A pandemia de Covid-19 faz especialistas chamarem a atenção de produtores para questões sanitárias importantes na criação de animais. Isso porque, assim como o vírus em questão, provavelmente contraído de animais silvestres, outros microrganismos também são transmissíveis entre rebanhos domesticados e humanos, os chamados vírus zoonóticos.

Segundo a Embrapa, a principal orientação aos produtores e agricultores neste momento é proteger-se. “Por ser uma doença de transmissão de humano para humano, o cuidado nas propriedades está em proteger os trabalhadores, adotando medidas importantes que ajudam inclusive a impedir a entrada de outros vírus ou patógenos na área de produção”, afirma Janice Zanella, pesquisadora e chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves.

Por isso, para combater, ou ao menos desacelerar, a transmissão do vírus SARS-CoV-2, os especialistas recomendam também na produção animal: rotina de limpeza e desinfecção de ambientes, hábito de higiene pessoal, com uso de roupas e equipamentos de proteção individual ao ter contato com pessoas ou ambientes que possam ser vias de contaminação e pouca circulação de pessoas em um mesmo ambiente.

Fornecedor de alimentos, o setor de produção animal é atividade essencial e não pode parar. Para manter a segurança, os especialistas reforçam a importância das boas práticas sanitárias.

“A biosseguridade tem papel fundamental na proteção de rebanhos, granjas e propriedades rurais porque evita a entrada e disseminação de agentes infecciosos e que trazem prejuízos enormes, sejam de ordem de saúde animal, seja econômico”, explica a pesquisadora, que é virologista e atuou na identificação da vacina da Influenza A – H1N1 durante o surto da influenza em suínos, em 2009.

Em menos de 15 anos, doenças importantes ameaçaram a produção de suínos e de aves no mundo e exigiram dos produtores a adoção de medidas de biosseguridade para controle, erradicação e proteção de seus rebanhos.

A maioria das enfermidades foi causada por vírus, alguns zoonóticos (transmissíveis entre humanos e animais), outros não. Um exemplo foi a gripe aviária, causada pelo vírus da influenza aviária H5N1, em 2005, e a gripe suína, em 2009, causado por vírus da Influenza A, o H1N1. Ambos provocam doenças respiratórias em animais e humanos.

Outro vírus da família Coronaviridae e que trouxe perdas econômicas grandes à produção animal é o da PED (Diarreia Epidêmica dos Suínos) e TGE (Gastrenterite Transmissível), que apresentam enfermidades causadas por diferentes vírus dessa família.

“Ambos acometem apenas suínos, nos quais causam doenças altamente contagiosas que provocam diarreia resultando em perdas por mortalidade de leitões e de desempenho”, diz Luizinho Caron, pesquisador e virologista da Embrapa. O PEDV chegou nos Estados Unidos em 2013 e, desde então, tem sido notícia, inclusive no Brasil, devido às perdas econômicas que causa naquele país.

Na avicultura, além do H5N1, outro vírus representa risco à produção é o da Bronquite Infecciosa, outro membro da família CoV e que acomete apenas galinhas. Ele é causador de doença altamente contagiosa e impõe fortes perdas econômicas à avicultura. Nas primeiras semanas de vida das aves, é possível observar coriza, ouvir espirros e as lesões no sistema respiratório afetam o consumo de ração e, por consequência, o desempenho do lote.

Na suinocultura brasileira e norte-americana, emergiu recentemente um agente causador de uma doença vesicular, o Senecavírus. Apesar de não ser uma zoonose, a infecção pelo por esse microrganismo causa lesões vesiculares semelhantes à febre aftosa, doença de controle oficial e de notificação. Por causa disso, o diagnóstico diferencial para aftosa deve ser realizado em laboratório oficial, o que onera a cadeia. (DBO)