Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Gustavo Rezende Machado é trainee pela Agrifatto

O consumo de carne bovina caiu 7,5 pontos porcentuais entre 2015 e 2016, uma diferença maior que o total de bovinos abatidos, que foi de 0,24% para o mesmo período. Espera-se para 2017 uma boa recuperação, tanto para o consumo interno quanto para o volume de abates, que sempre vem na esteira.

O gráfico 1 relaciona a variação do consumo com os volumes projetados entre 2011 e 2016.

O baixo consumo brasileiro de carne no atacado representou importante resistência ao aumento da arroba do boi gordo entre 2016 e 2017. Além disso, o cenário de baixa demanda trazido pela crise econômica fez com que as indústrias trabalhem com alta capacidade ociosa em suas plantas e programações de abates mais confortáveis, de forma a facilmente testar valores abaixo da referência quando a oferta aumentava ligeiramente.

Ainda pelo gráfico 1, nota-se que no período, após a máxima em 2013, o consumo segue um movimento negativo, com o volume de abates acompanhando a tendência de baixa em uma clara resposta produtiva à menor demanda.

O último ano em que o número total de animais abatidos ficou abaixo do registrado em 2016 foi 2003, com 33,28 milhões de cabeças, e máxima em 2006 com 47,36 milhões de animais (gráfico 2).

Ou seja, uma demanda interna mais forte aumentaria a necessidade produtiva de carne e reduziria a ociosidade das indústrias, trazendo pressão positiva aos preços, com as plantas originando um volume de matéria prima maior para abastecer suas escalas de abates e ofertar mais produto ao atacado. Por consequência, os preços buscariam equilíbrio em patamares mais elevados.

Dando sequência ao desenvolvimento do ciclo pecuário, após 3 anos e meio de retenção de fêmeas, a oferta de animais terminados começa a se mostrar mais significativa e, juntamente com a crise de consumo e as crises pontuais observadas para o mercado pecuário em 2017 (Operação Carne Fraca, delação de Joesley Batista, retorno da cobrança do Funrural, etc), desfavorece o equilíbrio em patamares de preços mais elevados. Como tradicionalmente ocorre em fases de baixa de ciclo, os preços variaram abaixo da inflação.

Por outro lado, há de se considerar que o movimento já está em curso e que todo ciclo tem uma duração determinada. Considerando a relação entre os valores praticados e o número de abates, o gráfico 3 demonstra que a partir do maior número de animais abatidos os preços seguem uma proporção inversa e trabalham em patamares inferiores, devendo reverter tal tendência no prazo de 2-4 anos.

Considerou-se para a análise o período de janeiro de 2002 a setembro desse ano, com os preços deflacionados pelo IGP-DI. Com o volume de abates indicado no eixo da esquerda e os preços no eixo da direita.

Nota-se que entre 2005 e 2007, quando ocorreram as máximas para os números de abates, os preços médios praticados marcaram as mínimas em todo o período analisado. Ou seja, é o ciclo pecuário mais uma vez sendo comprovado através de seus indicadores de desenvolvimento.

A inversão desse cenário também se confirma pelo levantamento, dado que a partir de 2014 existe queda na quantidade de animais abatidos, e máximas para os preços praticados.

Complementarmente, a Agrifatto estima um aumento de 8% para a quantidade de abates em 2017, uma proporção ainda abaixo de 2014, porém aliviando o estoque amplo que se mantinha e confirmando a superação da fase de baixa do ciclo estimada para o biênio 2019∕2020, com a melhora econômica projetada para tal período. Por enquanto, o bom resultado pode ser considerado a menor ociosidade da indústria, o desenvolvimento das exportações e a maior sustentação aos preços da arroba já em 2018.