O Brasil já conseguiu recuperar boa parte da perda do Produto Interno Bruto (PIB) desde o início da recessão provocada pela pandemia de coronavírus, mas o agravamento da crise sanitária no país não deve permitir uma melhora no ritmo da retomada.
No fim de 2020, o Brasil já tinha recomposto 89,1% da perda do PIB em relação segundo trimestre, quando a economia despencou 9,7% e marcou o pior momento da crise atual, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Em todo o ano passado, o PIB do Brasil recuou 4,1%, a maior queda desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996. Segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), também da FGV, a economia brasileira está em recessão desde o primeiro trimestre do ano passado.
A recuperação do PIB observada ao longo de 2020 – nos últimos três meses do ano, o crescimento chegou a 3,2% na margem – não deve acelerar nos próximos trimestres, porque a piora dos números da pandemia tem potencial para prejudicar o desempenho da atividade econômica neste início de 2021 e fazer com que a crise atual leve mais tempo para ser superada.
Diante do aumento de casos e mortes provocados pela doença, governadores e prefeitos voltaram a adotar medidas restritivas e proibiram o funcionamento de atividades consideradas não essenciais com o objetivo de controlar o avanço da doença e evitar um colapso ainda maior do sistema de saúde.
“A gente chega a 2021 com uma situação que mistura essa nova onda forte (da pandemia) ganhando de goleada da campanha da vacinação”, afirma o superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Jr.
De fato, a expectativa, segundo o levantamento da FGV, é que a recomposição do PIB encerre o segundo trimestre de 2021 em 90%, evidenciando essa lentidão esperada para a economia brasileira.
Efeito Auxílio Emergencial
A injeção de recursos na atividade econômica via Auxílio Emergencial ajuda a explicar essa recuperação rápida no início da crise, mesmo com uma perspectiva pouco favorável mais adiante.
O auxílio despejou R$ 300 bilhões na atividade do país e chegou a 68 milhões de famílias. Neste ano, o governo deve promover uma rodada mais enxuta do programa. O plano seria pagar quatro parcelas de 250 reais para cerca de metade dos beneficiários.
Segundo um levantamento realizado pela consultoria Tendências, a massa de renda no Brasil cresceu 4,6% no ano passado, para R$ 4,331 trilhões, em relação a 2019. Sem o benefício, o país teria colhido uma queda de 1,2% na renda.
Neste ano, a consultoria estima que a nova versão do auxílio deve injetar R$ 40 bilhões na economia, mas, mesmo com esse estímulo, a massa de renda deve recuar 3,7% na comparação com 2020, para R$ 4,17 trilhões.
Dez recessões em 40 anos
Das dez recessões já contabilizadas pelo Codace nos últimos 40 anos, as mais longas duraram 11 trimestres e ocorreram em dois momentos: entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992; e do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016.
Já as recessões mais curtas foram observadas em três momentos: do segundo trimestre de ao terceiro trimestre de 1995; do primeiro trimestre de 2003 ao segundo trimestre de 2003; e do quarto trimestre de 2008 ao primeiro trimestre de 2009. (G1)