Já discorremos bastante neste espaço o que levou à crise atual vivenciada pelo setor pecuário. Complementarmente, a última semana contou com o fechamento de 6 plantas frigoríficas adicionais: plantas do JBS em Coxim – MS, Santa Fé do Sul – SP, Cachoeira Alta -GO e Três Rios – RJ, além de férias coletivas anunciadas para a unidade de Barretos – SP do grupo Minerva e em Pirapozinho – SP, do Navicarnes.

Situação nada confortável para o pecuarista, além de tudo a Bolsa vem precificando valores mais baixos dia após dia. Apenas em 2017 a queda do contrato futuro referente a vencimento em outubro de 2017 já contabiliza queda de -3,7%.

Levando em consideração que a rentabilidade da atividade de confinamento sob tais preços muda dramaticamente, levantamos duas possibilidades principais sobre esses reflexos sobre o volume de animais confinados a temporada 2017.

Possibilidade 1

É a que entendemos ter maior probabilidade de ocorrência no momento. A temporada de 2017 conta com preços ruins, produtores com a reposição comprada em 2016, ou seja, ainda cara, e baixíssimo acesso a financiamentos na prática.

Além disso, o pecuarista que não fez hedge na temporada passada já vem de uma situação também complicada. Seria o segundo ano com margens baixas, quase negativas.

Considerando o preço da reposição 2016, antes da queda, a atividade exclusiva de confinamento está dando prejuízo. Pelos motivos óbvios, tal fato desestimula o produtor nesta temporada, apesar de a tendência maior (longo-prazo) continuar sendo de crescimento.

Os efeitos negativos da queda de preços e de margem seriam sentidos principalmente para quem explora cria, recria e engorda, recria e engorda ou exclusivamente engorda. Nas contas da Agrifatto, isso representa 44% dos produtores brasileiros e 42% do rebanho, ou seja, agentes que vivem um cenário bastante apertado.

A questão é que mesmo considerando que o produtor faça o confinamento estratégico para aliviar as pastagens para a safra 2018, ele está sem caixa para encarar o prejuízo do confinamento, esse é o problema em 2017: o caixa. E como a grande maioria não controla custos nem nada, como vai saber onde pode deixar de desembolsar? Além disso, ninguém quer pagar para aprender.

Nas nossas contas, tal movimento seria capaz de fazer o volume de animais confinados recuar até 13% em 2017.

Gráfico 1. Evolução do volume de animais confinados e projeção 2017.

Evolução do volume de animais confinados e projeção 2017.

Fonte: Agrifatto

Possibilidade 2

Outra perspectiva possível para a projeção é a de que o pecuarista estaria postergando ao máximo a colocação de animais no confinamento à espera de preços melhores. Em resumo, está difícil decidir.

Isso levaria a uma melhora de preços no primeiro/segundo giros, incentivando o segundo/terceiro giros (especialmente por conter maior proporção de bois magros comprados após a queda registrada para a reposição, ou seja, em um momento em que a troca está melhor).

Nesse caso, teríamos uma possibilidade de estabilidade a leve alta para o volume confinado em 2017.
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e consultora da Agrifatto