As empresas querem chegar onde os consumidores estão, e no mercado de carnes um desses “Eldorados” é o Sudeste Asiático. Segundo estudo da consultoria alemã Roland Berger, o consumo de carnes nos 12 países da região, que atualmente respondem por 8% da demanda mundial – que somou 356,8 milhões de toneladas em 2018 -, deverá crescer 2,6% ao ano até 2023, acima do ritmo global, previsto em 1,13%.

Não é de hoje que o Brasil vem flertando com esse mercado, tão promissor como pouco conhecido. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o volume de exportações brasileiras de carne bovina para o Sudeste Asiático alcançou cerca de 42 mil toneladas em 2017, que geraram receita de US$ 141 milhões. No ano passado foram 55,8 mil toneladas, ou US$ 187,8 milhões.

“Embora o mercado já tenha sido descoberto, ainda é pouco explorado”, afirmou Gerson Charchat, sócio da Roland Berger para indústrias de agribusiness, consumo e varejo para América Latina.

De acordo com a consultoria, o volume e a receita das exportações brasileiras para os 12 países do Sudeste Asiático, onde vivem 630 milhões de pessoas, têm potencial para crescer 300% até 2021 em relação aos resultados de 2017. Segundo Charchat, o desafio pode ser menor que o enfrentado pelo Brasil para avançar na China, onde vivem 1,4 bilhão de habitantes. Em 2017, o volume das exportações brasileiras de carne bovina ao Sudeste Asiático correspondeu a 19% do que foi vendido ao mercado chinês. Em receita, foram 15%.

No hall das proteínas de origem animal, a carne bovina é hoje a mais importada pelos países do Sudeste Asiático, que não têm tradição de produzir gado de corte. A fatia é de 49% do total das compras. Em seguida vêm a carne de frango (28%) e a carne suína (21%). Em relação ao consumo total de carne na região, que foi de 27,2 milhões de toneladas em 2018, as importações representaram 17%.

Para Leonardo Alencar, diretor de Escritórios Internacionais da Minerva Foods, as oportunidades no Sudeste Asiático são amplas, e o segmento de fast-food é um dos mais atraentes. “Redes locais de comida rápida têm uma penetração grande no mercado da região e demanda recorrente, o que torna o negócio mais interessante, porque escapa da sazonalidade”, disse. Ele lembra que o consumo de carne bovina na Ásia aumenta, tradicionalmente, em datas comemorativas, como o Ano Novo Chinês.

Conforme Gerson Charchat, da Roland Berger, o consumo de carne bovina no Sudeste Asiático deverá crescer 11,4% em cinco anos, para quase 5 milhões de toneladas – mais do que na América do Norte, onde o avanço esperado é de 3%, ou na América Latina (5%). “Isso sem falar na Europa, onde a previsão é de achatamento do mercado em 2%”, afirmou. O mercado só cresce tanto quanto no restante da Ásia e na África – onde o risco político, porém, afasta investidores.

Para aproveitar o potencial de crescimento da região, as empresas brasileiras terão, contudo, que aprender a reconhecer nuances de religiões e os hábitos alimentares que variam conforme a crença. Atualmente, a maioria das indústrias envia para a região contêineres de carne congelada, que passam por traders antes de chegar aos consumidores finais.

Na visão da Roland Berger, a estratégia da indústria brasileira deve ser de “internacionalização”, e não apenas de exportação. Wilhelm Huffermann, sócio global da consultoria para a indústria de agribusiness, reforça que essa “internacionalização” depende de um conhecimento mais aprofundado dos mercados-alvo.

O conceito, disse Huffermann, inclui uma compreensão mínima das religiões para a definição do método de abate; do humor do cliente frente à flutuação de preços do produto, para conhecer a dinâmica do mercado; dos hábitos alimentares e pratos típicos da culinária local, a fim de adequar o portfólio; e da atuação da cadeia de distribuição, para fechar parcerias e oferecer itens de maior valor agregado, como marinados prontos para consumir ou cozinhar.

No que tange à carne bovina, os países com maior potencial importador são Vietnã, Coreia do Sul e Indonésia, que responderam, juntos, por quase 80% das importações do produto pelos países do Sudeste Asiático em 2017. Para Huffermann, o Brasil precisa dar logo atenção especial ao Sudeste Asiático se quiser garantir um lugar ao sol, já que outros países exportadores também estão de olho nessa fronteira.

“A Índia, com sua carne básica, de búfalo, e a Austrália, com ‘steaks top’, saíram na frente e são hoje os maiores exportadores de carne bovina para a região, além dos Estados Unidos. Mas há um grande espaço aberto, que o Brasil pode preencher”, afirmou. Segundo ele, o produto do país tem “bom custo-benefício”, que seria apreciado pelo mercado emergente, cuja população e renda crescem, e onde o consumo per capita de carne, de 31 quilos por ano, tem chance real de deslanchar.