Embora a já perceptível tendência de queda dos preços do milho deva ganhar força no país com a entrada da safrinha recorde que desponta nos campos, indústrias de aves e suínos temem que a retração seja apenas modesta, tendo em vista a demanda aquecida para exportação. Os custos, assim, deverão continuar altos, mesmo que a importação do cereal, principalmente do Paraguai, ganhe força nos próximos meses.
As projeções mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam um crescimento de 45,6% da produção da segunda safra de milho no Brasil neste ano. No ciclo 2020/21, após a quebra decorrente de problemas, o volume caiu para 60,7 milhões.
A queda dos preços internacionais nas últimas semanas – na bolsa de Chicago, os contratos de segunda posição de entrega já recuaram quase 10% em 2022, pressionados pelo risco de recessão global e pelos problemas climáticos nos Estados Unidos – e a perspectiva de ampliação da oferta doméstica ainda poderão acelerar um pouco a redução de custos nas áreas de aves e suínos. É quase consenso, no entanto, que esse declínio será um alívio, mas não uma salvação.
No caso das aves, em junho, o índice ICPFrango, da Central de Inteligência de Aves e Suínos (Cias), caiu 2,61% em relação a maio, para R$ 5,47, com o peso do milho no total sendo de R$ 2,39. O cálculo leva em conta o animal produzido no Paraná em aviário tipo climatizado em pressão positiva. Já o ICPSuíno, que considera o custo total de produção por quilo de suíno vivo produzido em sistema tipo ciclo completo em Santa Catarina, recuou 0,05%, e o milho respondeu por R$ 3,12 de um total de R$ 7,34.
“O aumento da oferta deverá trazer algum alívio nos custos. Mas esse alívio será limitado, já que o preço do milho no país será balizado pelo mercado internacional, onde o grão segue valorizado”, diz Alfredo Lang, presidente da cooperativa paranaense C.Vale. “Mesmo com mais oferta doméstica, vamos aumentar a importação de milho do Paraguai, como fizemos em 2021”.
Grande produtora de frango, a C.Vale abate 600 mil aves por dia. No primeiro semestre deste ano, os gastos da cooperativa com o milho usado para alimentar o plantel aumentaram 35% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Pamplona Alimentos, de Rio do Sul (SC), que produziu 142 mil toneladas de carne suína no ano passado, projeta mais que dobrar as importações de milho para tentar domar seus custos. Se no ano passado as compras no exterior somaram 17,9 mil, para 2022, a estimativa é adquirir até 40 mil tonelada. Até o momento, as compras somaram 26,5 mil toneladas, provenientes, sobretudo, do Paraguai.
“Acreditamos que será possível aumentar as importações. Assim como o Brasil, o Paraguai deve ter um bom volume de milho para comercializar no segundo semestre. Mas vamos considerar o custo para definir nossa estratégia de compras”, afirma Irani Pamplona Peters, presidente da companhia.
Ari Sandi, analista de socioeconomia da Embrapa Suínos e Aves, diz que os suinocultores catarinenses têm enfrentado mais desafios na aquisição do cereal. “No Paraná, que é um grande produtor de milho, o custo fica menos acentuado na comparação com Santa Catarina, que enfrenta déficit e precisa se abastecer com o grão que vem de outras regiões do país”, lembra.
Ele concorda que a tendência é que o impacto do milho sobre os custos de produção diminua neste segundo semestre, mas observa que o cenário está atrelado às variações dos preços internacionais e a fatores macroeconômicos, como taxa de câmbio e juros.
Outra questão é o aperto na oferta no mundo, especialmente porque a guerra na Ucrânia reduziu a produção e os embarques do país, o que exigiu que os compradores dos grãos ucranianos buscassem outros fornecedores. Segundo a Conab, o Brasil deverá exportar 37,5 milhões de toneladas em 2022, quase 15 milhões a mais que no ano passado – e a segunda maior marca da história. O recorde, de 2019, foi de 41,1 milhões.
Como nos primeiros seis meses do ano as vendas ao exterior alcançaram 6,3 milhões de toneladas (75% mais que no mesmo período de 2021), é neste segundo semestre, com a entrada da safrinha, que o ritmo deve ganhar fôlego.
(Valor Econômico)