O Produto Interno Bruto da agropecuária do Brasil, que considera somente a chamada produção dentro da porteira, deverá crescer entre 3% e 4% em 2020, com o impulso de esperadas safras recordes de soja e milho, além da forte atividade dos segmentos de bovinos e suínos, estimou nesta quarta-feira um especialista da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
Essa estimativa feita por uma das principais organizações do setor no país considera metodologia semelhante à do IBGE, que nesta quarta-feira divulgou um crescimento de 1,3% no PIB da agropecuária em 2019.
A CNA faz uma pesquisa mais abrangente, considerando o PIB do agronegócio —que inclui as indústrias do segmento, como as de insumos—, para o qual prevê um crescimento de 2,5% a 3% em 2020, ante um acumulado até novembro de 2019 de aumento de 2,3%, disse à Reuters o assessor técnico do Núcleo Econômico da CNA, Paulo Camuri.
Para 2020, o cenário para o segmento da pecuária segue positivo após um excepcional 2019, impulsionado pela demanda da China, com uma expectativa de aumento no Valor Bruto da Produção neste ano de 8,7%, puxado por bovinos e suínos.
O ramo agrícola, que responde por cerca de 65% do valor da agropecuária nacional, deve ter alta de cerca de 10% no VBP, impulsionado por soja e milho, após uma queda de 3% no indicador em 2019, devido ao recuo na safra e preços da soja, o principal produto do setor.
Isso resultará em um aumento médio do valor total da produção agropecuária nacional de 9,7% neste ano.
“O milho deve ter mesmo patamar de produção, mas com aumento significativo de preços, estamos esperando um aumento de cerca de 20% no valor bruto da produção (de milho). Para a soja, prevemos alta na produção bastante significativa… com bons preços, estamos prevendo alta de 11% no VBP”, disse Camuri.
“Isso sem considerar novos impactos do coronavírus (fora da China)… O mercado ainda não está precificando um avanço do coronavírus fora da China”, ponderou ele.
Ele explicou que a CNA está vendo um crescimento de 1,5% para a economia brasileira como um todo, numa análise que não considera impacto do avanço do coronavírus para fora da China. A avaliação também considera uma recuperação da economia chinesa no segundo semestre.
DÓLAR E CUSTOS
Camuri ressaltou que o coronavírus acaba impactando os preços das commodities agrícolas, além dos custos de produção por meio do dólar mais forte frente ao real.
Os custos ficam mais altos, uma vez que a maior parte dos insumos são importados, como os fertilizantes.
“A incerteza do coronavírus tem levado à alta do dólar, estamos em momento de pré-custeio (da nova safra)… estamos com grande risco de na hora da compra do insumo pegar um câmbio alto (dólar mais alto) e na hora de vender o produto agrícola um câmbio menor”, disse ele.
A moeda norte-americana fechou acima de 4,50 reais pela primeira vez na história, na véspera. Até terça-feira, o dólar havia subido mais de 12% no acumulado do ano, em termos nominais.
“Por isso temos alertado os produtores para a gestão de risco, o câmbio está alto, em vez de esperar para vender, aguardando alta, estamos recomendando ‘barter’ (venda futura de produto por meio da troca por insumos), para ter uma proteção cambial…”, disse ele, lembrando que cerca de 80% do fertilizante consumido no país é importado.
Alguns produtores, contudo, conseguem se beneficiar de preços em reais mais altos, com influência dos ganhos da moeda norte-americana, que torna o produto brasileiro mais competitivo no mercado externo.
Para 2020, a CNA ainda aponta influência de um forte aumento na produção de café do Brasil, de cerca de 30%, por causa da bianualidade positiva do arábica, embora exista expectativa de queda dos preços pela maior produção no principal exportador global.
Na cana, a safra de deve crescer ligeiramente, mas a entidade espera uma acomodação de preços. (Reuters)