Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Sabe-se que o clima quente e seco alterou a dinâmica de preços do mercado agro, impactando a produção de soja nesta temporada, reduzindo o suporte das pastagens para engorda dos animais e gerando, neste momento, tensões com relação ao desempenho da safrinha de milho.
A região ao norte da Bahia e de Minas Gerais, além do Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná, foram as regiões mais comprometidas pela estiagem.
A partir de novembro, as chuvas já se mostraram menores no Paraná. No MS, dezembro se configurou problemático, registrando o 5º pior desempenho de chuvas para este mês em quase 40 anos – atrás apenas de dezembro de 1980, 1990, 2008 e 2012.
Esse cenário não foi diferente em muitas outras regiões produtoras. No Mato Grosso, a precipitação ficou abaixo da média histórica em dezembro e ainda mais baixa em janeiro. Em Goiás, as chuvas vêm registrando patamares abaixo da média desde novembro.
É nesse ambiente de risco climático que avança a semeadura do milho safrinha. E o ritmo recorde nesta temporada amplia o plantio dentro de janela ideal – fator positivo para mitigar o risco por falta de chuvas.
Neste sentido, o país já semeou mais de 50% da área estimada para esta temporada – neste mesmo período do ano passado, a proporção ficava em torno de 35%. O Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada) calcula que 74,20% de área do MT já tenha sido plantada.
No Paraná, a proporção fica em torno de 47% (Deral), em 50% em Goiás (Ifag) e no Mato Grosso do Sul, os trabalhos em campo ficam em 30,90% (Famasul).
O fato é positivo, mas não determinante para o sucesso da lavoura.
O período prolongado de tempo quente e seco em abril e/ou maio ainda tem potencial para gerar perdas. E dada a perspectiva de demanda aquecida neste ano, este cenário poderia levar nova pressão positiva às cotações.
Mas as estimativas de prazo mais longo ainda serão revistas. Um ponto importante é que os mapas climáticos têm apontado para volumes de chuvas acima da média para março.
Por enquanto é cedo para afirmar perdas nas lavouras, mas o risco existe. Ou seja, o retorno de período mais úmido é especialmente importante para desenhar uma safrinha cheia, o que poderia levar a recuo mais expressivo dos preços neste ano.
Aliás, o mercado futuro também reflete este cenário indefinido. Na última quinta-feira (14/fev), os contratos testaram as cotações e alteraram entre o campo positivo e o negativo várias vezes ao longo do dia.
O mercado físico continua sustentado, com o indicador do CEPEA subindo 20% desde o início de novembro e superando a barreira de R$ 40,00/sc na última semana.
Produtores retraídos, especulação climática e fretes valorizados deram o tom da alta, e segundo a B3 (antiga BM&F), as referências devem ficar balizadas entre R$ 38,50 e R$ 41,00/sc nos próximos 3 meses.
Para o segundo semestre, a bolsa aponta para parciais em torno de R$ 36,00/sc. Mas a recomposição dos estoques pela safrinha pode acomodar a curva futura – graficamente há resistência em patamares abaixo de R$ 34,00/sc. Em caso de problemas climáticos, a valorização teria resistência mais forte em superar R$ 39,00/sc.
Este é um possível intervalo de preços neste ambiente ainda incerto.