Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto

A situação está apertada para JBS.

Das dívidas de curto-prazo, há R$ 18 bilhões para acertar contra um caixa de R$ 10 bilhões. Faltam, portanto, R$ 8 bi em um contexto dramático de evasão de recursos e de receitas neste momento. Com a fuga dos fornecedores, o custo fixo deve aumentar, podendo acelerar o desgaste do fluxo de caixa.

Há um risco grande relativo à solvência da empresa, especialmente porque ela deverá enfrentar outros processos jurídicos nos próximos meses e anos.

Lê-se no mercado hoje a afirmação de que é impossível alguém comprar o JBS. Associa-se essa consideração de aquisição a seus concorrentes Marfrg e Minerva, que não teriam musculatura para realizar a aquisição de um monstro como esse. A única solução possível, portanto, seria e que a empresa fosse salva pelo governo.

Considero a análise totalmente míope.

O governo não seria a solução para nossos problemas pelo simples fato de ele mesmo ter sido o causador do que ocorre no momento. O fato é que nos revoltamos com a situação atual, no entanto pedimos mais interferência do Estado. Não faz o menor sentido.

No momento, é necessário reencontrar o equilíbrio de mercado para que as coisas fluam de maneira natural e saudável, sem distorções geradas com o uso de recursos públicos em empresas privadas. Um resgate não seria a solução e, se viesse a ocorrer, manteria o gigante em pé, reforçando o risco que esse tipo de empresa representa ao setor produtivo e ao Brasil.

Pode parecer uma enorme tragédia no momento, mas para o longo-prazo, significa um setor mais equilibrado, competitivo e justo diante do real cenário de mercado.

Na verdade, em caso insolvência, a maior possibilidade é de fatiamento da empresa em companhias menores e focadas em seu produto. Nesse caso, ela seria comprada por diferentes companhias, inclusive grupos internacionais. Isso reduziria a concentração de mercado e certamente reaproximaria o fluxo de investimentos da empresa, colocando o mercado e, especialmente a pecuária, de volta aos seus trilhos.