O Produto Interno Bruto (PIB) da Grã-Bretanha registrou queda de 9,9% em 2020, uma baixa sem precedentes, devido ao impacto da pandemia de coronavírus que paralisou setores inteiros durante meses, anunciou nesta sexta-feira o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS).
No quarto trimestre, a economia britânica cresceu 1,0%, depois de um avanço de 16,1% registrado no terceiro trimestre.
De outubro a dezembro “aconteceu um aumento da atividade dos serviços, produção e construção, mas continuou sendo inferior aos níveis prévios à pandemia”, explicou o ONS.
De acordo com a instituição, este é o maior retrocesso anual registrado desde o início das estatísticas sobre a economia britânica. A queda do PIB do ano passado foi mais que o dobro da contração de 2009, provocada pela crise financeira.
Em novembro, o confinamento em vigor na Inglaterra e as restrições em outras regiões britânicas provocaram uma nova queda do PIB de 2,3%.
O fechamento de bares, restaurantes, hotéis e outros serviços, assim como a paralisação de empresas vinculadas aos setores de arte e entretenimento, teve um peso negativo importante na economia.
As compras de Natal e a flexibilização de parte das restrições no início de dezembro conseguiram estimular levemente a economia e o setor de bens e serviços, embora as restrições tenham retornado na segunda metade do mês e, com elas, as cifras negativas.
“Apesar de alguns sinais importantes da capacidade de resistência da economia durante o inverno, vemos que o confinamento atual”, que continuou em janeiro e fevereiro e ao qual se uniu o fechamento das escolas, “continua a ter um impacto significativo em muitas pessoas e em muitas empresas”, disse o ministro britânico das Finanças, Rishi Sunak, em um comunicado.
O ministro afirmou que no início de março vai anunciar medidas para apoiar o emprego e a economia “na próxima fase da pandemia”.
Thomas Pugh, da Capital Economics, observou que “a economia do Reino Unido ficou para trás em relação ao G7 no quarto trimestre”. “Em comparação, o PIB americano foi apenas 2,5% menor no quarto trimestre em relação ao nível do ano anterior, o da Alemanha apenas 3,9%, 5,0% para a França e 6,6% para a Itália”, apontou.
Para Pugh, esse “desempenho inferior” deve ser atribuído principalmente ao baixo consumo das famílias. Ele estima que os governos no exterior têm feito mais para estimulá-lo, por exemplo, com um corte do IVA na Alemanha e cheques enviados às famílias pelo governo dos Estados Unidos.
“As famílias britânicas também conseguiram trabalhar mais em casa do que as de outros países, principalmente devido aos baixos níveis de emprego no setor manufatureiro”, constatou Pugh, o que pesou sobre o setor dos transportes.
“Projetamos queda do PIB de 5% em janeiro e de 3,5% no primeiro trimestre” por conta do confinamento atual, acrescentou Pugh, que acredita, porém, numa recuperação a partir do segundo trimestre graças à rápida campanha de vacinação e à poupança acumulada pelas famílias.
Para James Smith, economista do ING, a recuperação esperada no segundo trimestre significa que é improvável que o Banco da Inglaterra decida reduzir sua taxa básica em território negativo, mesmo que tenha reduzido significativamente no início de fevereiro sua previsão de crescimento para este ano, a 5%.
O Reino Unido também enfrenta o Brexit, que se tornou realidade em 1º de janeiro. Causa problemas logísticos, burocráticos e fiscais que dificultam a atividade de muitas empresas.
Além disso, o poderoso setor financeiro britânico está atualmente vendo sua participação de mercado cair em comparação com outros mercados europeus, segundo vários estudos. (Istoé)