A indústria brasileira de soja avalia que o governo e as empresas detentoras de tecnologias de safras transgênicas precisam trabalhar para que haja um reconhecimento da sincronia das aprovações de organismos geneticamente modificados no Brasil e Estados Unidos, para eliminar incertezas quando há necessidade de importações, como é o caso atual.
“O correto seria a sincronia das autorizações dos eventos transgênicos, para não ter insegurança nem risco para quem vai importar”, disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.
A declaração ocorre em momento em que o Brasil está importando soja dos Estados Unidos, em uma operação atípica, após volumosas exportações e um processamento doméstico recorde que devem reduzir os estoques nacionais aos menores níveis da história ao final de 2020.
Um navio com cerca de 30 mil toneladas de soja dos EUA já está próximo da costa do Nordeste brasileiro, com previsão de chegada entre os dias 26 e 27 de novembro no porto de Paranaguá (PR), de acordo com informações da agência marítima Cargonave e do terminal Refinitiv Eikon.
No início do mês, o governo brasileiro publicou uma instrução normativa indicando segurança jurídica para importações de soja e milho transgênicos dos EUA.
A instrução normativa, segundo o Ministério da Agricultura, reconhece a equivalência de eventos geneticamente modificados entre Brasil e EUA.
Ainda assim, o dirigente da Abiove avalia a necessidade dessa sincronização. Ele comentou que, de maneira geral, os Estados Unidos e Brasil têm os mesmos tipos de transgênicos aprovados, o que muda é o processo de aprovação.
Por isso, disse ele, a necessidade da chamada sincronização, que deveria ser feita por meio de aprovação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a pedido das empresas.
Enquanto nos EUA, por exemplo, eventos transgênicos como resistência a herbicidas e a insetos têm aprovações separadas, ainda que possam estar presentes em uma mesma semente, no Brasil se aprova um produto de genes combinados, quando é o caso.
Segundo Nassar, as companhias donas de tecnologias de transgênicos deveriam buscar a sincronização das aprovações, via CTNBio, para evitar incertezas, caso o Brasil venha a exportar muita soja no futuro e tenha que, eventualmente, recorrer ao produto dos EUA novamente ao final do novo ano.
Procurada, a Bayer, líder global de biotecnologia, não comentou o assunto de imediato. Associações que reúnem empresas de defensivos agrícolas também não comentaram.
Os Ministérios da Agricultura e de Ciência, Tecnologia e Inovações, ao qual é ligada a CTNBio, órgão responsável por decidir sobre questões de biossegurança, não comentaram o assunto de imediato.
IMPORTAÇÕES DE ÓLEO
Com a baixa oferta de soja neste período de entressafra, o governo do Brasil, maior produtor e exportador da oleaginosa, tomou algumas medidas para ampliar a oferta do produto importado.
Nesta semana, autorizou o uso de matéria-primas importadas para a produção de biodiesel, diante dos preços recordes de soja e da firme demanda de diesel.
No mês passado, isentou de tarifas importações de soja e milho de fora do Mercosul –países integrantes do bloco não pagam tarifas–, o que em tese beneficiaria principalmente os EUA.
Enquanto ainda pairam dúvidas sobre questões relacionadas a transgênicos e não há sinais de novas compras nos EUA, as importações de óleo de soja de países do Mercosul dispararam mais de 500% em outubro, segundo dados do governo.
As importações brasileiras de óleo de soja, produto que responde por cerca de 70% da matéria-prima do biodiesel, atingiram 67,3 mil toneladas em outubro, ante 10,6 mil toneladas no mesmo período do ano passado.
Esses desembarques do mês anterior elevaram o total importado pelo país no acumulado do ano até outubro para 104,2 mil toneladas de óleo de soja, versus menos de 30 mil toneladas no mesmo período de 2019, com a Argentina e o Paraguai respondendo pela maior parte da oferta importada em 2020, com 81,3 mil e 22,8 mil toneladas, respectivamente.
Para novembro, a expectativa é de que as importações continuem fortes, com cerca de 70 mil toneladas de óleo de soja programadas para desembarque, conforme a agência marítima Cargonave, que aponta a Argentina como origem.
Além do aumento das importação do óleo vegetal, o Brasil já importou de janeiro a outubro 625,5 mil toneladas de soja, com países do Mercosul dominando a oferta –o Paraguai fornecendo 589 mil toneladas, seguido pelo Uruguai (36,3 mil tonelada). O volume total se compara a apenas 125 mil toneladas no mesmo período do ano passado.
A Abiove projeta que o Brasil termine 2020 com 1 milhão de toneladas de soja importada, principalmente com compras no Mercosul, além de 200 mil toneladas de óleo de soja importado. (Reuters)