Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
A expectativa de maior consumo combinada às boas margens levou à ampliação da capacidade operacional da indústria a partir de 2016. Mas ao mesmo tempo que a boca dos frigoríficos aumentou, a demanda ainda não avançou na mesma medida, e os frigoríficos viram seu spread carne com osso/arroba recuar no 1º trimestre do ano. Apesar disso, ainda segue acima da média histórica.
Mais recentemente, com o valor da arroba em patamares menores, à medida que se aproxima o final da safra de capim, o spread carne/arroba tem voltado a trabalhar em patamares positivos (gráfico 1).
Entretanto, essa relação pode ceder a partir de junho, quando se espera menor disponibilidade de animais prontos para o abate e pressão positiva às cotações. A falta de chuvas tem corroborado para que o fim da safra pareça estar mais próximo, fato já refletido nas cotações futuras da última sexta-feira (18 de maio).
Adiciona-se ainda o possível impacto da forte alta do preço do milho no volume de animais confinados, e caso ocorra recuo da oferta oriunda de sistemas intensivos de engorda, o viés altista ganha novo impulso. Outro motivo para a firmeza observada na B3.
Certamente o ritmo de escoamento de carne no atacado será substancial para o equilíbrio dos preços. Apesar da retomada lenta da economia desde o início de 2018, a forte competição com as carnes concorrentes (frango e suíno) tem abalado o potencial de consumo da carne bovina, mas a expectativa ainda é positiva para a demanda no 2º semestre.
Isso porque, ao mesmo tempo em que as eleições promovem incertezas sobre o futuro cenário político e econômico, também alimentam uma expectativa de maior volume pontual de dinheiro circulando na economia, de forma a estimular o consumo doméstico.
O fato é que a demanda deve continuar gradualmente avançando ao longo do ano e, dependendo do seu desempenho, associado ainda aos ajustes de produção pela indústria, pode levar a reajustes positivos do preço da carne no atacado, com efeitos diretos as cotações do boi gordo.
Neste sentido, a sazonalidade de preços no atacado aponta para aquecimento dos preços a partir de junho, e ainda com maior força no segundo semestre (gráfico 2).
Vale destacar ainda o papel das exportações e a competitividade das outras proteínas no atacado.
Como exemplo podemos citar dado divulgado pela Minerva Foods, que aumentou em 30% o volume de abates neste primeiro trimestre de 2018, acompanhado ainda de uma ampliação em 56,4% das exportações no mesmo período.
Para o segundo semestre espera-se continuidade do bom desempenho das exportações brasileiras, auxiliando na sustentação dos preços praticados.
Por fim, a pior competividade da carne bovina frente a outras proteínas colabora para o lento escoamento (especialmente de cortes bovinos mais baratos).
A relação com a carcaça especial suína voltou aos piores patamares dos últimos anos, retornando aos níveis registrados em abril de 2016 e no mesmo mês em 2015 (gráfico 3).
Mas a recente notícia de abertura do mercado sul-coreano e possíveis ajustes da produção (também com influência de maiores custos com a dieta), podem levar a um distanciamento menor entre os preços das duas carnes.
A mesma projeção é esperada para a relação entre o valor do boi casado e do frango resfriado no atacado. Este ano o mercado atingiu sua pior relação em mais de 10 anos, com queda do preço do frango pelo embargo de 20 plantas autorizadas para exportação a EU.
Porém, o desequilíbrio causado pela suspensão das plantas após a deflagração da operação Trapaça da PF do dia 5 de março, deverá ser restituído no curto prazo, dado o rápido potencial de ajuste da indústria avícola.
Portanto, a perspectiva é altista para o valor da arroba do boi com uma oferta menor de animais terminados a partir de junho (acentuado ainda pelo possível menor volume de bovinos confinados).
Além disso, o spread da indústria poderá ficar mais estreito no curto prazo, mas pode ser amenizado caso se confirme reajustes no atacado ao longo dos próximos meses, permitindo preços pecuários mais elevados. Espera-se ainda uma melhor competitividade entre a carne bovina e as outras proteínas, já que aparentemente sua relação alcançou os piores níveis históricos e as variáveis devem se ajustar.
Por fim, o maior motivo de preocupação é o impacto do milho na receita da engorda intensiva, que deverá prejudicar o volume de animais oferecidos no segundo semestre e pode firmar as cotações. A Bolsa já indica esse cenário e volta a apresentar oportunidades interessantes de negócios.
Um abraço e até a próxima semana!