Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora da Agrifatto
Leonardo Ribeiro é estagiário da Agrifatto

O ano seria difícil, de toda forma. A economia em recessão e a taxa de desemprego em níveis cada vez mais altos já tornava o ambiente complexo e desafiador. O endividamento das famílias e a inflação alta conduziram para a redução do poder de compra do brasileiro, minando o consumo per capita de carne bovina. O início da virada de ciclo deveria aumentar a oferta de gado para o abate. Estes eram os ingredientes postos para a conjuntura de 2017. Afora os dados previsíveis, Operação Carne Fraca, retorno da cobrança do Funrural e delação de Joesley Batista foram fatores extras, que pioraram a conta.

De toda forma, não é o fim do mundo. A recente divulgação dos últimos dados econômicos traz esperança de alento para a economia do país. Apesar de a taxa de desemprego estar elevada, o saldo de vagas de emprego gerados neste ano está positivo, cerca de 48,5 mil postos de trabalho foram criados até maio, uma alta acumulada de 0,13%. O endividamento das famílias está em 45,5%, o menor resultado da pesquisa em 2017 feita pela CNC, Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, mostram que a renda média mensal do trabalhador subiu 7,21% no primeiro trimestre de 2017 em comparação com o mesmo período do ano passado.

Estes dados projetam uma inversão de tendência econômica com possível retomada do consumo, já que indicadores de renda, emprego e endividamento das famílias têm melhorado. Observe o gráfico 1.

Outro sinal positivo é a recuperação das exportações. Em junho foram embarcadas mais de 100 mil toneladas de carne bovina in natura, mesmo diante da suspensão das importações dos EUA. Observe o gráfico 2.

 

Dentro de um cenário de maior oferta de animais, perspectiva de consumo em recuperação e exportações mudando de patamar, a indústria tem mostrado maior interesse em reabrir plantas, também em resposta ao spread positivo que sugere uma boa margem de processamento para indústrias que trabalham de maneira enxuta e eficiente. Nas últimas semanas, foi anunciada a reabertura de unidades em Mirassol d’Oeste – MT, Nova Xavantina – MT e Pirenópolis – GO.

Outro sinal extremamente positivo é o avançado das negociações de JBS com seus credores. Matéria do valor econômico destaca:

“A renegociação da dívida de curto prazo está bem adiantada. A empresa já conseguiu fechar com um grupo de bancos, entre eles Bradesco, Santander, Caixa, Banco do Brasil e Rabobank, um contrato que assegura por um ano a manutenção de linhas estimadas em R$ 16 bilhões no Brasil — desse valor, cerca de R$ 2 bilhões são do Itaú e do japonês Mizuho, que não toparam o acordo. O Itaú exigiu que a JBS amortizasse imediatamente 40% das linhas. No acordo com os outros bancos, a companhia aceitou amortizar 10% da dívida no prazo de um ano, numa proporção de 2,5% a cada trimestre. Em um ano a JBS terá quitado cerca de R$ 2,5 bilhões a R$ 2,7 bilhões da dívida de curto prazo no Brasil.”

Com as negociações para a rolagem da dívida avançadas, o fantasma da recuperação judicial fica mais distante, melhorando também a perspectiva de demanda por animais terminados nos próximos meses.

Neste contexto de preços em queda e problemas graves envolvendo a maior processadora de carne do país, o confinamento foi amplamente desestimulado. Assim, há boas chances de que em 2017 um número menor de animais seja engordado no cocho. E caso esse cenário se confirme, a oferta menor de animais unida a um consumo em recuperação ainda poderão dar tom de entressafra ao segundo semestre de 2017. Veja o gráfico 3.

 

Apesar do risco embutido na situação de JBS e nas exportações brasileiras após a deflagração da Operação Carne Fraca, o mercado futuro já começa a enxergar um ambiente mais estável e com algumas pequenas oportunidades de recuperação no momento. Em outras palavras, já se começa a desenhar uma ligeira alta para os contratos à frente, movimento contrário ao que se observou logo após o escândalo com JBS, quando os preços no mercado futuro chegaram a declinar R$ 10,00/@ em uma semana.

Um abraço e até a próxima.