(Reuters) – A safra de soja 2019/20 do Brasil, em fase final de plantio, deverá atingir um recorde de 122,7 milhões de toneladas, com crescimento de 6,7% ante a projeção oficial para a temporada anterior, com uma melhora climática ajudando a manter as perspectivas gerais para o país apesar de algumas preocupações na região do Matopiba, da acordo com pesquisa da Reuters com 16 fontes de informação.
A colheita no Brasil, que deverá se consolidar como maior produtor global de soja, à frente dos EUA, vai crescer com um aumento de 2,5% na área plantada, para 36,8 milhões de hectares, segundo média das estimativas da pesquisa.
Melhores produtividades esperadas, após quebra de safra pela seca em alguns Estados em 2018/19, deverão garantir um aumento da produção maior do que na área projetada para o Brasil, que tem sido há algum tempo o maior exportador global de soja.
Os números médios da pesquisa praticamente não diferem muito dos apurados pela Reuters em sondagem publicada em setembro, com informações de 12 consultorias e instituições naquela oportunidade, à medida que o clima melhorou em boa parte das áreas produtoras após um plantio atrasado pela escassez de chuvas.
“Temos feito um acompanhamento semanal, e o que temos visto é que em algumas regiões houve uma recuperação. Apesar de ter tido replantio em algumas regiões (pela seca)… desde meados de novembro começa a entrar em uma situação benéfica (pela chegada das chuvas) para o desenvolvimento das lavouras”, disse à Reuters o diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Guilherme Bastos.
Ele revelou que os pesquisadores da Conab já foram a campo para elaborar a próxima pesquisa mensal da estatal, que deverá ser divulgada no próximo dia 10. Embora seja necessário aguardar a tabulação completa das informações, disse Bastos, o que se tem visto é uma visão positiva da safra.
“A estimativa que a Conab tem, próxima dos 121 milhões de toneladas, ela está sendo monitorada. Em função do desenvolvimento, esse pode ser um piso das estimativas, mas vamos aguardar”, completou ele, lembrando que a estatal conta com mais de 900 informantes e tem pelo menos 60 técnicos que vão a campo para a realizar o levantamento.
Com a melhora no quadro climático em novembro, alguns Estados, como o Mato Grosso, conseguiram acelerar o ritmo de trabalho nos campos e “amenizaram o risco de quebra na produção de soja em 2019/20”, disse a analista de mercado da Céleres Daniely Santos, notando que algumas áreas merecem atenção.
“O plantio segue atrasado em outras regiões, como é o caso do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Mato Grosso do Sul e Goiás. Com esse quadro, o alerta sobre as condições climáticas permanece aceso”, completou ela.
Até a última quinta-feira, o Brasil já havia plantado 87% da área total projetada, ante 93% um ano atrás e em linha com a média de cinco anos, divulgou nesta segunda-feira a consultoria AgRural, também citando preocupações com o Matopiba.
“As previsões de chuva apontam cenário um pouco melhor para o Matopiba neste início de dezembro, mas a distribuição e os volumes ainda não parecem de todo satisfatórios”, disse.
Para o analista de agricultura Refinitiv, José Clavijo Michelangeli, de maneira geral, o cenário climático é misto para as safras. Ele disse que áreas que sofreram com uma seca persistente, como no oeste do Paraná, sul de Mato Grosso do Sul, partes do leste de Mato Grosso, vão receber chuvas no início de dezembro, mas a previsão mais estendida aponta chuvas abaixo do normal até janeiro para a maior parte das áreas produtoras, exceto o Rio Grande do Sul.
“Felizmente, as temperaturas ficarão entre perto e abaixo da média do período, o que ajuda a mitigar perdas de umidade pela evaporação.”
Ainda assim, de maneira geral, os especialistas trabalham com uma “safra cheia” de soja, considerando as condições atuais e as previsões.
Para o analista Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado, consultoria que tem uma das previsões mais elevadas, de 125,75 milhões de toneladas, uma revisão da projeção em dezembro não deve alterar muito o número.
“Se tiver mudança negativa, vai ser muito pontual, não acredito que vai acontecer. Se ocorrer, ela vai ser pontual. Ajustes para cima também podem ser pontuais”, comentou ele.
Segundo ele, os problemas verificados até o momento são “reversíveis”.
No lado do mercado, lembrou ele, os preços estão “excelentes”, e os produtores estão aproveitando para fixar as vendas, protegendo-se contra eventual acordo comercial entre a China e os EUA, que pode afetar o Brasil.