As medidas de prevenção contra o coronavírus adotadas pela Argentina, que restringiram a logística, podem afetar o transporte de soja e seus subprodutos naquele país e, consequentemente, favorecer Brasil nas exportações de farelo de soja, estimou a Caramuru Alimentos.

“A Argentina está com restrições (de transporte) muito maiores do que as nossas, e isso pode nos beneficiar na exportação (de farelo de soja) porque somos concorrentes diretos e eles são os maiores exportadores do mundo nesse setor”, afirmou à Reuters o diretor comercial da Caramuru, Fábio Vieira Júnior.

A companhia, que entre as empresas de capital brasileiro é a maior processadora de grãos, avalia os impactos da crise do coronavírus sobre a cadeia como um todo, mas em uma perspectiva preliminar acredita que o Brasil tende a ser beneficiado pelo cenário argentino, ressaltou Viera Júnior.

Nas próximas semanas, a Caramuru deve ficar atenta ao comportamento da demanda para verificar se esta tendência foi confirmada, acrescentou o diretor.

De acordo com a câmara de exportadores CIARA-CEC da Argentina, que representa companhias globais incluindo Bunge e Dreyfus, as entregas de grãos de soja por caminhões a plantas de processamento têm sofrido severa interrupção, pois mais de 70 municípios pelo país estão adotando medidas contra o coronavírus que envolvem o controle da movimentação da produção agrícola por suas jurisdições. 

Paralelamente, uma organização de trabalhadores portuários da Argentina pediu nesta quinta-feira ao governo do país que suspenda por 15 dias as atividades portuárias na nação, principal exportadora global de farelo de soja, para evitar o avanço do coronavírus.

André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), afirmou em nota que ainda é cedo para tratar sobre o tema, pois as condições de produção e exportação de derivados de soja dependem de diversos fatores.

“Não apenas do comportamento da Argentina como exportador, mas também da Europa como consumidor —e a crise do coronavírus está lá agora—, e de fatores domésticos como demanda por farelo no mercado de carnes, além de biodiesel no mercado de combustíveis”.

CENÁRIO PROMISSOR

Apesar das incertezas econômicas presentes no mercado brasileiro, o vice-presidente da Caramuru, César Borges, afirmou à Reuters que a perspectiva para a companhia continua positiva.

A demanda interna por farelo, vinda da indústria de carnes, e por biodiesel devem se manter firmes e a valorização do dólar ante o real, aliada ao patamar de preços das commodities em Chicago, formam uma conjuntura ainda melhor que a de 2019 para a empresa, explicou Borges.

“No ano passado, crescemos de 3% a 5% em faturamento, para 4 bilhões de reais. Agora devemos encostar em 4,5 bilhões de reais.”

“Somos muito dependentes dos preços em Chicago e do dólar, que vem batendo máximas históricas. Nosso negócio andou redondo (quanto à demanda interna e preços) e com margem muito boa.”

A Caramuru processa derivados de soja, milho, girassol, canola; exporta grãos e derivados; produz biodiesel e opera terminais portuários em Santos (SP), Tubarão (SC), Itaituba (PA), Santana (AP), além de contar com uma rede de 67 armazéns.

A capacidade diária de processamento de soja é de 6.500 toneladas e a de milho, 1.600 toneladas.

Até o momento, a empresa mantém as operações em todas as unidades e não há previsão de suspensões no curto prazo.

Segundo o presidente, a entrega de matéria-prima ocorre normalmente e medidas de segurança contra o coronavírus estão sendo tomadas, como o trabalho em home office para os funcionários das áreas administrativas. (Reuters)