A decisão do Banco Central brasileiro ontem à noite de manter a taxa básica de juros em 6,50% ao ano teve repercussão no site do jornal britânico Financial Times. Na edição online, a publicação ressalta que a escolha da estabilidade pela diretoria foi inesperada e que teve a recente venda de ativos de mercados emergentes como uma das justificativas para não ajustar a Selic no momento. A manutenção da taxa em seu patamar recorde de baixa, continuou a reportagem, confundiu o mercado financeiro, que contava amplamente com mais uma diminuição do juro, um movimento que já ocorria há um ano.
O Financial Times destacou um trecho do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que enfatizou o fato de o cenário externo ter se tornado mais desafiador e volátil. “A evolução dos riscos, em grande parte associada à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, levou a ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve uma redução no apetite por risco para as economias emergentes”, foi o parágrafo escolhido pela publicação.
O FT citou que a “decisão surpresa” ocorre em um momento em que o dólar está mais forte e é registrado um aumento nos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos. Estes dois pontos minam o apetite dos investidores por moedas, títulos e ações dos mercados emergentes. O site lembrou ainda que o índice de moedas emergentes do JPMorgan atingiu ontem seu nível mais baixo desde março de 2017.
“A lira turca e o peso argentino sofreram o impacto do sell-off, mas o real brasileiro não ficou imune. A moeda perdeu mais de 4% do seu valor em relação ao dólar nas últimas duas semanas, atingindo a maior baixa em dois anos e caiu quase 11% no ano”, comparou o periódico.
O FT recorda ainda que, em 2016, quando o Brasil começou seu ciclo de flexibilização dos juros, as taxas da maior economia da América Latina estavam entre as mais altas do mundo, em 14,25% ao ano. “Mas com a inflação de volta sob controle, os formuladores de políticas se sentiram encorajados a reduzir agressivamente as taxas de juros em um esforço para estimular a economia, que está apenas saindo da pior recessão já registrada”, pontuou a versão do diário online.