A oferta de soja às unidades de processamento da oleaginosa na Argentina recuou pela metade e continua caindo, disse nesta sexta-feira a Bolsa de Cereais de Rosario, após municípios desafiarem um decreto do governo e, citando preocupações sanitárias, impedirem caminhões de chegar às plantas de esmagamento.

Prefeitos de dezenas de cidades na região do terminal agroexportador de Rosario bloquearam transportes terrestres em meio ao isolamento (“lockdown”) do país por causa da pandemia de coronavírus. O governo federal pediu que os governos locais desbloqueiem as estradas, mas muitos deles se negaram a fazê-lo, afirmando que a saúde vem antes do comércio.

As interrupções de produção no principal exportador de farelo de soja do mundo podem alterar os fluxos comerciais globais, à medida que importadores, especialmente na Europa e no Sudeste da Ásia, se voltam a rivais como Estados Unidos e Brasil para preencher a lacuna.

“Alguns municípios estão se fechando para caminhões com grãos, enquanto outros estão se abrindo. A situação muda dia após dia, mas o efeito sobre a oferta de soja claramente tem sido negativo para as plantas de esmagamento afetadas”, disse Emilce Terre, economista-chefe da bolsa de Rosario.

Na primeira semana de março, 28.033 caminhões com soja, milho e outras commodities agrícolas chegaram ao porto de Rosario e às fábricas de farelo, segundo dados compilados pela instituição. Esse número despencou para 13.267 nos cinco primeiros dias desta semana.

“A situação está piorando”, afirmou Gustavo Idigoras, presidente da câmara de empresas exportadoras CIARA-CEC.

“Ainda há problemas em diversas províncias onde municípios proibiram a entrada e saída de caminhões com grãos, desafiando as normas estabelecidas pelo governo federal”, acrescentou.

As maiores plantas de esmagamento de soja do mundo estão em Rosario. Elas ficam às margens do rio Paraná, uma hidrovia de onde as cargas são transportadas para o Atlântico Sul. (Reuters)