A retomada de compras da China de soja dos Estados Unidos tem sustentado os preços do grão negociados na Bolsa de Chicago (CBOT, na sigla em inglês)e tornado novamente a safra lucrativa para os agricultores norte-americanos, após a demanda ter sido prejudicada pela pandemia do novo coronavírus.
Após a queda para os níveis mais baixos de quase um ano em abril, os futuros da soja da CBOT subiram cerca de 7% desde maio. Ontem, o contrato para novembro, o mais líquido, fechou em US$ 8,71 por bushel – superando o preço de ponto de equilíbrio de aproximadamente US$ 8,50 por bushel, considerado necessário pelos agricultores para que suas lavouras sejam rentáveis. Alguns traders acreditam que o momento atual poderia elevar os preços da soja para mais de US$ 10 por bushel, que seria o nível mais alto em mais de um ano.
O principal fator que vem puxando os preços é o recente balanço das compras chinesas de commodities agrícolas dos EUA depois que os dois países fecharam um acordo comercial e o câmbio se tornou mais favorável às exportações norte-americanas. Somente no mês passado, a China comprou quase 5 milhões de toneladas de soja dos EUA, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA.
Embora a China possa cancelar essas compras – mais de 2,85 milhões de toneladas não devem ser entregues até o fim do ano comercial 2019/20 – as compras chinesas representam aproximadamente 56% de todas as novas vendas de exportação de soja no mês passado. Em comparação, até maio, as compras chinesas representaram apenas 27% das vendas de exportação de soja dos EUA. Espera-se que esse impulso continue.
Em uma conferência virtual realizada pelo Conselho de Exportação de Soja dos EUA nesta semana, o subsecretário do USDA, Ted McKinney, disse que o departamento espera que a China continue comprando US$ 36,5 bilhões em bens agrícolas dos EUA em 2020 – como prometido na primeira fase do acordo comercial, assinada em janeiro. “As compras de soja da China nas últimas semanas foram um sinal positivo de que a China continua implementando o histórico acordo comercial com os Estados Unidos”, afirmou o subsecretário McKinney ao The Wall Street Journal. “Esperamos que o apetite da China por importações agrícolas continue robusto.”.
Contudo, ainda restam dúvidas sobre o acordo. O consultor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, agitou os mercados depois de aparentemente chamar o cumprimento da China do acordo comercial como “acabado” em uma entrevista na segunda-feira à Fox News. Ele rapidamente esclareceu os comentários dizendo que foram “tirados descontroladamente do contexto”, mas os traders estão céticos com as sugestões de descarrilamento do acordo.
Eventos globais como o surto do novo coronavírus reduziram as compras da China e alimentaram as tensões entre os dois países após a assinatura do acordo. Mas não é necessariamente incomum que a China adie a compra de soja nos EUA na primavera do Hemisfério Norte, disse Rich Nelson, estrategista-chefe da corretora de grãos Allendale Inc., com sede em McHenry, Illinois. Normalmente, o Brasil é o principal vendedor no mercado de exportação durante a primavera e foi um vendedor especialmente agressivo este ano, acrescenta a Allendale.
Os agricultores brasileiros venderam 87,5% de sua colheita recorde de soja 2019/20 até 5 de junho, um ritmo recorde, de acordo com a empresa de consultoria agrícola Datagro. O recorde anterior foi de 76,8%, em 2016, e a média de cinco anos para a data é de 69,5%, informou a consultoria. Mas o dólar se enfraqueceu quase 5% ante o real no mês passado, enquanto caiu mais de 3% ante uma cesta de moedas estrangeiras no mesmo período, tornando as exportações dos EUA mais atraentes para a China. “A mudança no câmbio é de que o Brasil não é mais o vendedor que era”, disse Jim Sutter, executivo-chefe do Conselho de Exportação de Soja dos EUA.
Mesmo com as vendas de soja norte-americana para a China estarem 14% acima do volume vendido em igual período do ano passado, são necessárias mais compras para os países cumprirem as obrigações do acordo comercial em 2020. Os traders esperam que a China intensifique esse objetivo – especialmente depois do secretário de Estado Mike Pompeo ter se reunido com o principal diplomata da China, Yang Jiechi, no Havaí na semana passada para ajudar a aliviar as tensões relacionadas à covid-19 entre as duas nações – mas alguns continuam céticas. “Há fadiga na China com meus clientes”, disse Jason Britt, presidente da Central States Commodities, com sede em Kansas City. “Subimos e descemos o mastro da bandeira tantas vezes – é frustrante.” (AE)