Atraso na colheita de soja, preços menores das commodities e uma melhora na oferta internacional fizeram a balança comercial brasileira da agropecuária ter evolução de apenas 2,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período anterior.
Pesou também nessa conta a saída da China do mercado de carne bovina por quase um mês, devido a um caso atípico de vaca louca no Pará. Por um acordo sanitário, o Brasil suspendeu as exportações ao país asiático, que já voltou ao mercado brasileiro.
A Ásia, mesmo com as compras menores de carne do Brasil pela China, continua sendo o grande destino dos produtos brasileiros. O Japão importou 38% a mais neste ano, e a Tailândia, 23%.
No ano passado, o agronegócio trouxe perto de US$ 160 bilhões para o país, com uma boa evolução em relação a 2021, devido aos preços elevado das commodities e da demanda.
Neste ano, o país mantém um ritmo de crescimento, mas, apesar de ter um volume maior para exportar, os preços recuaram. Juros elevados e inflação externa e interna não dão muita margem para aumento da demanda.
Além disso, a valorização do real, embora pequena, torna os produtos brasileiros menos competitivos.
A Argentina teve uma grande quebra de safra, mas os Estados Unidos prometem elevar a área de plantio de produtos que competem com o Brasil no mercado internacional.
A Ucrânia, após uma redução intensa na oferta de alimentos para o mercado externo, vem conseguindo elevar o volume exportado devido às renovações do acordo de exportação com a Rússia, com mediação da ONU.
Enquanto a guerra provocada pela Rússia perdurar, no entanto, o potencial de produção agrícola da Ucrânia ficará limitado.
As exportações brasileiras deste ano estão com ritmo menos intenso devido a dois dos principais produtos da balança comercial: soja e carne bovina. As exportações de soja, devido ao excesso de chuva e atraso na colheita deste ano, estão 8% menores do que nos três primeiros meses de 2022.
Saíram pelos portos brasileiros 19,3 milhões de toneladas da oleaginosa, com receitas de US$ 10,7 bilhões.
O ritmo das exportações acelerou a partir de março, no entanto, e deve aumentar a partir de agora, uma vez que o país poderá produzir 155 milhões de toneladas de soja.
O milho também terá forte participação na balança deste ano. As vendas externas do primeiro trimestre somam 9,8 milhões de toneladas e superam em 178% as de igual período de 2022. O país poderá, pela segunda vez, liderar as exportações mundiais do cereal nesta safra. As estimativas mais otimistas indicam vendas externas de até 52 milhões de toneladas.
O volume total de carnes “in natura” exportadas até março soma 1,93 milhão de toneladas, 6% a mais do que em 2022. As receitas, no entanto, devido a um recuo internacional dos preços médios, ficaram estáveis.
O setor de carne bovina sentiu a ausência da China no mês passado. O volume “in natura” exportado recuou 12% no trimestre, e as receitas, 24%, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). O retorno da China ao mercado brasileiro vai reanimar as exportações, uma vez que o país asiático é o principal importador da proteína nacional.
Se a carne bovina teve menos espaço na China, o mesmo não ocorreu com a suína. O retorno de focos da peste suína africana ao país asiático deverá forçar os chineses a elevar as importações, beneficiando o Brasil, um dos principais fornecedores dessa proteína a eles.
Neste ano, o Brasil elevou em 15% o volume de carne suína “in natura” exportada, com aumento de 30% nas receitas, de acordo com dados da Secex. O mercado está favorável também para a carne de frango, cujas vendas tiveram elevação de 18% em volume e de 28% em receitas.
Do lado das importações, o cenário melhorou, com a redução dos preços internacionais dos insumos, embora ainda estejam acima dos do período anterior à Guerra da Ucrânia.
A compra de fertilizantes recuou para 7,4 milhões de toneladas no trimestre, um volume 25% menor do que em 2022; a de agroquímicos caiu para 53 mil toneladas (-53%).
(Folha de S. Paulo)