Excesso de pessimismo? Terrorismo da indústria? Manipulação da Bolsa?

NÃO! O que ocorre é que o mercado virou, de fato.

A retração dos abates ocorrida entre 2013 e 2016 acumulou no rebanho um “excedente” de 7,3 milhões de cabeças de bovinos. E isso não foi brincadeira.

Como ainda havia rentabilidade sendo registrada pela atividade pecuária até 2015, o pecuarista que não acompanha seus custos não conseguiu perceber que em 2016 os efeitos corrosivos da retração real do preço da arroba trouxeram prejuízo para sua atividade, na média brasileira.

Ele simplesmente deixou para abater em 2017 e, SURPRESA, os preços já acumulam uma queda real de -8,20%.

Agora a corda começou a apertar de verdade e margem positiva virou figurinha rara para quem acompanha o mercado pecuário.

Observe o gráfico 1.

Gráfico 1. Evolução dos contratos futuros na BM&F (R$/@).

Evolução dos contratos futuros na BM&F (R$/@)

Fonte: BM&FBovespa/Agrifatto

A questão é que na comparação anual, o mercado futuro chegou a precificar o contrato de outubro, por exemplo, acima de R$ 170,00/@ à vista. Hoje, a cotação beira os R$ 145,00/@ nas mesmas condições, ou seja, deixou o pecuarista chupando o dedo, em estado de negação do cenário atual, tornando-o apenas torcedor de futebol à espera de dias melhores, pontuando os possíveis fatores positivos que equilibrariam o mercado.

Todos olhavam os preços de 2016 comparados aos de 2017 e não se conformava em vender por valores tão baixos. Mas a questão é que o valor final não representa nada sem considerar os custos nessa matemática.

Infelizmente, a que parecia um péssimo negócio naquele momento se mostra hoje como a salvação da lavoura. A questão é simples: aqueles 7 milhões de cabeças a mais no rebanho, combinadas com uma produtividade maior (resultado de aplicação tecnológica e, principalmente, retenção de fêmeas no rebanho desde 2013), não podem ser ignorados.

Uma observação importante é que a liquidez da Bolsa naquele momento estava ainda mais comprometida do que o que vemos hoje, mas para quem negociou com paciência, lote a lote, foi possível aproveitar uma parte desse movimento de baixa e garantir que algumas das operações de 2017 ainda se mostrassem rentáveis.

E o que resta fazer no momento? Colocar a viola no saco e partir para o tudo ou nada.

Em outras palavras, esqueça-se de esperar o mercado subir e venda se houver margem. Garanta sua sobrevivência em 2017.

Ainda há uma excelente chance de que os contratos da entressafra se valorizem, especialmente porque está todo mundo apavorado devido à transformação de lucro em prejuízo pela primeira vez em muito tempo. O pecuarista tem na fazenda uma reposição cara, comprada em 2016 ou, em alguns casos, em 2015. Isso inviabiliza a margem do confinamento.

Observe o gráfico 2.

Gráfico 2. Evolução do volume de animais confinados no Brasil (milhões de cabeças).

Evolução do volume de animais confinados no Brasil

Fonte: Assocon/IBGE/IMEA/Agrifatto

Dito isso, é importante lembrar que os efeitos do pessimismo recaiam sobre a decisão do pecuarista e que, consequentemente, o número de animais confinados caia. Além disso, tal fato combinado à falta de chuvas deverá fazer a entressafra ainda apresentar cara de entressafra, ou seja, trazer valorização de preços – ainda que tímida e pouco estimulada pelo consumo.

Um abraço e até a semana que vem.

Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e sócia-diretora da Agrifatto.