Parte das 167 unidades produtoras de carnes de aves e suína do Brasil que pararam a produção devido aos protestos de caminhoneiros deverá retomar gradativamente a produção a partir de quarta-feira, em um primeiro sinal de que as atividades das indústrias do agronegócio, fortemente afetadas pelos bloqueios de rodovias, podem estar voltando ao normal.
A informação foi divulgada no início da noite pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as empresas, enquanto o abastecimento de combustíveis apresentou melhoras em alguns Estados, com a redução do movimento dos caminhoneiros, que completou nove dias nesta terça-feira.
Contudo, a ABPA afirmou que a retomada ocorrerá apesar de ainda serem registrados bloqueios em rodovias, que impedem a circulação de animais vivos, rações, carnes e diversos outros produtos no país, desde a semana passada.
A Cooperativa Central Aurora Alimentos, terceira maior produtora de carnes de aves e suínos do Brasil, informou nesta terça-feira que decidiu pela retomada gradual das atividades em todas as suas plantas industriais de aves e suínos, a partir de quarta-feira.
“Toda a força de trabalho da Aurora, no campo e nas cidades, foi convocada para restabelecer os fluxos de produção e trabalho”, afirmou a cooperativa em nota.
Apenas a indústria nacional de carnes de aves e suínos deixou de exportar de 135 mil toneladas desde o início da greve, segundo a ABPA.
Mas o prejuízo do setor agropecuário é bem maior. Somente os produtores rurais, sem considerar as indústrias e fornecedores de insumos, tiveram perdas de 6,6 bilhões de reais em decorrência dos protestos de caminhoneiros, estimou nesta terça-feira a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
As manifestações também geraram grandes problemas na exportação, especialmente de soja, o principal produto que o país vende ao exterior.
Sem estoques nos portos, algumas empresas exportadoras de commodities com operações no Brasil já estão analisando a possibilidade de declarar “força maior” nos embarques de soja, disse à Reuters um representante do setor.
Já o setor de café estimou em 70 milhões de reais as perdas diárias com os bloqueios.
“O café está passando por um momento muito difícil, pois as empresas em geral nesta semana têm declarado que estão com a produção parada”, afirmou o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.
Outros setores do agronegócio, como o de suco de laranja e cana-de-açúcar, foram fortemente afetados. Na véspera, a associação das indústrias de açúcar e etanol, a Unica, afirmou que todas as empresas parariam completamente nesta terça-feira.
A indústria de carne bovina informou na segunda-feira que mais de 100 unidades pararam, e que o setor deixou de exportar 40 mil toneladas desde o início dos protestos.
Os protestos ainda devem elevar os custos de produção de carnes, segundo a ABPA.
“Com menor oferta de produtos, mas com a mesma carga tributária, mesmo custo operacional e possível alta nos insumos para a produção industrial, ficará mais caro produzir. Estima-se que os custos para a recuperação da normalidade do processo deverão ser 30 por cento acima do anteriormente praticado”, afirmou a ABPA.
Os protestos dos caminhoneiros perderam força após a categoria conseguir quase toda sua pauta de reivindicação, que tinha na redução do custo do diesel o principal ponto. (DCI)