Nos últimos meses, a pecuária de corte argentina foi um dos destaques positivos dos noticiários que acompanham a pecuária de corte – incluindo este portal DBO – ao conseguir elevar consideravelmente as exportações de carne bovina este ano, sobretudo para a China. No entanto, nem tudo são flores quando se analisa mais profundamente o atual comportamento do mercado pecuário argentino.

Dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da República Argentina (Ciccra) revelam uma tendência preocupante na atividade de cria: no acumulado de janeiro a setembro de 2019, a participação de fêmeas nos abates totais de bovinos atingiu quase 50% (exatamente, 49,1%), taxa poucas vezes vista no país do churrasco e 4,2% acima do percentual verificado em igual período do ano passado (44,9%).

A última vez que o percentual de abate de fêmeas bateu o patamar próximo a 50% na Argentina foi em 2009 – 49,5%. Depois, entre 2010 e 2018, a taxa oscilou na casa de 40-45%.

Segundo editorial publicado no relatório mais recente da Ciccra, as incertezas sobre o futuro da economia geradas pelas eleições presidenciais na Argentina (com possibilidade de vitória no primeiro turno do candidato da oposição, Alberto Fernández) e a queda de lucratividade no setor de criação explicam o crescimento dos abates de fêmeas neste ano.

Esses dois fatores, ressalta a entidade, levaram os pecuaristas a desovar os estoques de fêmeas ao longo dos últimos meses.

De acordo com a Ciccra, no acumulado até setembro, abate de fêmeas cresceu 10,8% (ou +485,9 mil cabeças), na comparação com igual período de 2018. Em contrapartida, o abate de machos diminuiu 6,3% (ou -345,6 mil cabeças) na mesma base de comparação.

Em setembro passado, a participação de fêmeas no abate total de bovinos na Argentina atingiu 46,4%, 1 ponto percentual acima da taxa observada em setembro de 2018. Enquanto isso, o abate de machos registrou variação positiva em setembro último, após dez meses consecutivos de retração. Entre setembro de 2018 e setembro de 2019, as matanças de machos cresceram 15%.

No total, a indústria argentina abateu 1,205 milhão de cabeças em setembro, um avanço de 16,7% sobre igual mês de 2018.

Considerando as matanças no terceiro trimestre deste ano, o abate de fêmeas totalizou 1,74 milhão de cabeças, um avanço de 18% sobre igual período do passado. Nesse período, a participação de fêmeas no abate foi de 47,4%, 3,5 pontos percentuais acima da taxa verificada no terceiro trimestre do ano passado – foi a maior fatia desde o terceiro trimestre de 2009.

No geral, no acumulado do terceiro trimestre de 2019, foram abatidos 3,66 milhões de cabeças, aumento de 9,3% (ou +312,9 mil cabeças) na comparação com julho-setembro de 2018. Dessa forma, a indústria frigorífica argentina atingiu o maior nível de abate dos últimos dez anos. (Portal DBO)