Por: Marco Guimarães
O primeiro caso de peste suína africana (PSA) na China foi registrado no dia 03 de agosto na cidade de Shenyang, na província de Liaoning. Após isso, houve mais de 40 surtos em outras 10 províncias ou cidades-municípios.
No dia 20/out foi registrado, pela primeira vez, um caso fora das províncias das regiões Norte e Oeste. Duas pequenas fazendas em Zhaotong, uma cidade na província de Yunnan, região sudoeste, registraram mortes de 545 suínos infectados pelo vírus. Aproximadamente 7 mil animais foram abatidos num raio de 3km ao redor das propriedades que registraram os casos.
Segundo Feng Younghui, analista-chefe do portal industrial Shoozhu.com, “a coisa que mais nos preocupava aconteceu”, referindo-se à disseminação da peste da região nordeste para a sudoeste. Zhaotong está a quase 3 mil quilômetros de Shenyang, onde o primeiro surto aconteceu.
A província de Sichuan, que faz fronteira com Yunnan, possui o maior rebanho de suínos da China, abatendo 69 milhões de animais em 2016. Em geral, o Sul da China consome mais carne per capita que o Norte. Por exemplo, as províncias de Sichuan (sudoeste) e Shanxi (norte) consomem 68kg/hab e 20kg/hab, respectivamente.
O analista do Rabobank, Chenjun Pan, disse que “apenas algumas províncias que não confirmaram nenhum caso, mas é muito improvável que estejam limpas. Basicamente, ele (o vírus) já está em toda parte”.
A China está entrando no período de produção de suínos para o feriado de Ano Novo, que acontecerá no início de fevereiro/2019. Assim, o Ministério da Agricultura alertou que os preços dos suínos irão subir até o festival, que é o período de maior demanda por carne.
O governo chinês havia proibido o transporte de suínos e alimentos que pudessem transmitir a peste suína, tanto nas províncias infectadas quanto nas suas vizinhas de fronteira.
Entretanto, para Chanjun Pan, as restrições de transporte seriam o pior cenário, posto que Guangxi (província vizinha a Yunnan) é um importante fornecedor para Guangdong, província mais populosa da China.
As proibições de transporte impostas impediram que a produção do Norte atendesse a demanda da região Sul, causando distorções nas cotações. Os preços em Zhejiang subiram para 20 iuanes/kg (US$ 2,88/kg). Já em Liaoning, caíram para 10 iuanes/kg (US$ 1,44/kg).
A partir da linha tempo (figura 2), é possível compreender a cronologia dos surtos e as regiões geográficas afetadas.
A peste suína africana, segundo especialistas norte-americanos, pode diminuir em 30% o rebanho de suínos da China, impactando em uma diminuição de 130 milhões de animais. A China representa, segundo a OCDE, 56% do rebanho mundial de porcos, com 433 milhões de animais.
Da produção global de carne suína, apenas 7,5% se destina à exportação. Portanto, uma redução severa no número de animais chineses impactaria toda a cadeia global de proteína animal.
O consumo de proteína animal per capita chinês é distribuído em: carne suína 61%, carne de frango 25%, bovina 8% e ovina 6%.
Nessa perspectiva, evidencia-se que, caso a situação se agrave, o forte apetite chinês pela carne suína deve ser atendido pelas proteínas substitutas, como a carne bovina e de frango. Destaca-se que neste sentido a carne de frango pode registrar importante participação, por conseguir ampliar sua produção mais rapidamente.