade dos frigoríficos a oferta do boi gordo estava em alta, empurrando os preços da arroba para baixo. Após duas semanas do fim do movimento, o preço atingiu o menor valor do ano de 2018, cotada em R$ 136,80/@, valor 5,6% menor ante a média anual de 2018.

 À medida que o preço do boi gordo caiu, o equivalente físico no mercado sofreu um movimento parecido, porém menos acentuado, fazendo com que o spread de carne aumentasse, chegando ao maior valor na série histórica de 15,65%.

 Em ambos os casos, houve uma deformação do indicador pela ocorrência de um evento raro, que no segundo relato evidencia a tendência de correção desse patamar elevado para níveis mais próximos daquilo com que vinha trabalhando recentemente.