Gustavo Machado é consultor pela Agrifatto
As exportações em alta e o consumo interno em recuperação queda para o preço da arroba em menor grau do que aquele usualmente visto em períodos de safra até o momento, mas espera-se que a pressão negativa ganha força com as pastagens gradualmente perdendo capacidade de suporte.
Além disso, apenas o valor da arroba não significa sozinha uma boa referência de preços, especialmente com a recente alta do preço do milho.
Para o confinamento, por exemplo, os custos subiram 15% enquanto o preço do boi gordo caiu 1%.
Por isso, para projetar a tendência da relação de troca nos próximos meses, utilizamos os preços futuros na B3 (antiga BM&F) para os contratos do boi gordo e do milho.
No primeiro trimestre do ano, a alta do indicador do CEPEA em SP apertou a relação de troca, que caiu 14% entre fevereiro e março.
A queda do poder de compra aconteceu de forma mais comedida em outras regiões do que em SP, pela diferença entre a relação de oferta e demanda de cada estado.
Além disso, o fortalecimento do indicador do milho foi gradualmente sendo transferida para os outros estados, enquanto que o diferencial de base para o preço do boi gordo se ajustou nos primeiros meses deste ano.
Ou seja, enquanto o preço do animal terminado em outras regiões se aproximava do valor praticado em SP, as cotações do cereal nas praças paulistas subiam de forma mais rápida que em outras regiões.
Este cenário pode ser mais facilmente observado em Goiás, região em que a queda da relação de troca nos primeiros meses do ano foi menos acentuada (gráfico 2).
Os preços do milho ainda não estão definidos, e o mercado climático neste momento da safrinha contribui para volatilidade alta das cotações.
Por enquanto o cenário aponta para ajustes de preços, com a maior oferta pela safrinha puxando os valores para um novo equilíbrio, em patamares menores, bem como os problemas com a indústria avícola e a Operação Trapaça.
Já para os preços pecuários, espera-se uma entressafra associada com o fortalecimento do consumo interno, pressionando positivamente os abates.
Ou seja, a projeção aqui apresentada para a relação de troca do pecuarista em outubro, por exemplo, levou em consideração o contrato do boi gordo cotado a R$ 147,70/@ do dia 19/04.
Mas se os valores sofrerem reajustes podem retornar ao nível de R$ 150,00/@ (que prevaleceu nos primeiros meses do ano), e ampliar o poder de compra do pecuarista.
Por enquanto o mercado futuro indica que a melhor relação de troca do ano pode ter sido em janeiro/18 para a maioria das regiões.
A exceção pode ficar para o MT, onde o recuo do preço do milho é maior neste estado, em virtude da oferta expressiva. Assim, no momento da colheita, o pecuarista deve conseguir melhor relação de troca entre boi gordo por sacas de milho.
Em GO e no MS as tendências seguiram-se similares, com GO exibindo ainda uma relação de troca timidamente mais positiva.
Por fim, as estimativas apontam que o mercado está passando pelo período de menor poder de compra, já que o valor da arroba bovina segue em viés negativo e as cotações do milho estão sustentadas.
De forma positiva, os dados também indicam melhora desta relação de troca em todos o país, que pode aumentar à medida que o consumo interno avance, já a demanda doméstica é o principal fator limitando o equilíbrio dos preços pecuários em níveis mais altos.
Enquanto que problemas climáticos no desenvolvimento da segunda safra de milho nesta temporada, podem elevar os preços do cereal, encarecer a dieta animal e prejudicar o poder de compra.