Por Lygia Pimentel. Médica veterinária, pecuarista e sócio-diretora da Agrifatto.
A crise econômica arrasou com o consumo interno de carne bovina. Sem emprego e com menos dinheiro para gastar, a solução do brasileiro no momento de consumir proteína foi trocar a carne bovina pela carne de frango, algo que já discutimos neste espaço nos últimos dias.
As exportações também não ajudaram muito e vieram abaixo do esperado, como declarou a ABIEC nesta semana. Com isso, os frigoríficos tiraram o pé do acelerador e promoveram um ajuste produtivo.
Gráfico 1.
Evolução anual das exportações de carne bovina brasileira e projeção 2016.
Temos notícias de que o Japão deve reabrir mercado para a carne bovina termoprocessada brasileira e o desenvolvimento esperado para o volume embarcado diretamente para a China aconteceu, mas nada que mude o resultado anual por enquanto.
Com a crise econômica, a consequente queda do consumo per capita de carne bovina e exportações abaixo do esperado, os frigoríficos promoveram um ajuste produtivo. O movimento teve início em março de 2015 através do fechamento de 44 plantas frigoríficas e outras 4 em 2016, movimento que foi refletido sobre o abate total de bovinos no período, que caiu novamente em 2016.
Isso faz com que o rebanho bovino brasileiro salte de 215 milhões em 2015 para 218 milhões em 2016, um aumento de 1,6% de acordo com as projeções da Agrifatto. Em outras palavras, nosso estoque de animais aumentou simplesmente pela redução dos abates, consequência de um ajuste produtivo da indústria em resposta ao baixo consumo.
Gráfico 2.
Variação anual dos abates totais no Brasil e projeção 2016.
Fonte: Agrifatto.
Considerando que a retenção de fêmeas no rebanho bovino brasileiro já acumula quase quatro anos, o inventário de bezerros é maior e, consequentemente, deve aparecer em forma de animais terminados disponíveis para o abate no período dos próximos 2-3 anos.
Isso é um fator negativo para as margens do pecuarista, que deve lidar com essa dificuldade para se manter produtivo nos próximos anos.
Outra questão que complica bastante as contas é que o consumo de carne bovina deve demorar um pouco mais do que o esperado para se recuperar, dada a intensidade da crise política que assola a economia e que complica o ajuste de contas que ajudaria a retomar o equilíbrio fiscal e econômico, voltando a recuperar os índices de desemprego, inflação e poder de compra. O Boletim FOCUS da sexta-feira já trouxe a percepção de crescimento mais fraco para 2017.
O mercado prevê para o País crescimento de 0,80% no próximo ano, abaixo do 0,98% projetado uma semana antes. Há um mês, a expectativa era de 1,20%. Em suas projeções, o BC por enquanto trabalha com retração de 3,3% para o PIB em 2016 e com alta de 1,3% para 2017. Já o Ministério da Fazenda, que projetava avanço de 1,6% para o próximo ano, divulgou uma nova estimativa há duas semanas, de 1%.
Em outras palavras, não haverá colchão de consumo para segurar a fase de baixa do ciclo desta vez, como ocorreu na virada anterior.
Portanto, olho vivo! O próximo ano possui enormes chances de ser triplamente desafiador. Oportunidades de fechar negócios com margem positiva devem ser aproveitadas.
A Agrifatto estará de plantão para deixá-lo a par delas. Boa semana e excelentes negócios!