Agricultores brasileiros estão comprometendo milho de 2019 antes mesmo da conclusão da colheita de 2018, com o acentuado aumento dos preços incentivando os negócios, já que uma seca reduziu a produção da Argentina assim como das plantações do Brasil.
“Eu tenho vendido mais do meu milho de 2019 do que o produto deste ano”, disse o produtor Jeferson Milanez Bif.
Até agora ele vendeu a maior parte da sua próxima safra adiantado, um nível sem precedentes de vendas antecipadas, afirmou Bif à Reuters durante a expedição técnica Rally da Safra, que começou esta semana em Mato Grosso, maior Estado produtor de grãos do Brasil.
Os futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago subiram mais de 12 por cento desde o começo do ano e estão quase em uma máxima de dois anos a 3,9525 dólares por bushel.
Eder Bueno, outro agricultor da região norte de Mato Grosso, disse que está adotando uma estratégia similar a de Bif.
A segunda safra de milho brasileira, que é plantada após a soja, representa cerca de 70 por cento da produção inteira do país e o torna o terceiro maior produtor do mundo do cereal, depois dos Estados Unidos e da China.
A Agroconsult, organizadora do Rally, estima uma queda de 12 por cento na produção da segunda safra de milho do Brasil este ano, para 60,2 milhões de toneladas, uma projeção que deve ser revisada ainda mais para baixo, disse André Debastiani, um sócio da consultora.
Apesar das vendas futuras estarem acelerando, produtores estão sentando em cima da safra deste ano, na esperança de que os preços subam ainda mais.
Como resultado, processadores de alimentos e indústrias de carnes do Brasil estão tendo dificuldade para achar vendedores de milho a preços razoáveis nesta temporada.
A Cooperativa Aurora Alimentos vem reclamando há semanas de “retenção especulativa” do milho no Sul do Brasil.
Mais movimento cambial e problemas em potencial com o milho produzido nos Estados Unidos podem levar os preços a níveis mais altos ainda, disse Debastiani, acrescentando que espera que a área de milho do Brasil aumente no ano que vem.
Os preços do milho subiram 26 por cento neste ano, de acordo com dados da Esalq/USP.
“Criadores de frango me ligam em desespero do Sul (do Brasil) tentando comprar milho”, disse o agricultor do Mato Grosso, José Eduardo Soares, que acertou 20 mil sacas do seu milho 2019 para a Cargill em troca de fertilizante.
Em março, a Reuters teve conhecimento de que a JBS SA, a maior processadora de carne do mundo, estava importando milho conforme os preços internos disparavam.
Tarso Veloso, um analista na consultora AgResource, disse que o tempo seco no Sul do Brasil deve prejudicar mais o milho este ano do que em 2016, em referência à pior seca recente.
A Agroconsult estima o déficit de milho no mercado doméstico durante a primeira metade de 2018 em torno de 4 milhões de toneladas, antes de a colheita da segunda safra chegar ao mercado. (Reuters)