O Ministério da Agricultura suspendeu no sábado, temporariamente, as exportações de carne bovina à China. A medida atende ao protocolo sanitário entre os dois países para a detecção do mal da “vaca louca” – mesmo casos atípicos, como os confirmados pela Pasta em Minas Gerais e em Mato Grosso. Não está claro quando os embarques poderão ser retomadas, mas a expectativa é que a trava dure pouco. Em 2019, quando o Brasil registrou o último caso atípico antes dos atuais, as vendas à China ficaram suspensas por 13 dias. 
Os casos atípicos – quando o animal desenvolve a doença espontaneamente, por causa da idade avançada – foram registrados em Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte. As confirmações por parte da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério vieram depois de resultados da contraprova feita no Canadá. 
“Os dois casos de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, nome técnico do mal da vaca louca) atípica – um em cada estabelecimento – foram detectados durante a inspeção ante-mortem. Trata-se de vacas de descarte que apresentavam idade avançada e estavam em decúbito nos currais”, informou o ministério. 
Em nota, a Pasta lembrou que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) “exclui a ocorrência” de casos atípicos para reconhecer o “status oficial de risco do país”. Assim o Brasil continua a ser considerado com “risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto no comércio de animais e seus produtos e subprodutos”. 
Segundo o ministério, “todas as ações sanitárias de mitigação de risco foram concluídas antes mesmo da emissão do resultado final pelo laboratório de referência” da OIE. “Portanto, não há risco para a saúde humana e animal”. A Pasta afirmou que notificou oficialmente a OIE sobre os casos porque esse é o procedimento estabelecido pelas normas internacionais. O Brasil nunca registrou o caso clássico, e mais perigoso, de “vaca louca”. Houve casos atípicos também em 2012 e 2014.
Já a suspensão temporária de exportação de carne para a China, que pode afetar grupos como JBS, Marfrig e Minerva, segue protocolos sanitários bilaterais e, segundo o ministério, “se dará até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos”. Entidades ligadas a pecuaristas, como a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), defendem que esses protocolos sejam revistos e que prevaleçam os da OIE. 
As exportações de carne bovina do país para a China (incluindo Hong Kong) representaram 59% do volume e da receita totais entre janeiro e agosto deste ano. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), para todos os destinos os embarques somaram 1,284 milhão de toneladas e renderam US$ 6,26 bilhões. O volume foi praticamente o mesmo de igual intervalo de 2020, mas a receita cresceu 15%. 
Nos primeiros oito meses de 2021, os EUA se mantiveram como os segundos maiores compradores de carne brasileira (66,5 mil toneladas, 92,7% mais que no mesmo período de 2020), seguidos pelo Chile (62,6 mil toneladas, alta de 24,4%).
Em agosto, com a forte demanda chinesa, houve aumento do volume total exportado após três meses de quedas. Segundo a Abrafrigo, foram 211,9 mil toneladas, 10,8% mais que no mesmo mês 2020. Foi o primeiro mês na história em que as exportações superaram a marca de 200 mil toneladas. A receita, também recorde, atingiu US$ 1,175 bilhão, um avanço de 56% na comparação. 
Pesaram para o avanço a suspensão das exportações da Argentina, que adotou a medida em uma tentativa de conter a inflação no país, e a redução da oferta na Austrália.
(BeefPoint/Valor Econômico)