Com a virada do ciclo da pecuária em curso, os preços pagos aos produtores tendem a melhorar em 2019, avaliam especialistas no setor. Por enquanto, os valores são motivo de reclamação. O acompanhamento da Emater, por exemplo, mostra que a cotação média do quilo vivo no Rio Grande do Sul na semana ficou em R$ 4,74 – 9% abaixo da média de novembro nos últimos cinco anos, a valores corrigidos.
A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, avalia que, pelo lado da demanda, o Brasil deve ter novo incremento nas exportações em 2019 – salvo problemas sanitários ou desentendimentos comerciais com países importadores. O mercado interno começa a se recuperar, mesmo que de forma ainda tímida, movimento que pode ganhar corpo com redução do desemprego e melhora da renda. Por outro lado, a oferta seria afetada pelo grande abate de fêmeas nos últimos anos diante dos preços baixos e da necessidade do pecuarista de fazer caixa, reduzindo agora a produção de terneiros. Assim, a relação entre oferta e demanda pode começar a pender para o pecuarista.
– Estamos projetando um déficit de produção de carne no Brasil que pode chegar a algo entre 1,2 milhão e 1,7 milhão de toneladas – estima Lygia, referindo-se à equação formada pelos fatores abate, exportação, importação e consumo interno.
Desta forma, diz a especialista, os preços pagos ao produtor devem subir acima do avanço dos custos de produção.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Eduardo Eichenberg, diretor do programa Carne Pampa, afirma que essa possível melhora começa aparecer nos leilões de reprodutores. Após o ano de 2017 com médias inferiores a 2016, a impressão é de que os valores estão similares ao ano passado.
– O que vimos é uma boa demanda por touros. No caso do braford, há um movimento de procura por criadores de fora do Rio Grande do Sul, uma vez que essas raças (britânicas e derivações sintéticas) estão se expandindo no Brasil Central para o cruzamento industrial. A curva parece ser ascendente. Se houver melhora na economia, aumento da renda e volta ao trabalho de uma parte dos 12 milhões de desempregados, isso pode se transformar em consumo – projeta Eichenberg.
O presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber, também diz perceber certa recuperação na temporada de remates. Embora ainda não se tenha levantamento oficial sobre médias, o dirigente avalia que os preços dos touros estão um pouco mais altos do que no ano passado e, sobretudo, a liquidez dos eventos indicaria interesse em investir em reprodutores e produzir terneiros.