(Reuters) – Agricultores do Paraná deverão enfrentar tempo seco nesta semana marcada pela liberação do plantio de soja no Estado, um dos maiores produtores da oleaginosa no Brasil, enquanto chuvas favoráveis à semeadura deverão aparecer somente mais para o final do mês, algo que será visto também no Centro-Oeste, principal região produtora do país, segundo especialistas.

A situação na temporada 2019/20 aponta para a possibilidade de uma condição diferente da registrada na safra passada, quando Estados como o Paraná e Mato Grosso tiveram o mais acelerado início dos trabalhos de plantio, beneficiados por umidade adequada.

Um plantio acelerado de soja permite por consequência uma semeadura precoce da segunda safra de milho, plantado logo após a colheita da oleaginosa em boa parte do Brasil. Isso provou-se importante em 2018/19, quando o país teve uma produção recorde do cereal.

“Ano passado, apesar dos problemas climáticos durante a safra, tivemos um início de plantio de soja muito bom, quem plantou nesta época, no oeste, conseguiu plantar em janela boa”, afirmou o economista do Deral, Marcelo Garrido.

Até o dia 17 de setembro de 2018, o Paraná tinha 9% da área projetada semeada, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo paranaense, mas neste ano o Estado praticamente não verá chuva até o dia 20, o que tende a dificultar os trabalhos.

Garrido, do Deral, lembrou que é preciso observar o oeste do Estado, que geralmente inicia o plantio no Paraná, antes de os trabalhos passarem a ser realizados também no norte.

Ele ponderou que, após um longo período de seca, o Paraná teve boas chuvas no início do mês, mas os volumes podem não ter sido suficientes para estabilizar a umidade das lavouras.

“O problema é que estamos vindo de um tempo muito seco… As chuvas na semana passada foram muito boas, mas não suficientes para deixar o solo em condição ideal, necessita de mais chuva para condição perfeita para o plantio.”

O Estado pode plantar soja a partir de quarta-feira, com o fim do vazio sanitário, período em que não pode haver o grão nos campos, para se evitar a proliferação do fungo da ferrugem, que sobrevive em plantas da oleaginosa, segundo o Deral.

Garrido, contudo, não descarta que alguns produtores tenham se arriscado a plantar com a umidade da semana passada. Embora o vazio sanitário dure até terça-feira, se o grão não emergiu, não há impedimento fitossanitário para o plantio.

O Paraná disputa em 2019/20 a segunda posição no ranking de produtores do Brasil com o Rio Grande do Sul, enquanto o Mato Grosso é o líder nacional. A produção dos três Estados combinada, em geral, representa mais da metade da safra do país, o maior exportador global de soja.

Em condições de chuva, boa parte do Centro-Oeste já poderia começar o plantio em meados do mês, com o fim do vazio sanitário, que varia de região para região.

REGULARIZAÇÃO TARDIA

A meteorologista Heloísa Pereira, da Somar, destacou que algumas áreas paranaenses receberam cerca de 30 milímetros de chuvas no início do mês, o que “aninou os produtores”, e que novas precipitações estão previstas para o dia 20, assim como na virada do mês e em outubro.

Toledo, importante município produtor do oeste do Paraná, terá chuvas de mais de 50 milímetros ainda em setembro, seguido de um período sem precipitações, e voltará a ter umidade na virada do mês e início de outubro, segundo dados da Somar.

“Nos últimos dez dias de setembro e primeiros dez dias de outubro, tem condições de chuvas, com acumulados para permitir o plantio da soja.”

Mas ela alertou que, diferentemente do ano passado, quando chuvas influenciadas pelo fenômeno El Niño permitiram um plantio adiantado, em 2019 os modelos apontam que as precipitações levarão mais tempo para se regularizar também no Centro-Oeste e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), destacou Heloísa.

Segundo ela, este ano o padrão climático é o inverso do ano passado. A chuva chega ao Centro-Oeste somente na segunda parte do mês, volta no fim de setembro e início de outubro em algumas áreas, mas são esperadas “janelas” de tempo seco em outubro, em função de uma neutralidade de clima.

“Completamente o contrário do ano passado, deixa uma janela para preocupar o agricultor e depois vem mais chuva”, adicionou, ressaltando que produtores do Matopiba só terão boas precipitações em novembro.

Na avaliação de agricultor Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja, que reúne produtores brasileiros, essas previsões deixam o setor em alerta.

“Isso preocupa bastante, porque pode haver uma semeadura, e neste clima com temperaturas altas a safra pode perder germinação, perder vigor… as chuvas vão acontecer mais em novembro, isso pode afetar a produtividade e o plantio da segunda safra de milho”, disse.