Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto

 

Em 03 de agosto de 2018, o Ministério da Agricultura da China confirmou o primeiro caso de Peste Suína Africana (PSA) no país, identificado na província de Liaoning. Entre agosto e dezembro, outras dezenas de surtos foram registrados em diferentes regiões.

Há especulações sobre como o vírus teria chegado ao país. Em abril de 2018, a China incorporou tarifas à carne suína dos Estados Unidos. E como alternativa, os chineses passaram a importar 240 mil toneladas de carne siberiana da Rússia. Em 2017, houve surtos de PSA na Sibéria. Portanto, há possibilidade de o vírus ter chegado à China através de tal via.

A PSA é altamente contagiosa e fatal aos suínos, podendo ser transmitida por suínos vivos ou mortos, carrapatos, carne suína congelada (fresca ou refrigerada), alimentação, veículos, entre outros. Não há vacina ou cura.

Para tentar controlar a proliferação da doença, o governo chinês interditou o transporte de suínos nas províncias com casos registrados e nas regiões de fronteira, impedindo que as áreas produtoras atendessem as regiões consumidoras. Assim, os preços da carne suína mostram grande variação, dependendo da província/região.

Em regiões não afetadas, os preços sobem. Em regiões afetadas, há queda de preços.

 

Dado seu alto grau de transmissibilidade, as medidas tomadas pelo governo chinês não têm sido suficientes para controlar a disseminação da doença. Até o momento, são mais de 80 surtos registrados em mais de 21 províncias. Além disso, oficialmente, mais de 600.000 suínos já foram sacrificados. O número real pode estar bem acima disso.

Para se ter ideia da dimensão do problema, a produção e o rebanho de suínos da China representa mais da metade do total produzido no mundo. E mesmo em condições normais, a China tem necessidade importar volumes extras de carne suína para conseguir atender a demanda de mais de 1,386 bilhão de habitantes.

O abate de animais, dentre eles fêmeas matrizes, a aversão ao risco de continuar na atividade e a insegurança alimentar deverão fazer com o rebanho de suínos diminua e, consequentemente, a demanda por grãos também esfrie até o controle da doença.

Projeções preliminares sugerem uma queda de 15% para o rebanho suíno chinês em 2019 e outros 15% de redução em 2020. Um enorme problema!

A carne suína compõe 61% da dieta de proteína animal chinesa e as importações desta carne de outros países não serão suficientes para suprir a demanda total, especialmente nos primeiros meses de adaptação. Assim, fontes alternativas de proteínas serão impactadas, como as cadeias de frango, bovina, frutos do mar, ovinos etc.

Entre as substitutas, a carne de frango provavelmente será a mais beneficiada, pois é a principal concorrente, tem um ciclo de produção mais curto e é amplamente aceita pela população chinesa. O Brasil enviou aproximadamente 600 mil toneladas de carne de frango in natura a China entre janeiro e novembro deste ano, mesmo patamar de 2017.

A carne bovina também será responsável por cobrir este buraco de oferta. A China deverá manter firmes as importações da proteína, dado que a produção de carne bovina interna está estagnada há anos e o consumo segue crescente.

Os volumes médios de carne bovina in natura importados em 2018 avançaram 34% quando comparados com 2017. O Brasil, em outubro/18, foi responsável por 38% das compras chinesas. E os países da América do Sul (com destaque para o Brasil), Austrália, Nova Zelândia e países europeus deverão atender o mercado asiático.

Os embarques de carne suína brasileira estiveram aquecidos ao longo desta temporada, com as exportações subindo 94% no acumulado dos 11 primeiros meses de 2018 ante 2017. Apenas no primeiro mês deste ano, em janeiro, o Brasil enviou 25 mil toneladas de carne suína, volume 74% maior do que a média do mesmo período em 2017.

É possível concluir que a queda de produção de suínos na China influenciará as exportações brasileiras de proteína animal, posto que ela é a maior parceira comercial do Brasil nesta cadeia. Outro fator que influenciará os embarques no próximo ano é o fato da Rússia ter retirado o embargo das carnes suína e bovina brasileiras, o que deve ser um fator de suporte aos embarques do país.