Toninho Ledesma é engenheiro agrônomo pela ESALQ∕USP

Tempos atrás enviei para Lygia Pimentel e outros profissionais de renome cópia de um relatório da análise gerencial que elaborei em 1.995, referente ao ano de 1.994 de uma grande empresa agropecuária, na qual tive o privilégio de trabalhar e receber treinamento adequado sobre o assunto “ORÇAMENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS”.

Vou fazer um pequeno relato como iniciei na área de “Orçamento e Planejamento”, nesta grande empresa agropecuária:

  • Em 1.992 a empresa contrata a consultoria da empresa CENTRO DE TREINAMENTO DE EXECUTIVOS UNIVERSIDADE – EMPRESA, tendo como diretor o Professor NGUYEN H. TUNG, o qual na época lecionava na FACULDADE DE ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO DA USP em nível de pós-graduação, ele treinou a nossa equipe por aproximadamente 04 a 05 anos;
  • Fui escolhido para assumir a gerência de ORÇAMENTO E PLANEJAMENTO da empresa por indicação do DIRETOR FINANCEIRO da empresa, pois fazíamos previsão trimestral a qual era reavaliada todo mês e meus números orçados eram muito próximos do realizado, no curto prazo é mais fácil acertar o mosquito, além de gostar demais deste assunto – ORÇAMENTO E PLANEJAMENTO desde o tempo que cursava a ESALQ.

Abaixo vou relacionar as recomendações que foram sugeridas na época para que a empresa pudesse ao longo do tempo atingir as metas máximas propostas no sistema de produção adotado, sempre levando em conta a realidade de cada propriedade rural, contávamos entre gerentes e diretores com 04 engenheiros agrônomos e 02 veterinários, área de pastagem em utilização de aproximadamente 66.500 hectares e 92.000 cabeças, em ciclo completo – cria/recria/engorda, considerando o rebanho da empresa e dos acionistas:

  1. Iniciar um programa de adubação e calagem das pastagens, e também melhorar o manejo das mesmas;
  2. Melhorar a infraestrutura: divisão dos pastos, aguadas, cochos de sal mineral e etc.;
  3. Por em prática a suplementação dos bezerros desmamados acima de 160,0 kg de peso vivo;
  4. Estender a suplementação após a desmama para as fêmeas com mais de 140,0 kg de peso vivo, com isso as mesmas atingirão o peso mínimo para entrar em cobertura mais cedo, reduzindo a idade na primeira cria;
  5. Dar continuidade no melhoramento genético do rebanho, principalmente no rebanho da raça nelore, pois sem boas matrizes da raça nelore não se consegue bons produtos oriundo do cruzamento industrial;
  6. Confinar os animais que foram suplementados após a desmama – machos, para que os mesmos sejam abatidos aos 24 meses de idade, pesando em torno de 17,0@, até 02 dentes e ganhando o incentivo de 6,0% sobre o preço, no Programa de Novilho Precoce, no Estado de Mato Grosso do Sul (na época);
  7. Com a prática do confinamento dos animais que foram suplementados após desmama – machos, eliminaremos praticamente 02 (duas) categorias de animais – garrotes de 24 a 36 meses e bois + 36 meses, dando espaço – suporte nas pastagens, e assim aumentarmos o número de fêmeas em reprodução, consequentemente, aumentaremos o número de machos abatidos, vacas e novilhas descartes e novilhas precoces, resultando num considerável aumento da receita e no resultado econômico da empresa;
  1. Referente a comercialização de animais para abate deveremos:
  • Melhorar a venda de vacas e novilhas para abate, caso venhamos a concentrar a venda das mesmas no 2º semestre, como também trabalharemos com uma maior folga de caixa;
  • As Regionais devem informar com mais precisão, o peso dos lotes destinados para o abate – bois gordos, touros, novilhos precoces, vacas e novilhas descartes, novilhas precoces, como também, com maior antecedência;
  1. Apuração do custo padrão:
  • Separar a contabilidade de custo da contabilidade fiscal, pois pode estar distorcendo a apuração do custo padrão da empresa por cabeça, por unidade animal, por kg de peso vivo, por @ de peso morto, por hectare de pastagem em utilização;
  1. Obter maior esforço e colaboração de todos os setores da empresa, como também dos diretores e acionistas.

Analisando os itens acima, vejo que ainda hoje na maioria estas recomendações continuam sendo propostas e utilizadas como forma de melhorar o desempenho econômico e técnico de muitas empresas, as quais tenham como principal exploração econômica a atividade bovinocultura de corte, claro que com algumas mudanças para melhor, mas a grande maioria das empresas – produtores ainda não conseguem se adequar para a nova realidade de quem quer continuar na atividade, pois necessitamos que os mesmos comecem a:

  1. Mudar a maneira de pensar em relação a alguns assuntos, tais como:
  • É impossível comparar bovinocultura de corte de baixa a média tecnologia com agricultura de alta tecnologia – cana, eucalipto, milho, soja;
  • Antes de tudo, o produtor de bovinos de corte é produtor de forragem;
  • Dentro da cadeia produtiva da carne o produtor de bovinos de corte é fornecedor e não cliente em relação ao frigorífico e ao consumidor final, sempre deve estar atento nas necessidades dos clientes, os quais influenciam diretamente no fluxo de caixa e decidirão quem permanece ou não na atividade;
  • Atividade com pequena margem líquida como é o caso da bovinocultura de corte tem que fazer o estoque girar mais rápido, isto somente acontece com o uso de tecnologia em todo o sistema de produção, e para isto ocorrer necessitamos também de colaboradores treinados e comprometidos.
  1. Fazer parcerias para poder agregar valor no produto, participando de associações de produtores e / ou de programas específicos;
  2. Implantar sistema agrosilvipastoril ou integração lavoura – pecuária, analisando o mercado, a logística, a localização das propriedades rurais e o perfil da empresa;
  3. Implantar um sistema de gestão.

E para finalizar:

  1. Palavras que abrem porteiras: “POR FAVOR”, “DÁ LICENÇA” E “MUITO OBRIGADO”;
  2. E como diz o ditado: “QUEM NÃO FAZ POEIRA, COME”;
  3. A decisão está em suas mãos: “VAMOS AO TRABALHO”.

Atenciosamente, um grande abraço para todos e sucesso neste grande desafio que é implantar um sistema de gestão numa empresa agropecuária.