Questionado sobre a morte de milhares de porcos devido à peste suína africana, doença contagiosa que atingiu a China, o criador Sun Dawu suspira e garante que seu trabalho foi “totalmente destruído”.
“É muito doloroso vê-los morrer. Enterramos todos os porcos mortos a cinco metros do chão”, garante, em sua enorme fazenda da província de Hebei, nos arredores de Pequim, enquanto espanta as moscas em seu entorno.
O vírus, que não é perigoso para o homem, mas mortal para os porcos, chegou rapidamente a todas as regiões chinesas e provocou prejuízos econômicos significativos ao setor. Ele também fez o preço da carne, muito consumida na China, disparar.
Sun Dawu se sente impotente e frustrado pela atitude passiva das autoridades e, por isso, decidiu publicar fotos de seus porcos mortos nas redes sociais.
As imagens viralizaram e acabaram levando as autoridades locais a tomar ação.
Mais de um ano depois da aparição da doença, no nordeste do país, os criadores ainda têm dúvidas se devem reconstituir suas reservas de animais.
No caso de Sun Dawu, seus porcos estão em bom estado de saúde, mas foram postos em quarentena, e ele não poderá vendê-los até a segunda metade de 2020 devido às restrições.
“Alguns criadores não se atrevem a declarar que seus animais estão doentes e continuam vendendo tranquilamente”, lamenta Sun.
“Muitos porcos foram levados a frigoríficos ou transportados de caminhão para o sul e o oeste da China (…), fazendo com que a peste suína se espalhasse por todo o país”, garante.
Números desencontrados
Oficialmente, mais de um milhão de animais morreram na China pela doença. Contudo, Dun Dawu, que perdeu oficialmente 15 mil cabeças, considera o dado inferior à realidade. Já o Ministério da Agricultura reconhece oficialmente apenas um caso, na província de Hebei.
Diante da confusão e da desconfiança sobre a veracidade dos dados oficiais, a maioria dos analistas acham que a crise do porco na China não acabou.
O país pode perder 200 milhões de animais, segundo um relatório do banco Rabobank.
Soma-se a esta crise sanitária a preocupação dos dirigentes do país, que temem uma agitação social.
“Historicamente, o aumento dos preços dos alimentos provoca manifestações nas cidades”, aponta Victor Shih, da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos.
Além disso, a guerra comercial entre China e EUA há um ano e meio limita as importações de carne americana.
“O número de porcos em boa saúde continua diminuindo, e a China estará sob pressão para importá-los em massa do exterior, inclusive dos Estados Unidos”, aponta Shih.
O governo chinês anunciou na semana passada aquisições “consideráveis” de carne de porco dos EUA, mas sem dar números.
O país teve que recorrer a 30.000 toneladas de carne congelada de suas reservas estratégicas. E as autoridades anunciaram que concederão subsídios de até 5 milhões de iuanes (US$ 697 mil) para estimular a produção de grandes criadores de gado.
Mas os trabalhadores com quem a AFP falou – relutantes em dar seu nome completo – são céticos.
“Perdi mais de 200.000 iuanes com o abate de mais de cem porcos”, diz Zhang, criador de Hebei.
“Ninguém quer criar porcos, ninguém ousa criar porcos”, diz outro fazendeiro nos arredores de Pequim. (Globo.com)